Luanda - O padre Pio Wacussanga, responsável pela organização não-governamental Construindo Comunidades em Angola, foi galardoado esta semana com o prémio "Defensor de Direitos Humanos de 2018".

Fonte: Club-K.net/VOA

O prémio foi entregue em Joanesburgo, na África do Sul a 13 de Novembro.

 

O director geral do Mosaiko, frei Júlio Candeeiro, representou o padre Pio Wacussanga na cidade sul-africana, durante a entrega do prémio de "Defensor de Direitos Humanos de 2018", atribuído ao sacerdote que tem trabalhado na defesa dos Direitos Humanos no sul de Angola.

 

O reconhecimento foi feito pela Southern Africa Human Rights Defenders Network (Rede de Defensores de Direitos Humanos da África Subsariana).

 

Pio Wacussanga agradeceu "do fundo do coração a AJPD e a MOSAIKO, na pessoa dos seus responsáveis, a Lúcia da Silveira e o frei Júlio Candeeiro que me apoiaram para me fazerem chegar a este patamar".

Integra da mensagem de agradecimento do Padre Pio


Prêmio de Defensor de Direitos Humanos de 2018

Caros amigos e amigas,
Abnegados defensores dos direitos e dignidade da pessoa humana

Foi em meio a muita surpresa que recebi, ontem, a notícia que eu tinha sido galardoado in absentia com o prémio "Defensor dos Direitos Humanos 2018".

O reconhecimento foi feito pela Southern Africa Human Rights Defenders Network (Rede de Defensores de Direitos Humanos da África Austral). isto ocorreu durante a realização desta cimeira, dia 13 de Novembro, na cidade de Joanesburgo.


Sobre este momento elevado, de forma sucinta tenho a dizer o seguinte:

1 Agradeço imenso a AJPD e a Omunga, na pessoa da Lúcia Silveira e do Frei Julio Candeeiro, que ajudaram meu nome constar da lista dos seleccionados ao nível de centenas de candidatos da SADEC e ganhar a a acirrada competição, com pessoas com um potencial e dedicação sem comparação com a minha;


2. Dedico este prémio a todas as pessoas que em Angola e em toda a região da SADEC lutam, no morro opressivo do silêncio, para que a sua vida e a vida dos seus mude. A minha linda mas isolada comunidade dos Vakuvale do Fimo, a vibrante juventude da Taka, os Vandzimba e Vanganbwe, os colegas da ACC e da ANO, as bravas almas que criaram a primeira Associação " Flor da Vida", a segunda, ALSSA, antes da ACC e ANO. Um grande abraço ao meu colega o Padre Benedito Kapingala, companheiro de aventuras na luta pela dignidade do angolano;


3. Dedico igualmente esta nomeação a todas as crianças desprotegidas em Angola, vítimas de incúria ou mesmo maldade, que ao invés de viverem o brilho de sua inocência que irradia de seus olhos, vivem pelo contrário a amargura da desprotecção causada pelos adultos. Estou com o coração dorido quando penso na menina de sete anos que foi infectada, em circunstâncias muito graves, que deveriam levar a que tal, desde o Maria Pia ao posto de saúde remoto, coisas semelhantes não ocorram a inocentes;


4. Fico igualmente a pensar em homens e mulheres em cantos remotos, onde a luz da dignidade das pessoas está ainda muito longe de alcançar o ideal: metade de meninas no Malawi são forçadas a casar antes dos 18 anos, e no Zimbabwe é um terço delas; a tensão e ameaças que ocorrem em períodos eleitorais em Angola, os desaparecimentos selectivos forçados em Moçambique, as barreiras legais contra os activistas em Eswatini, a violência xenofóbica na África do Sul, a República Democrática do Congo como úlcera a sangrar, e onde os activistas são mortos e silenciados sem pestanejar...


5. Este reconhecimento significa, para todos os activistas da Lusofonia africana, mais empenho, pois estamos em diferentes pedaladas comparados com os anglófonos e francófono!


6 Sei que o sangue do Padre Leonardo Sikufinde não foi derramado em vão. Lembro a angústia de milhares de famílias, durante a tragédia pós-eleitoral em Luanda, onde pessoas foram mortas não só por eventualmente pertencerem a este ou outro partido, mas sobretudo por falarem línguas consideradas subversivas naquela altura. Uma das experiências mais dolorosas foi trabalhar com as famílias ligadas à UCK (União Católica dos Kikongos, acho que é este o significado da sigla), depois do vento assassino da Sexta-Feira Sangrenta;


7. Ganhamos todos nós! Não posso deixar de mandar um grande abraço aos jovens do grupo dos 15+2, cujo processo envolveu o meu nome, simplesmente pelo facto de o meu mano Luaty Beirão ter ido aos Gambos para nos inspirar como tomar partido dos grandes lençóis frenéticos que se podiam usar para a rega, no quadro da generalizada fome que iniciou em 2013;

8. Não descansarei enquanto a Escola de Práticas Agro-Ecológicas não estiver a funcionar em pleno. Nesse espaço, as crianças Ngambwe, Ndimba, Hakavona, da Huila, do Namibe e do Cunene tergar ao sol, e poderão ser preparadas para os os do futuro, pois até lá a bolsa dos empregos estatais estará já no limite.


A todos vós que caminhais comigo, um grande abraço e vão nos ajudando e acompanhando!


MUITO OBRIGADO! NAPANDULA! NGIABONGA!