Luanda - Coragem e inteligência aos novos governadores nomeados para algumas províncias angolanas. Paciência aos que estão tristes pelas nomeações e mais atenção aos que aconselharam ou indicaram os nomes.

Fonte: Club-k.net

Penso que o MPLA para além de não conhecer a realidade do sul de Angola, também não conhece os seus grupos etnolinguísticos e, sobretudo, a continuidade e descontinuidades territoriais que devem ser tidos em conta quando se trata do princípio da representatividade, da unidade e reconciliação nacional e preservação de interesses socioculturais do povo angolano. No BP, eleito há dias, dos tantos eleitos, entraram 14 novos membros de Luanda e eventualmente alguns naturais de outras províncias. Algumas províncias nem um membro. Cunene, o campeão dos votos ao MPLA nas eleições, só mesmo o sempre Mutindi.

 

Como o MPLA não entende nada de justiça nem se interessa com a unidade e a reconciliação nacional, nem com a nomeação dos novos governadores compensou a grande falha e injustiça contra os Ambós sempre incluídos do BP. Essa atitude configura má interpretação da reclamação sobre a preservação dos direitos evocados pelo povo em função do empenho deste na escolha do partido que sempre teve no coração. O senhor presidente tem o senhor Miala e outros agentes dos serviços e outras pessoas da sociedade civil que podiam lhe aconselhar melhor na escolha de governadores. Para uma sociedade que se quer reconciliada e unida, não basta o absolutismo constitucional da nossa Carta Magna e o unilateralismo presidencial.

 

Falando propriamente do Cunene, a situação desta província não é do tribalismo, como muito se fala por ai, mas sim, a representatividade de direitos proporcionais quanto aos deveres e o respeito pela democracia. Porque o entendimento sobre o tribalismo reside fundamentalmente no facto de alguém, por exemplo, natural de origem e de cultura das lundas e ir governar o município do Namacunde, no Cunene, sem conhecer a língua, nem a cultura nem as características da região. Assim, qualquer ato de resposta à indignação de uma determinada atitude do governante, que colida com as idiossincrasias daquele povo, pode ser por ele interpretada como uma atitude tribalista. Assim acontece com todas as situações em que nos deparamos quando viajamos enquanto minoria nesse espaço.

 

Por conseguinte, é injusto considerar e caracterizar as populações do Cunene como tribalistas. Se formos a ver, o General Kundi Paihama, sendo ele muquipungu, teve esposas ou teve filhos com mulheres Ambós do Cunene (kwanhama e mumbadja). O senhor Pedro Mutindi, sendo ele mukhumbi, casou duas vezes com mulheres Ambós (kwanhama e mumbadja). As reivindicações do grupo etnolinguístico Ambó do Cunene tem um culpado chamado MPLA e a sua direção que nunca elegeu um Ambó para o seu BP, apenas e sempre o mesmo senhor Mutindi mukhumbi. Porque nunca um Ambó? A acrescer a isso, surge uma nomeação totalmente incompreensível, não pela pessoa, em si, do novo governador do Cunene, o académico Tyova, que terá a oportunidade de demonstrar o contrário ou não á vozes de repúdio e tristeza pela sua nomeação, mas simplesmente pelo timing dessa nomeação que não é salutar nem reconciliadora, neste momento em que existe animosidade e conflitualidade entre o atual primeiro secretário e os militantes do MPLA no Cunene. Não é concebível na era do João Lourenço tal nepotismo de nomear um sobrinho para substituir o seu tio? Provocação aos Ambós ou humilhação? Quem não sabe que, para serenar os ânimos, criar unidade e respeitar as pessoas, era necessário um governador neutro? Será que o MPLA não tem mais quadros bons de outras tribos capazes de respeitar, unir, apaziguar e desenvolver Cunene? Buscava um quadro de Cabinda ou de Malanje, neutro mesmo não conhecendo bem a Cunene, alias o senhor Tyova também pouco conheço do Cunene. Tivesse mais paciência de consultar pessoas idóneas, de ouvir vários conselhos e de escrutinar bem o governador a nomear para o Cunene. Cada povo espera um governo e a administração exercida por filhos da terra. Essa é a razão pela qual povo leva a formar seus filhos para ajudarem no desenvolvimento das suas comunidades, preservar e aperfeiçoar a sua cultura, ao não ser que haja uma intenção sorrateira do MPLA de acabar com a Cultura de alguns grupos etnolinguísticos angolanos. O MPLA cuide-se com as eleições autárquicas!

 

Depois dessa sacanagem do MPLA, resta desejar ao novo governador sorte e inteligência, que não siga as pisadas do seu tio que tanto elogiou na apresentação ao povo do Cunene! E espero sinceramente que saiba separar as águas quando aos conselhos a receber. Digo-lhe já que o seu tio se afundou, não só pela sua inata e incorrigível arrogância e prepotência, mas sobretudo pelas pessoas que escolheu para seus conselheiros, que lhe induziram em erro e em sentimento de confrontação tribalista com os kwanhamas. Por isso, cuidado com o senhor Charles e o senhor Ovídio Pahula. Garanto-lhe que se eles forem os seus conselheiros ou escolher um deles como seu vice- governador, tem o caminho traçado para o fracasso e conflitos tribais. Lembra-se do Cunene sul e Cunene norte? Cuidado também com o senhor Gabriel Hilifavali e o senhor Kapaya!

 

Assim sendo, o Cunene espera de si como um governador que não olhe só pelos seus interesses pessoais, dos seus amigos e do seu grupo etnolinguístico de origem. Cunene espera de si um governador elo de unidade entre os habitantes e filhos do Cunene, e não só. Como disse no seu discurso de apresentação, seja um governador inteligente e diligente, académico e do povo, capaz de ir colher, noutros países (sinalizou e bem a Namíbia nossa vizinha governada e bem há muitos anos pelos Ambós) bons exemplos de boas práticas de desenvolvimento e de governação capaz de implementar boas, credíveis e duráveis infraestruturas. Um governador(a) que tenha visão e determinação, capaz de fazer ruas, mesmo sem asfalto, nos bairros das cidades da província, capaz de fazer estradas terraplanagem (já que o asfalto está caro) que dê acesso a todos os cantos e recantos da província para circulação de pessoas e bens e fomentar, assim, a diversificação da economia. Chega de hostilização e ostracização de quadros do Cunene, ame-os e apoie-os, promova-os para altos voos na qualidade e na quantidade como futuros empreendedores e inovadores da província e da Nação angolana. Seja um governador à altura dos desafios do nosso tempo, à altura dos grandes homens e mulheres que Cunene tem. Seja um homem humanizado, patriota, simples, humilde, rigoroso, dialogante, ouvinte, visionário e com sentido de estado.

Viva o Cunene
Viva o Tyova, novo governador.