Lisboa – A predisposição manifestada pelas autoridades angolanas, de ajudar nas despesas da transladação dos restos mortais do Juiz Conselheiro do Tribunal Supremo, Valentim Comboio, falecido na sexta-feira (17), na Alemanha, está a ser encarada como um acto de “cinismo do regime”. Fontes que acompanham o processo disseram ao Club-K, que desde que caiu adoentado as autoridades em Luanda cortaram -lhe o salário deixando-o na condição de indigência, nos últimos tempos.

Fonte: Club-k.net

Autoridades cortaram-lhe o salário há meses

Valentim Comboio, partiu para Portugal no ano passado depois de lhe terem diagnosticado um câncer  tendo ai sido submetido a uma intervenção cirúrgica. Devido a situação do corte de salário, a família em Luanda viu se forçada a hipotecar duas viaturas para arrecadação de fundos para o tratamento em Portugal e ao mesmo tempo para poder ir a Alemanha, país, onde partiu há menos de uma semana e acabando por falecer.

 

O estado de abandono a que o juiz Valentim Comboio esteve sujeito tem levado a interpretações viradas a antigas suspeitas do regime de que tivesse afinidades a UNITA.

 

Natural do Município do Bailundo, província do Huambo, Valentim Comboio, estes perto de ser executado por forças leais ao Presidente José Eduardo dos Santos por alegadas suspeitas de afinidade ao “galo Negro”. Reza a historia que tudo começou quando em 1992, dois coronéis da UNITA foram visto a participar numa cerimonia de pedido de noivado em sua casa, no bairro Cuca. Neste mesmo dia, Luanda foi abalada com confrontos militares entre forças do governo do MPLA e UNITA.

 

Um dos vizinhos de Valentim Comboio, teria denunciado ter visto os dois coronéis da UNITA na festa causando a sua detenção. Foi torturado ao ponto de lhe partirem uma costela e ao ser levado para ser executado nos arredores da estrada de Catete, foi poupado no seguimento de uma intervenção do então Primeiro Ministro, Marcolino Moco, que saiu em sua defesa alegando que Valentim Comboio nada tinha haver com questões políticas.

 

Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, em 1986, o juiz conselheiro Valentim Comboio era mestre em Ciências Jurídico – Empresariais pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e doutorando em Direito Privado pela mesma faculdade. Foi nomeado para o Tribunal Supremo em 2013, depois de concorrer para uma vaga existente.

 

Além da magistratura, Valentim Comboio era docente na Faculdade de Direito da Universidade Independente de Angola, tendo exercido as mesmas funções na Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto entre 2001 e 2003.

 

Depois de ter sido confirmado como juiz do Tribunal Supremo viu-se ignorado pelo então  Presidente José Eduardo dos Santos quando endereçou uma missiva reportando injustiças a que estava a passar. Não recebia regalias que o cargo de magistrado lhe dava direito. Perdeu a casa e estava a viver no chamado complexo “contentores da Samba”, com um quarto apenas.