Luanda - O presidente do Sindicato Nacional dos Professores (Sinprof) angolano defendeu hoje, em declarações à agência Lusa, a "correção urgente" do regime de monodocência no ensino primário em Angola, frisando que o Governo "reconheceu tardiamente o erro cometido".

Fonte: Lusa

"O Governo angolano admitiu tardiamente que a monodocência, no quadro da Reforma Educativa, foi um erro. Mas antes tarde que nunca. Pena é que a senhora ministra [da Educação] tenha tentado imputar esta responsabilidade ao anterior ministro", disse Guilherme Silva, à Lusa.

A ministra da Educação de Angola, Maria Cândida Teixeira, admitiu na quarta-feira que a monodocência no ensino primário, da 1.ª à 6.ª classes, "foi um erro", responsabilizando o anterior responsável pela tutela, Pinda Simão.

Para o sindicalista, no entanto, os passivos e ativos do setor "devem ser assumidos pela atual ministra".

Segundo Guilherme Silva, "há décadas" que o Sinprof tem vindo a alertar para o facto de a Reforma Educativa no ensino geral em Angola ter "morrido à nascença", porque, explicou, os docentes "não foram preparados para encarar o que lhes foi imposto".

"Os professores foram formados nos Institutos Médios Normais de Educação, cujo perfil de saída de então não contemplava, por exemplo, a preparação para lecionar disciplinas como Música, Educação Física e outras", salientou.

A ministra da Educação de Angola assumiu na quarta-feira que a monodocência no ensino primário, da 1.ª à 6.ª classes, implementada no âmbito da Reforma Educativa, "foi um erro" que "está a ser corrigido" com a criação de magistérios primários.

O regime da monodocência em Angola, processo de ensino em que um único professor leciona todas as matérias da 1.ª à 6.ª classe, num total de oito, tem sido criticado nos últimos anos devido às "várias lacunas que os docentes apresentam no domínio das distintas disciplinas que lecionam".

"O que aconteceu um pouco com a monodocência foi uma precipitação. Pusemos a carroça à frente dos bois. Começamos a monodocência sem antes prepararmos os quadros para, de facto, iniciarmos esse processo", disse Maria Cândida Teixeira.

Para o presidente do Sindicato Nacional dos Professores Angolanos, a constituição de magistérios primários para colmatar a lacuna ora assumida pelas autoridades "é um paliativo".

"Virem com o argumento de que agora estão a constituir magistérios primários, isso são paliativos. Tinha de ser antes, porque também sempre dissemos que se estava a colocar a carroça à frente dos bois", sustentou.

"Quer seja na monodocência, quer na transição automática na 1.ª, 3.ª e 5ª classes, o excesso de alunos por salas de aula, mais de 80, não trará qualquer qualidade", frisou.

"Temo-nos andado a mentir. Por isso é que temos os resultados que temos. A culpa não é dos professores, mas sim do sistema. As políticas adotadas pela Educação foram erradas e este mal precisa de ser corrigidos", concluiu o líder do Sinprof.