Luanda - Hoje venho aqui brindar-vos com um semba lekalo o estilo característico que se notabilizou na música popular angolana. Musicas e seus intérpretes são tantas e tantos que receio não conseguir menciona-los todos neste pequeno e memorável texto. Me desculpem todos os kotas, contemporâneos e ndengues aqui não mencionados. Ngolo kuka kia.

Fonte: Club-k.net

A música popular angolana moldada por varias influencias tem sido apresentada ao longo dos tempos com diversos estilos como a Rebita, Merengue, Kazukuta, Kilapanda, Semba, Kabetula, Kuduro e Kizomba. Estes ritmos bastantes popularizados e evidenciados nas zonas urbanas e suburbanas tem vindo a dar sustentabilidade a nossa cultura e engrandecer a nossa Angola.


Não me debruçarei sobre as origens, percursos e transformações da música popular angolana mas das músicas e músicos ao longo dos tempos que me viram crescer e maturar.


Sou da geração dos anos sessenta que começou por ouvir agrupamentos musicais como o “Ngola Ritmos” de Liceu Vieira Dias, Nino Ndongo, Amadeu Amorim, António Van-Dunem, Euclides Fontes Pereira, Zé Maria dos Santos entre outros. Tinha também os “Negoleiros do Ritmo”, o “Ngoma Jazz”, os” Jovens do Prenda” tendo como um dos fundadores “Chico Montenegro” e se notabilizado com a passagem do grande maestro “Zé Keno” e do vocalista “António do Fumo”, dos “Ases do Prenda” com seu Merengue Bombeiro, “Dimba dia N’gola” e seu hit merengue Titia, do “Duo Ouro Negro”, do kota “Elias Dia Kimuezo” condecorado a “Rei Elias” que me fazia recordar a tão famosa cadeia de São Nicolau actualmente Bentiaba onde meu velho teve uma paragem nos anos sessenta/setenta. Na música S. Nicolau o kota Elias cantou das sevicias praticadas pelo Lima, Tira Manta, Peter Afonso e o Katuta.


Kota Bonga continua nos oferecendo os ritmos calientes da banda, evidenciando a dikanza, a harmónica e puita. Falando de puita, nossa imaginação e criatividade nos levava ate ao improviso de puitas feitas de latas de leite Nido e o caule da mandioqueira a que se juntavam o batuque e outros instrumentos e cantávamos alegres as belezas e mambos da nossa terra nas tardes amenas e noites de luar.


Minguito e seu eloquente acordeão nos brindaram com buee de ketas de tirar o fôlego.
O “África Show” fundado por Massano Júnior nos brindou com músicas como as Meninas de Hoje, Massanga Mama e muitas outras. Apreciava também as ketas dos “Águias-reais” com destaque a super Mariana, do “Super Coba”, dos “África Ritmos”, “Lilly Tchiumba”, “Oscar Neves”, “Santos Júnior” interpretando Comboio ua Pitala, do “Artur Adriano”, do “Musangola” que ensaia ali no bairro Zangado o seu improvisado e vibrante Trigo Limpo tendo kota Honorato Silva nas tumbas e Mário Silva no solo.


O comboio passava a todo o vapor com os “Kiezos” no seu tão badalado Comboio ua pitala, ua dikolo puee, puee.. Ao falar dos “Kiezos” impossível não lembrar do grande maestro Marito, o Zeca Terylene, Adolfo Coelho, Juvenal e tantos outros.


E como me esquecer do “Prado Paim” com aquele grande hit musical Bartolomeu.
E aquele miúdo que no musseque Rangel cresceu ouvindo e vibrando ao som da música popular angolana, influenciado com os sons vibrantes e contagiantes dos kutonokas no semba se forjou. A curiosidade e traniquisse levou-o em certas ocasiões em dar umas zongoladas naqueles salões de baile onde crianças só eram permitidas em festas de família; e que a certa altura a musica parava e o chão de terra batida borrifado para acalmar a poeira que se levantava com as passadas electrizantes dos kotas e do gingar das lindas kalumbas ao som cálido e contagiante do nosso ritmo angolano. E foi assim que aquele miúdo franzino começou a ensaiar os primeiros passos de merengue/semba.


