Luanda - Como estaria Angola a reagir à crise económica e financeira se a Sonangol tivesse sido privatizada e, por isso, deixasse de estar sob a alçada (mesmo que incorrecta) do Estado? Seria possível, se esta empresa estratégica fosse de privados, amortecer o impacto da crise, garantindo algum poder negocial, nomeadamente a nível de empréstimos?

Fonte: Folha8

Vender a soberania

A notícia está na rua. Os liberais batem de contente, pois estarão na linha da frente com o ocidente, na hora de retalhar a empresa que, até aqui, é o orgulho dos angolanos, porque "o nosso petróleo vai muito longe".

 

Quando o Titular do Poder Executivo e Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço assinar a privatização, seja parcial ou total, pouco ou muito pouco restará aos angolanos de independência. Por outro lado, o projecto do MPLA, definitivamente, abandonará as teses de esquerda, consignadas nos seus estatuto e programa.

 

A ultra direita assumindo o controlo do partido no poder, oferecerá o país, a soberania e a sua estratégia aos estrangeiros, que terão em mãos a legitimidade para a implantação do neocolonialismo.

 

Privatizar uma empresa estratégica como a Sonangol será como privatizar as Forças Armadas, perdendo um dos principais factores da nossa independência económica e financeira, no caso.

 

Só por ingenuidade, sejamos optimistas, se poderá pensar que os nossos principais responsáveis políticos, a começar pelo Presidente da República, alinharão nesta estratégia ultraliberal e, por isso, suicida. Privatizar a Sonangol (como parece ser o fim a médio prazo) é passar o nosso centro de decisão económico para estranhos e, inclusive, para fora do próprio país.

 

VENDILHÕES DO TEMPLO ROUBARÃO O FUTURO

 

No caso de uma empresa, da empresa das empresas, é seguir a estratégia dos que, do ponto de vista estritamente da rentabilidade comercial, e por isso apátrida, preparam as empresas com a única finalidade de as alienar, criando mais-valias, nada preocupados com quem é o comprador, para onde vai o centro de decisão, que consequências tratará para a economia nacional, para o seu tecido social, para a independência do próprio país.

 

A crise económica e financeira que Angola atravessa há alguns anos, não só exige como justifica que o Estado mantenha em seu poder empresas e entidades que são estratégicas e inalienáveis. Está a funcionar mal? Ponham-se a funcionar bem. Tem altos custos? Tem. Mas são custos que não podem implicar a venda da nossa identidade.

 

E essa identidade só se mantém se, por exemplo, a Sonangol continuar a ser do Estado, continuar (ou voltar) a ser uma empresa âncora.

 

Angola precisa de travar esta intenção antes que seja demasiado tarde.

 

Não se trata de uma empresa como muitas outras que o Estado quer, e bem, privatizar.

 

A Sonangol é… Angola. E Angola não está à venda (embora às vezes pareça) nem em fase de privatização.