Lisboa - O mercado da habitação em Luanda é fortemente desiquilibrado, mas os preços especulativos da oferta actual - a maioria direccionada para a gama alta de clientes - e a consequente dificuldade em encontrar produtos imobiliários para a classe média estão a dificultar bastante a concretização das operações imobiliárias.

 

*Elisabete Soares 
Fonte: economico.sapo.pt


A complicar este quadro pode juntar-se a dificuldade dos clientes em obter crédito bancário, tendo em conta a disparidade dos valores das casas e os ordenados praticados. Ou ainda encontrar casas com valores de renda que possam suportar. Com uma oferta desajustada da procura, muitas casas atingem preços de venda de dez mil dólares (sete mil euros) o metro quadrado. O mesmo se passa com os valores de renda onde as mensalidades dos T3 ou T4 atingem facilmente os sete a nove mil euros/mês.

 

Influenciados pela situação de euforia vivida nos anos de 2006 e 2007 em que a prática em Angola foi a de comprar as casas em planta, sem recurso ao crédito e por preços especulativos, muitos destes empreendimentos destinam-se a um segmento alto, com preços exorbitantes, que agora não são possíveis de praticar. O director geral da consultora Proprime em Angola, Nelson Rêgo, considera que o "problema é encontrar um produto imobiliário que satisfaça as necessidades do cliente e que esteja num valor de mercado compatível com seu rendimento mensal". A Proprime fez já este ano um levantamento das necessidades da habitação e dos preços no mercado de Luanda e constatou a necessidade de cerca de 200 mil casas. De acordo com Nelson Rêgo estas habitações terão de apresentar preços e qualidade média para satisfazer os quadros que ganham entre os dois a três mil euros por mês e que podem pagar rendas na ordem dos 120 a 200 euros mensais. A Proprime considera que as zonas de Camama ou Viana são pólos potenciais de construção deste tipo de projectos imobiliários destinados à classe média.

 

Reposicionar os projectos


Neste momento muita oferta que existe destina-se a um segmento de mercado que está a ser afectado pela quebra dos preços do petróleo e com a crise mundial. Esta situação está a afectar, particularmente, os promotores portugueses que nos últimos anos decidiram apostar no imobiliário neste país e estão a iniciar a construção dos empreendimentos. Muitos destes projectos abrandaram o ritmo de construção ou então estão parados, procurando reposicionar os projectos em outros segmentos. Este facto leva a que alguns promotores estejam a reposicionar os projectos de luxo para um segmento médio de forma a que, comercialmente, possam escoar a oferta. Uma situação que é possível para os promotores que apostaram no faseamento dos projectos de habitação, o que não acontece com a maioria deles.

 

De acordo com José Covas, director de avaliações da consultora Worx, "sente-se um abrandamento dos projectos imobiliários, mesmo no segmento de escritórios, onde é nítida a falta de espaços". Na sua opinião muitos destes empreendimentos vão ter de ser reposicionados, com custos para quem está a investir.

 

De acordo com o levantamento feito pela Proprime, neste momento, em Luanda - incluindo as diversas zonas da cidade e periferia - estão em construção três milhões de metros quadrados de habitação, promovidos por empresários chineses, brasileiros, angolanos e portugueses, em que a maioria dos projectos se encontram desajustados da procura.