Luanda - A revista “Africa Report” destacou, em quatro páginas da edição de Outubro, os desafios políticos do Presidente da República, João Lourenço. Numa extensa análise, que retrata os desafios políticos no MPLA, cujo presidente é desde Setembro último João Lourenço, a revista destaca Angola como o foco da edição e, em letras garrafais, tem como título "O longo caminho de Lourenço”.

Fonte: JA

A publicação considera que o Presidente angolano deu “alguns grandes golpes à antiga família de governantes e de gestores corruptos” de empresas estatais, mas acrescenta que “João Lourenço ainda tem um longo caminho a percorrer”, para tirar o país da crise económica e atrair investidores que acrescentam algum valor de transparência e facilidade para fazer negócios.


Os desafios do Presidente João Lourenço para combater a corrupção, segundo a revista, são vistos, para alguns, apenas como uma “limpeza por fora”. A publicação destaca que, com a saída de José Eduardo dos Santos da presidência do MPLA, João Lourenço tem agora o controlo total do rumo que o país pretende seguir. Refere que o país vive em meio a uma crise económica, a dívida externa da República Popular da China, a queda do preço do petróleo no mercado internacional, a inflação elevada e a corrupção do antigo regime.


Em gesto de piada, a revista considera que, no círculo político em Angola, apenas dois políticos ligados ao MPLA que não foram corruptos já estão ambos mortos: Lúcio Lara e Paulo Jorge. A missão de João Lourenço, escreve a revista, é conduzir um amplo desafio de combate à corrupção.


A revista recorda o Presidente João Lourenço, quan-do disse que o desenvolvimento de uma economia produtiva baseada na agricultura, indústria e mineralogia só pode ser mediante o concurso de investidores estrangeiros.


Segundo a publicação, a prioridade máxima de João Lourenço é melhorar a economia, e lembra que ainda este ano o Presidente referiu-se ao relançamento da pesca e da agricultura e à abertura do país ao investimento estrangeiro.


A publicação lembra também que, em Maio último, o Governo angolano anunciou a privatização de mais de 70 empresas públicas, sobretudo no sector produtivo. Considera que a aprovação da Lei do R­epatriamento de Capitais, que dá um período de graça para o retorno voluntário dos valores ilegalmente enviado para fora, como um começo para a recuperação de dinheiro que o país precisa para a sua economia.


Segundo a revista, João Lourenço "marcou pontos" ao enfrentar a família do ex-presidente  José Eduardo dos Santos, exonerando Isabel dos Santos da presidência do Conselho de Administração da Sonangol e a exoneração de José Filomeno dos Santos do Fundo de Desenvolvimento Soberano de Angola.


A revista destaca ainda que o Governo angolano está a negociar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) um empréstimo para os desafios da economia. Considera que este empréstimo vai dar maior confiança aos investidores estrangeiros, aumentando a transparência nas políticas de reformas anunciadas.


Citando dados do FMI, a revista indica que o Produto Interno Bruto (PIB) em Angola vai crescer de 2.2 por cento (este ano) para 2.4 por cento (no próximo ano), depois de ter alcançado 0,7 por cento no ano passado.


No cruzamento que a revista faz com um entrevistado, para falar dos desafios políticos e económicos, é dado destaque ao economista e académico Justino Pinto de Andrade, que alerta o Presidente João Lourenço, por estar rodeado das mesmas pessoas que rodearam José Eduardo dos Santos.


"Não vejo como a cultura destas pessoas pode ter mudado", disse o economista. "Foram educados no modelo de Dos Santos e não vão abandonar os velhos hábitos de manipulação, desvios de dinheiro dos cofres do Estado, tráfico de influência. Eles fingem ter mudado, mas não passam de lobos em pele de cordeiro", acrescentou o economista.


"Africa Report" destaca a construção das centralidades do Kilamba, Sequele e KK 5000, feita pelos chineses, e destaca problemas com a construção chinesa. Segundo a revista, as reclamações de moradores são, sobretudo, de infiltrações de águas nos apartamentos destas novas cidades.


A revista escreve que a "espinha dorsal" do sistema rodoviário nacional é a estrada Luanda-Huambo, por ligar o Centro Sul, com potencialidades agrícolas, à capital do país, mas acrescenta que o percurso de carro, que seria feito em cinco horas, é concluído em cerca de 12 horas dolorosas e exaustivas, em função do acentuado mau estado de conservação.


Criada em 2005, afecto ao grupo empresarial que detém ainda a Jeune Afrique, a revista Africa Report é editada por Patrick Smith do Africa Confidencial e conta com a colaboração de jornalistas que trabalham no continente africano e pelo Mundo. Em 2006, 2007 e 2012, a revista venceu o prémio Diageo Africa Business Reporting, na categoria de imprensa e, em 2007, também venceu o prémio de melhor reportagem.

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