Luanda  - Ao fim de 30 anos no poder em Angola, José Eduardo dos Santos vive o dilema de ver aumentar a dificuldade da transição à medida que o tempo passa, disse à Lusa Fernando Pacheco, coordenador do Observatório Político Social de Angola (OPSA).

Fonte: Lusa

ImagePara o coordenador do OPSA, Eduardo dos Santos revelou-se um “grande estrategista como Chefe de Estado e líder partidário”, mas mostrou insuficiências como governante “por não ter ainda encontrado um modelo de desenvolvimento eficaz”.

 

Além disso, segundo Pacheco, ele enfrenta a difícil substituição quando for a sua vez de passar a pasta: “Quanto maior a longevidade à frente do país mais difícil a transição.”

 

Pacheco acompanha a trajetória de Eduardo dos Santos desde o início e recorda a posse como presidente, em 21 de setembro de 1979, “como se fosse hoje”.

 

“Há uma frase nesse discurso que me impressionou”, disse Pacheco, quando José Santos afirmou que ocupar o lugar de Agostinho Neto não lhe parecia “uma substituição possível, apenas necessária”.

 

Os primeiros anos de poder, indica o analista político, foram marcados pela “pesada herança de Neto” e também por “muitas cautelas” na gestão política do país num contexto de guerra.

“É preciso olhar para José Eduardo dos Santos em dois planos, o de Chefe de Estado e partidário, onde revelou uma grande perspicácia” que lhe permitiu sair “sempre por cima em situações de grande complexidade”.

 

Questões tribais

 

Porém, como presidente ele não foi capaz de “criar um modelo de governação que permitisse a Angola sair do subdesenvolvimento”, mas Pacheco elogia a forma inteligente como Eduardo dos Santos impediu que as questões raciais ou étnicas prejudicassem o país.

 

Para João Pinto, deputado e jurista, o “Eduardismo”, como designa os 30 anos de poder do atual Chefe de Estado, ficam marcados pelos seus esforços para a “elevação” do Estado no exterior, a promoção da igualdade, o combate ao racismo, tribalismo e regionalismo, a paz, o desenvolvimento e a formação de quadros.

 

“Destacou-se ao alcançar a paz para os angolanos e sempre com um discurso de reconciliação nacional, sem nunca ter usado o discurso da vitória”, frisou.

 

Por outro lado, o analista político Mário Pinto de Andrade considerou "positivos" os 30 anos de poder de Santos, desde o início, num período da guerra fria e de invasão de forças estrangeiras.

 

Segundo Pinto de Andrade, o presidente angolano “teve sempre como grande desafio a garantia da integridade territorial” e deve-se-lhe o mérito da paz e desenvolvimento do país.

 

“A passagem para o multipartidarismo, a consolidação do Estado, a realização de eleições, as estratégias econômicas, as boas relações com o exterior, que proporcionaram para Angola grande prestígio internacional, são heranças que José Eduardo dos Santos deixa para a história do país, disse.

 

Em tom mais crítico, William Tonet, diretor do jornal Folha 8, defendeu que “não basta evocar os efeitos da paz e do crescimento econômico”, mas “é preciso procurar os resultados na forma como o povo vive hoje”.

Para Tonet, há uma realidade “marcada pela corrupção e a concentração de riqueza versus a miséria em que o povo vive a ensombrar o longo consulado” de Eduardo dos Santos.

“A correção destas discrepâncias poderia marcar positivamente o consulado do Presidente angolano”, disse o jornalista.