Luanda - Se é certo que a medicina angolana está em colapso de valores, nos conceitos da ética, da deontologia, da humanização, também, é certo que, a formação do homem médico há muito que cedeu por completo o rigor que tinha, em relação à quando se arquitectaram médicos como os Professores Doutores Lina Antunes, Ana Van Dúnem, Joaquim Van Dúnem, Fortunato, Jaime de Abreu, Maurício Caetano, Vidigal, David Bernardino, Bettencour, Chingala, Basílio, Torres, Cordeiro, Rui Pinto, Nene Filipe, Helena, Silvia Lutukuta, Cunha, Mário Fernando, Mário Frestas, (…). Esses e tantos outros talentos das ciências médicas, eram médicos formados com carácter de rigor, prosperidade, sabedoria e humanização, em que o seu fulgor na Diáspora, nos cursos de especialidade ou doutoramento em medicina pelo mundo fora, proclamou – se como uma estrela fúlgida no sustentáculo ocidental ou do universo. A formação do médico angolano, na altura, era ovacionada de ser uma das melhores formações nos PALOPS, tive a prioridade de conversar de antemão, com um médico formado em Havana (Cuba), Dr João Chiwana (médico especialista em medicina interna) que terá confessado que a Medicina em Angola, já chegou à esfera da mais rigorosa e mais difícil que a medicina de Havana.

Fonte: Club-k.net

Todavia, desde a era do Professor Doutor João Sebastião Teta (ex – Reitor da UAN) os ponteiros do relógio para a formação do Médico Angolano mudaram de postura “da qualidade à quantidade”, desde essa era à nossa, não se sabe pôr um travão nos números, para retornar à qualidade, a medicina é difícil, se está deixou de sê – la, é porque não se está a formar médicos, de facto. Hoje, a medicina perdeu por completo a formação do homem médico, tal é o resultado que se assistiu na admissão dos médicos angolanos, com péssimas notas, onde a maioria saiu reprovada, hoje a formação do médico, faz – se por número, não por qualidade, a qualidade foi sepultada na terra do exílio e do silêncio para jamais ressuscitar.



Ter um único médico bem formado em Angola, como na era da Dra Lina Antunes (médica internista), do Dr Cordeiro (médico intensivista), da Dra Ana Van Dúnem (médica gineco – obstetra), do Dr Joaquim Van Dúnem (médico pediatra), da Dra Vitória do Espirito Santo (médica pediatra), do Dr David Bernardino (médico pediatra), do Dr Mauríco Caetano (médico internista), do Dr Mateus Miguel Bettencourt (médico neurologista), do Dr Chingala (médico radiologista), do Dr Vidigal (médico cardiologista), do Dr Fortunato (médico internista), da Dra Silvia Lutukuta (médica cardiologista), do Dr Jaime de Abreu (médico cirurgião), do Dr Rui Pinto (médico especialista em administração hospitalar), da Dra Arlete (médica cirurgiã geral), do Dr Horácio (médico cirurgião geral) (…), que por sinal, nem sequer havia Internet como a temos hoje, tornou – se um milagre, num oceano de improbabilidades, agora está, a tornar – se, mais que improvável haver médicos bem formados, o que temos são os famosos Doutores dos corredores dos hospitais, que em nada dão às soluções necessárias às questões vinculadas ao dia – a – dia do paciente enfermo, quase impossível em Angola formar – se um médico de qualidade como no passado.

O panorama da formação do médico angolano hoje, é preocupante. Opta – se por professores cubanos, puros facilitadores dos alunos, que estão mais preocupados com a remuneração do que com a qualidade do formado, não formam como o fazem em Cuba, aqui, depreciam a qualidade do ensino, dão provas de fazê – las com olhos de estanques, e, quando fazem – se, todos os alunos transformam – se em génios da Alemanha como Albert Einstein ou Kant, com 19 valores, ao passo que a mente há muito que se fez num deserto completamente desabitado pela ciência, será pois anunciando o adágio popular “Não é pelo tamanho, que se mede a força de um gigante”. Enquanto os jovens angolanos, estão apenas preocupados com os diplomas, cada dia são mais captados pelo conformismo deformante nas Universidades, estudar apenas para ter a nota e passar de classe, viabilizar a concepção do diploma, e mais nada, ir as clínicas facturar, fez – se hoje, no denominador comum da formação do homem médico. Os velhos trajectos da formação do médico terminaram, no passado estudar medicina era mais amargo que a morte, provas eram postas à à estudar a noite toda até ao acordar, hoje, isso, morreu só, e foi enterrado no passado que somente a história sabe sentí - lo, faz – se provas lendo os “litos ou provatos” (provas antigas dos professores) sem nunca ler a matéria, há quem transformou as provas antigas dos professores como a própria matéria de medicina, não se vasculha a Medicina Interna de Harrison, não se apalpa a Biologia Cirúrgica de Sabiston, não se vagueia as entranhas da Obstetrícia de William, nem sequer de Jorge de Rezende, tudo que se tem de Medicina são os novos costumes viciados pelos interesses materiais, o que se sabe, colhe – se nas fendas dos litos ou provatos, cozidos sem sal, para alimentarem a carência cognitiva do estudante de Medicina na UAN ou em qualquer outra parada do País em que se estuda medicina, cujo fim último visa apenas passar de classe e mais nada, a Anatomia do Professor Basílio, que ontem eram rigorosa, e difícil, hoje é mais fácil que beber água.