As kalumbas de mini-saia e os muadies de calca boca-de-sino, camisas justas, e de sapatos a percy dançavam energeticamente suando o calor e ritmo da nossa música popular angolana. E de muita passada e zukada, surgiram os grandes maestros da dança; nomeadamente “Jack Rumba”, “João Cometa”, “João Canário”, “Didi da Mãe Preta”, “Mateus Pele do Zangado”, “Pedro Franco”, “Adão Simão”.... Sem esquecer a grande bailadora “Joana Pernambuco”.
E os “Gambuzinos” cantavam Kalumba.


“Sofia Rosa” cantou e encantou com Kalumba. E tinha ainda aquela keta que apreciava bastante – Ngue xile mu tunda bua Faria (meu kimbundu esta desafinado).

As kalumbas da banda inspiraram vários músicos da praça nacional e de kalumbas cantaram todos.


“Os Kiezos” cantaram a Belita, “Urbano de Castro” cantou a Rosa Maria/Maria da Horta, os “Águias Reais” com seu grande hit Mariana, “Manuel Faria” cantou Mana Fatita, “Cabinda Ritmos” interpretou Celestina, “Sofia Rosa” cantou Maria dia Pambala, “Artur Nunes” encantou com Belina, e uma das kalumbas fizeram ate o “António Paulino” sengar nos seus então badalados Kamba ba Laumba e Joana Ua Iaee.


Me lembro ainda daquela kalumba em Nova Lisboa (Huambo) que me fazia cantar Somaiangue. Seu nome era “Tchinina”. Otcho muele!

Os “Bongos” lançaram o Kazucuta. “Urbano de Castro” o semba Lekalo/Gajajeira/Semba Avo (imbua yo boza) – keta que eu cantava de cor e salteado, ajudando ate a engrandecer meu kimbundo; “Sofia Rosa” cantou Makuandi ia Mivo, ”Dimba Dia Angola” interpretou Fuma,” Paulino Pinheiro” driblou em varias línguas no seu Merengue Rebita. Estas e outras músicas preenchiam o cancioneiro do dia-a-dia.


A Rebita não se apresentava somente como um estilo musical e dança folclore mas também como editora musical “Rebita” que lançou/promoveu vários artistas no mercado nacional. A “Ngola” e a “CDA” eram outras editoras musicais.


A tia Belita Palma cantava e encantava com sua voz sensual e seu afinado kimbundo.


Na hora das malambas tinha para se ouvir o chorinho dos Gingas” com seu Lamento, Chofer de Praça de “Luís Visconde, Massanga Mama dos “África Show”, “Os Anjos” com Choro de Oliveira, “Artur Nunes” e a keta Tia; “Davis Zé” e o seu Mama ku Dile, a inesquecível Ilha Virgem dos “Jovens do Prenda” que serviu/serve de interlúdio para os noticiários da 13:00 e 20:00 Horas da Radio Nacional de Angola.


A “Valentim de Carvalho” era uma editora de luxo que lançou muitos pesos pesados da nossa música popular angolana.


A uma determinada altura os “Kiezos” lançaram a música Milhoro e que pelos ventos que sopravam cheirava a revolução que não tardou a chegar.


No período pós-independência nossa música popular angolana abrandou, deu azo as músicas revolucionárias provocando um declínio cultural. E foi neste período que se evidenciaram as vozes de “Carlos Lamartine” “Jacinto Tchipa”, “Irmãos Kafala”, “Agrupamento Kissanguela”, “Os Merengues”, “Santocas”.


”Carlos Burity”,” Manmukueno”, “Lulas Da Paixão”, “Bangao”, “Calabeto”, “Robertinho”, “Lurdes Vandunem”, “Dom Caetano”, “Zecax”, “Pedrito”, “Zé do Pau”, “Carlos Baptista” e tantos outros foram se aguentando com os ventos das mudanças continuando a levar multidões ao delírio com seus ritmados repertorios.


O “Teta Lando” disse que voltaria e voltou mesmo para a terra natal e ainda ensaiou umas belas canções cheias de saudades.


“António Paulino” com o seu Njinjinda continuou fazendo vibrar multidões ali na tourada no Kassequel do buraco. As ketas electrizantes Ramiro e Avo Tete de “Givago” faziam levantar qualquer ensonado, nganzado e enxaguado.


