Londres - "Nunca ambicionei este cargo, e nem esperei permanecer nele tanto tempo"; disse o antigo chefe de Estado angolano no seu último discurso perante a massa militante do MPLA no passado congresso extraordinário do partido que elegeu o actual Presidente da República João Lourenço como novo líder do partido.

Fonte: Club-k.net

E acrescentou, "É de cabeça erguida que estou neste grande conclave do nosso partido".

 

A questão que se coloca, é saber se de facto estas afirmações do antigo chefe de Estado tem realmente mérito e legitimidade diante da opinião pública nacional e internacional.

 

“Deixo o meu modesto legado”, afirmou mais adiante. Mas qual legado?

O de ter transformado Angola num dos maiores exemplos dos chamados "shithole countries"? Um país onde os índices de pobreza, e mortalidade infantil são dos piores do mundo?

 

Não, camarada Presidente Emérito e militante distinto do partido!

 

Como é que um homem depois de reduzir um dos países mais promissores do continente africano para num dos mais corruptos do mundo e levar o país a falência económica, a miséria e a pobreza ainda pode clamar que sai de cabeça erguida?

 

Como é que um homem depois de instaurar o culto de personalidade à sua pessoa, a veneração quase divína da sua imagem e nome, apenas comparados com a Koreia do Norte pode afirmar que deixa o seu legado para o país?

 

Como é que um homem depois de reduzir o seu povo aos nivéis de miséria económica e social mais altos do continente e do mundo pode ter tamanho descaramento de dizer que deixa o poder com o dever cumprido?

Não camarada José Eduardo dos Santos! Assim como dizes teres ficado longo tempo pela força das circunstâncias, também é bem certo que saís empurrado pela força das circunstâncias.

Ora vejamos: Tendo assumido a presidência do MPLA e da então República Popular de Angola a quase quarenta anos, um dos poucos méritos de grande dimensão que se lhe reconhecem tanto pelos seus oponentes críticos e defensores, terá sido sem sombra de dúvidas, ter garantido a preservação da integridade territorial de Cabinda ao Cunene e do mar ao leste, a formação de quadros e a conquista da paz.

Após o fim da guerra civil em 2002, e com o preço do barril de petróleo em alta, José Eduardo dos Santos conduziu um processo de reconstrução nacional de grande dimensão, que catapultariam o país para o conjunto dos países com maiores taxas de crescimento económico no mundo.


Neste mesmo período, como se a sorte dos deuses estivesse também ao seu lado, o país qualificou-se pela primeira vez no campeonato do mundo de futebol realizado na Alemanhã.

De igual modo, o país oragnizou o seu primeiro campeonato africano de futebo, vulgo o CAN 2010. Neste período, iniciaram-se também as caravanas de comerciantes angolanos para o resto do mundo, com destaque para China, India, África do Sul, Namibia e Dubai.

Projetos ambiciosos, como o Kilamba e a requalificação da baía de Luanda entre outros, deram esperanças ao povo martirizado de Angola de que pela primeira vez na história de África, o país poderia ser um exemplo do milagre económico para o resto do continente.

Portanto, para um homem que diz nunca ter esperado permanecer tanto tempo no poder, tinha aqui razões suficientes para se retirar da cena política e com a consciência do seu dever cumprido em 2012.

Com todos estes feitos acima enumerados, até mesmo os seus oponentes e detratores teriam que admitir que o homem mereceria de facto o prémio nobre da paz e todos os títulos que ele quisesse: Presidente Emérito, militante distinto do partido, líder supremo e eterno da nação etc.

Sim, talvés até mesmo um novo mausoléu fosse construído em seu nome e memória.

Mas lamentavelmente não foi assim; te deixaste endeusar pela ambição do poder e perseguiste ferozmente todos aqueles que sussurravam entre os quatros cantos de parede o seu desejo de paz, justiça e desenvolvimento. Dividistes os angolanos entre os de primeira, segunda e terceira categórias e implantastes o concepto de imediatismo. a doutrina da gasosa e corrupção tornaram-se no pão nosso de cada dia em Angola.

E a famigerada teoria de "acumulação primitiva de capital", levada a cabo para o enriquecimento ilícito da classe política e das transferencias de recursos financeiros do país para o exterior, levaram o país para o colapso económico jamás visto na história recente de África e quiçás do mundo.

Os angolanos das sanzalas e quimbos quase que abandonados completamente a sorte dos deuses e kimbandas. O petróleo e os diamantes que eram de todos nós, tornaram-se fontes de receitas exclusivas de um punhal de homens que orbitavam o teu mundo paralelo e não para o desenvolvimento integral da nação angolana e de todos os angolanos.

Não camarada Presidente Emérito;

Perdeste a oportunidade histórica de teres deixado o poder em 2012, com letras de ouro e com honras e glórias como um rei soberano abdicaria voluntariamente do seu trono.