Luanda - O diretor da consultora EXX Africa considera que o combate à corrupção em Angola é "facilmente confundido" com a tentativa de o Presidente João Lourenço assegurar a sua autoridade no país, que ainda não sente a recuperação económica.

Fonte: Lusa

"O combate à corrupção pode ser facilmente confundido com as motivações políticas do Presidente João Lourenço, que lidera um Governo que se focou mesmo em atacar a corrupção e potenciar a transparência, melhorando a reputação de Angola como destino favorável para investimentos, e nessa área teve um sucesso notável", disse à Lusa o diretor executivo da consultora EXX Africa.

 

Roberto Besseling acrescentou, no entanto, que estas iniciativas positivas para o desenvolvimento do país, nas quais inclui também a colocação em prisão preventiva de José Filomeno dos Santos, ex-responsável do Fundo Soberano e filho do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, pelo sinal que envia, deve ser visto com cautela.

 

"A motivação tem de ser questionada, porque não é só um novo Presidente da República a tentar afastar os corruptos ou aqueles que perceciona como más influências, isto é também um novo Presidente, sem base política, a consolidar a sua autoridade política não só no MPLA, mas também no Governo".

 

A economia, apontou, "ainda está em dificuldades, com preços altos e com a comida muito cara, e muitos angolanos não estão contentes com o impacto económico do Governo, mesmo sendo o combate à corrupção popular, porque sentem que não é claro que o Governo está mesmo a afastar-se das práticas que criticavam no Governo anterior de José Eduardo dos Santos".

 

O líder da EXX Africa, que enviou esta semana aos investidores um relatório de 10 páginas centrado no regresso de Manuel Vicente à elite dirigente de Angola, explica que mesmo com a popularidade elevada, João Lourenço teve de fazer alianças para garantir o poder.

"É por isso que fizemos o relatório, para mostrar que algumas das pessoas que eram cruciais para o poder de José Eduardo dos Santos, como Manuel Vicente, regressaram ao poder; João Lourenço teve de o manter na atual estrutura dirigente, teve de fazer alianças para consolidar a sua base política", referiu Robert Besseling.

 

Manuel Vicente "é um conselheiro especial de João Lourenço, não ocupa um cargo oficial no Governo, mas é uma pessoa que está na Presidência e tem uma influência direta no Presidente" enquanto conselheiro especial para o Petróleo e Gás, acrescentou o analista, notando que "algumas das nomeações mais recentes na Sonangol, no banco central e no Ministério das Finanças são pessoas que lhe são próximas ou protegidas".

 

No relatório enviado aos investidores esta semana, e a que a Lusa teve acesso, com o título "Influência Política e Redes de Influência na 'Nova Angola'", lê-se que "no centro da nova estrutura política de controle está o ex-vice-presidente Manuel Vicente, que retornou ao centro do poder político em Angola e que, por meio de sua família e aliados próximos, mantém uma influência extraordinária sobre a economia".

 

O regresso do antigo vice-Presidente de Angola "traz significativos riscos políticos, de reputação e transparência que podem prejudicar o manifesto popular do Governo em probidade e liberalização económica", lê-se no documento, que aponta uma "nebulosa rede de sobreposição de interesses comerciais, os quais mais uma vez ameaçam restringir o desenvolvimento da economia angolana e concentrar a riqueza substancial do país nas mãos de uma pequena elite política e empresarial".