Lisboa - A Associação entregou ao banco central angolano uma lista de nomes de pessoas que transferiram dinheiro de forma ilegal para o exterior. O antigo presidente José Eduardo dos Santos e o ex-chefe da Casa Civil José Leitão constam da lista que seguirá também para a Justiça angolana.

*Lígia Simões
Fonte: Jornal Economico

‘Mãos Livres’ entregou ao Banco de Angola

A Associação Mãos Livres entregou, no início desta semana, ao Banco Nacional de Angola uma lista com nomes de pessoas que alegadamente transferiram dinheiro de forma ilegal para o exterior. A lista tem nomes como o de José Eduardo dos Santos, números das contas bancárias e as datas de algumas das transferências realizadas supostamente de forma ilícita. Beneficiários particulares terão ficado com 386 milhões de dólares (324 milhões de euros).

 

A notícia é avançada nesta terça-feira, 15 de maio, pelo “Jornal de Angola”, que dá anda conta de um relatório, com mais de 150 páginas, denominado “Fraude em alta escala” com referências ao processo alegadamente ilícito que terá rodeado o contrato da dívida de Angola com a Rússia, em 1996.

 

Já o site angolano “Voa” diz que, entre outros nomes, constam os de José Eduardo dos Santos (ex-presidente da República de Angola), Elísio de Figueiredo (ex-embaixador nas Nações Unidas e em Londres), Joaquim David (deputado do MPLA e antigo ministro da Indústria) e José Leitão (antigo chefe da Casa Civil de José Eduardo dos Santos).

 

O presidente da organização não governamental ‘Mãos Livres’, David Mendes, já indicou que a lista será entregue agora ao Ministério das Finanças e à Procuradoria Geral da República de Angola. Com esta iniciativa, a associação quer auxiliar os órgãos do Estado a colocarem em prática a pretensão do presidente da República angolano, João Lourenço, de recuperar o património que terá saído de forma ilícita do país.

 

O documento sobre fraude “em alta escala” revela, segundo o “Jornal de Angola”, que cidadãos russos e angolanos terão recebido “lucros chorudos” como resultado desta transacção.

 

A Associação Mãos Livres, de ativistas e advogados angolanos, conseguiu localizar números de contas e dinheiros que estão depositados fora e saíram do país de forma ilegal. De acordo com o relatório, a dívida de Angola rondava em cinco mil milhões de dólares (4,2 mil milhões de euros) e foi reduzida para 1, 5 mil milhões de dólares (1,3 mil milhões de euros) após negociações com a Rússia. Deste montante, explicou, 1,3 mil milhões de dólares (mil milhões de euros) foram pagos através de intermediários, e beneficiários particulares terão ficado com 386 milhões de dólares (324 milhões de euros). O documento foi concluído em 2013.

 

Recorde-se que depois de arquivado em abril de 2005, na Suíça, pelo procurador-geral de Genebra Daniel Zappelli, a investigação ressurgiu na forma de um relatório e de uma queixa-crime apresentada em 2013 por cidadãos angolanos e activistas anticorrupção junto da Procuradoria-Geral Federal suíça, na cidade de Berna. Em paralelo, nos tribunais de Luanda, foi apresentada também uma queixa-crime. Adriano Parreira foi um dos cidadãos angolanos desta iniciativa, o mesmo que apresentou queixa contra altas figuras do Estado angolano por fraude fiscal e branqueamento de capitais junto da Procuradoria-Geral da República em Portugal.

 

Recentemente, o secretário para os Assuntos Políticos, Constitucionais e Parlamentares do Presidente da República, Marcy Lopes, disse que o executivo desconhece o valor global do dinheiro domiciliado no exterior.