Lisboa - A Economist Intelligence Unit (EIU) defendeu hoje que o processo de privatizações em Angola tem de ser bem gerido e alertou para a "crescente preocupação" sobre as ligações entre os destinatários das vendas das empresas e o Presidente.

Fonte: Lusa

Numa longa análise ao processo de privatizações em curso em Angola, que abrange dezenas de empresas públicas em diferentes estádios de abertura ao setor privado, a unidade de análise económica da revista britânica 'The Economist' alerta para a necessidade de o processo ser bem gerido, sob pena de afastar os potenciais interessados.

"É importante que quaisquer vendas sejam bem geridas, entregando o melhor valor, e que as transferências sejam transparentes para evitar enriquecimentos ilícitos de uma elite bem relacionada politicamente", escrevem os analistas sobre as privatizações esperadas, totais ou parciais, de empresas como a petrolífera Sonangol, a transportadora aérea TAAG ou a Angola Telecom.

"Vender empresas ou ativos nacionais vai ajudar a obter o tão necessário financiamento para o Governo, cortar os custos dos salários e reduzir as vulnerabilidades", e deve também "ajudar o mercado, aumentando a concorrência e melhorando os padrões dos serviços, mas coloca um risco de aumento da instabilidade laboral se as reestruturações afetaram empregos e benefícios", alerta-se na análise ao programa de privatizações angolano.

Os analistas da 'Economist' exemplificam que os 300 trabalhadores da Empresa Nacional de Pontes de Angola (ENPA) tinham quatro anos de salários em atraso, e que há críticas sobre as promessas feitas pelos novos donos, mas ainda não cumpridas.

"Gerir as expetativas dos empregados das empresas públicas durante o processo de privatização será fundamental", argumentam os analistas, avisando que se os novos donos não cumprirem, "pode haver protestos laborais que se podem estender a outras empresas públicas em condições semelhantes".

A EIU nota, aliás, que a atividade dos sindicatos desde que João Lourenço ganhou o poder em Angola, "aumentou consideravelmente face ao tempo de José Eduardo dos Santos", classificado como "notoriamente intolerante face à dissidência".

A instabilidade laboral pode, conclui a EIU, "ser um obstáculo a outros potenciais compradores" e pode ter um efeito mais alargado devido à crise económica que Angola atravessa.

"Com o preço do petróleo ainda relativamente baixo, e com uma montanha de dívida e ainda a crescer, o Governo tem menos dinheiro para gastar na melhoria das condições de vida para os cidadãos mais pobres, e falhar o cumprimento das exigências da classe média emergente pode levar à instabilidade social junto dos cidadãos mais pobres, que suportaram o aumento da inflação, do desemprego e a austeridade, tendo, por isso, pouco a perder", concluem.