Lembram-se do Proletário e a Scania 111. Aiuee man Prolee! A scania depois de avariada man Prolee nos brindou com a Kimbombeia. Mas que grande balanço! Obrigado “Banda Chamavo”.
Do nosso folclore tinha o “Mestre Geraldo” e “Kituxi e os seus acompanhantes”. Surgiu depois o “Nick” como vocalista principal e nos abrilhantou com Avo Kumbi e tantas outras belas canções.


A nova roupagem trouxe nomes como “Eduardo Paim” o então intitulado General Kambuengo, o “Paulo Flores” que continua nos brindando com o bom semba, a “Nani” também deu o seu show com seu afinado português, os “Irmãos Almeida” deram muitas alegrias principalmente aquele sungura Morainha.

Trouxe ainda a editora Endipu UEE.


Quase me esquecia do “Man-Re e o ndengue Paz” que nos abrilhantaram com varias ketas saborosas e faziam trepidar o então famoso mercado Roque Santeiro.
“Dom Kikas” fica atento que a sexta-feira esta a chegar e vai aquecer com as bandas “Maravilha” e “Movimento”.


O “Filipe Mukenga” nos apresentou um chorinho moderno contemporâneo assim como “Rui Mingas”, “Gabriel Tchiema” continuando pelo “Anselmo Ralph”.


As pitangas maduras do “Valdemar Bastos” eram severamente saborosas que fez até serem exportadas. O único perigo estava junto da mandioqueira perto do muro de adobe onde tinha marimbondos.


Bailei buee ao som dos “O2” com seus sons vibrantes Chek CheK, Sono Mancero; do Amor Sincero de “Margareth do Rosário”, “Dog Murras”,” Irmãos Verdades”, dos “Versáteis” e “João Alexandre”,” Calo Pascoal” e muitos outros.


O “Yuri da Cunha” que por sinal somos todas cunhas mas não parentes, apareceu de rompante e contínua de pedra e cal.


Outras kalumbas sonantes no nosso hall musical angolano, destacam-se a “Yola Semedo” que pelo que me parece o Amor Voltou, a “Ary” que devera confirmar se aquele muadie ainda lhe Escangalha, a “Pérola”, sem esquecer aquelas kalumbas que cantavam buee e faziam todos Encostar na Parede. Falo das “Gingas” do Maculusso que depois de umas certas makas fizeram a “Patrícia Faria” esgalhar. E como se não bastasse a Patrícia foi mbora encontrar o Pacheco...Já lhe destes corrida mana? Fizestes mesmo bem! Também da “Yola Araújo” que faz tempo não a vejo.


O “Matias Damásio ficou vaidoso e também já quer dar treguelhete em kotas de 40. Se acalma mo ndengue! Se acalma com teu Semba no Pé. Quando não tiveres a aguentar escuta a morena do kota “Samanguana” ou procura conselhos do kota “Bonga”.


Tem também um tal de “Puto Português” que de português não tem nada, ele mesmo eh muangole. O “Konde” e a sua Morena. Mas o que me encantou mesmo foi a praia Morena lá em Benguela. Desculpa-me “Konde”. O puto “Ângelo Boss” do kimbu cuia, nem sei que kimbu foi esse que lhe cuiou porque eu lhe vi a crescer na Vila Alice que de kimbu não tem nada.
E o “Maya Cool”! Será que Ancoro?

“Eddy Tussa”, a Margarida então anda aonde? Lhe encontrastes? Ngongo!


Xee, Nelo de Carvalho! Mama então falou. E quando mãe fala é melhor obedecer ya! “Kyaku Kyadaff” é considerado o psicologo da música angolana.


Importante aqui ressaltar o quão importante tem sido o papel dos compositores, instrumentalistas, arranjadores e promotores musicais. Destacam-se os instrumentalistas: Carlitos Vieira Dias, mestre Duia, Betinho Feijó, Boto Trindade, Quintino, Moreira Filho, Joãozinho Morgado, Ciro Bertini, Marito Furtado, Chico Santos, Sanguito, Nanuto e tantos outros.


A música é a principal arte no planeta terra, e por si só uma forte presença artística na cultura.


Todos estes e tantos outros tiveram/tem um grande papel activo na dinamização e propagação da musica popular angolana no nosso pais e nas estranjas.

Nga sakidila

Rocas Da Cunha