Luanda - O processo de repatriamento que está a decorrer no país, no âmbito da Operação Transparência, que visa combater a imigração e o tráfico ilegal de diamantes, veio mais uma vez expor a existência de uma «máfia» no sistema eleitoral do país e na atribuição de nacionalidade a estrangeiros.

Fonte: NJ

Na Lunda-Norte, o Novo Jornal apurou que uma boa parte dos cidadãos da Republica de Democrática (RDC) que estão a ser repatriados votaram nas duas últimas eleições realizadas em Angola.

 

Os mesmos estrangeiros reconheceram o facto à imprensa que esteve no local a cobrir a operação, que está a ser encabeçada pelo Presidente da República.

 

A maioria votou no partido no poder desde a independência do país, MPLA.

 

Os imigrantes ilegais exibiam cartões de militantes do MPLA e bilhetes de identidade de cidadãos nacionais.

 

Os que foram tirados do território nacional de forma coerciva alegam que as autoridades confiscaram os tais documentos. Mas outros mostravam e ainda diziam, em voz alta, em lingala e em português: “João Lourenço, te votamos, agora estás-nos a expulsar...”

 

Interpelada por este semanário na fronteira Chissanda – Kamako, entre os dois países, uma jovem congolesa exibiu o cartão de eleitor de angolano e afirmou que as autoridades da Lunda- Norte iam aos mercados e obrigavam as pessoas a registar-se.

 

“Diziam-nos, podem ir registar-se porque vocês são angolanos. Votei no MPLA. Agora estou a ir com o documento do MPLA e está aqui o meu cartão que tratei no mercado do Lucapa”, disse a jo- vem, que alega ainda ser natural de Mbanza Congo, província do Zaire, onde entra através da fronteira.

 

João Pedro Onongue, de 22 anos, vendia telefones no município do Lucapa e diz ser filho de angolano e uma congolesa, e não percebe porque que está a ser expulso. Com o próprio nome tatuado no braço direito, afirmou que é militante dMPLA e exibiu o seu cartão de eleitor e de militância.

 

“Sou militante do MPLA há muito tempo. Não sei porque me estão a expulsar”, lamentou.“Tratei o registo eleitoral como cidadão angolano para votar. Não tratei através do apelo que eles estavam a fazer aos outros congoleses. Tratei porque sou angolano, nasci em Mbanza Congo”, disse o pastor da Igreja Plena Acção, Manuel Lufalanga que vivia na Lunda-Norte há 22 anos, entretanto repatriado para a RDC juntamente com a mulher angolana e os filhos.


A denúncia de atribuição de cartões eleitorais foi reforçada pelas autorida- des tradicionais do município do Luca- pa, que acusaram as administrações municipais de estarem por trás da «máfia» no sistema eleitoral.

 

Segundo o soba do bairro Tchiluata, no Lucapa, Alberto Muevo, “a camarada administradora Isabel atribuiu-lhes cartões de residência, foram admitidos como militantes do MPLA e já tinham direito a cartão de voto. E muitos deles votaram”, denunciou.


Um outro soba do bairro Roque, também no Lucapa, Maurício Maita também confirma que os estrangeiros votaram nas eleições do país.


“Na atribuição destes documentos, ninguém quer saber a origem da pessoa que se vai registar, e nós, os sobas, não sabemos os requisitos que usam para registar os estrangeiros”, frisou.