Muitos se abdicaram por completo das bibliotecas de medicina, de facto, da sua natureza de sapiência, é raro ver hoje um médico a ler um livro, quer seja esse de medicina ou de cultura. Os médicos hoje estão mais alheios à medicina que nunca, os mais experimentados, hoje, embustearam – se à tentar ganhar muito dinheiro nas clínicas, de que não sabem desfrutar, ou já não poderão fazê – lo, por não terem tempo para tal. Mas a maioria, triturada pela pressão social dos interesses materiais, será, sempre, de relativos perdedores, nem dinheiro nem ciência às mãos, porém, a procura dos bens materiais pelo homem - médico escureceu a medicina, hoje, vivemos numa época do eclipse total da formação do homem - médico. Tudo porque o mundo moderno faz – se com dinheiro, enquanto o médico em lugares como na Namíbia, na África do Sul, na Nigéria, no Brasil, nos EUA, na Espanha, na Índia, no Japão, na Alemanha, na Suíça, no Reino Unido, são os homens mais respeitados e mais bem pagos pelo Estado, em Angola ficou apenas o trabalho por excesso, os casos à serem diagnosticados, e muitas das vezes, nem se sabe terminar tudo, eis que, o excesso do trabalho supera a força do médico, ao passo que os honorários são precários, um clínico geral, quase que não é respeitado, ganha pior que um enfermeiro licenciado, é esta realidade do médico angolano, ao passo que médicos expatriados como cirurgiões cardiotorácicos já chegaram à colher 40 mil dólares por mês como honorário, de que tão trópegos e broncos um dia alcançarão. E o abismo entre pobres e ricos cava – se cada vez mais nos Hospitais e clínicas, a arrogância do homem médico cresce como musgos perdidos em troncos velhos. Nas escolas profissionais médias de saúde os alunos que dali vêm, foram formados às brincadeiras, é a miserável ciência que se ausculta, não sabem escrever, não sabem física, não sabem matemática, não sabem Português, mas acorrem para ser médicos, que tipo de médicos serão? De certo que serão os piores da história, — eis que, sem saber não se pode ter um médico de qualidade, o ensino médio está em coma, é de formar número apenas, sem qualquer qualidade, os professores rigorosos, já não existem, os que acham – se na raridade, tornaram – se inimigos dos directores, são perseguidos tal quanto a sombra segue o sujeito, com riscos de serem escorraçados das escolas, por exigirem demais aos alunos, expulsarem os mal – criado das aulas, imporem disciplina nas aulas, e reprovarem os que pouco sabem. Hoje, a Lei do facilitismo impera no futuro estudante universitário, os números dos professores são decorados, os IBANS dos professores andam gravados nos telefones dos estudantes. Todos aprovam no ensino médio, quem reprova ou é inocente demais, ou não paga, ou nunca lá vai para fazer exames, porém, todos aprovam, se não aprova pelo facilitismo, aprova pela gasosa, se não aprova pela gasosa, aprova pela influência, e, assim forma – se os futuros estudantes universitários, os professores que não facilitam são expulsos das escolas, e tornam – se inimigos dos facilitadores.


Não há muita comunicação sábia entre os médicos, em gerais nos hospitais, circulam os enredos entre colegas, as memórias dos lares, nas redes sociais não se discutem casos clínicos, fala – se mais dos honorários e novos empregos, e mais nada, a ciência ficou coxa ou surda, os médicos são tomados pela fuga quando se fala de ciência nas redes sociais, os termos médicos que imperam em países avançados, fizeram – se hoje esquecidos, poucos são os que utilizam tal medicina do mundo — ontem, a medicina angolana, estacou integralmente como uma meretriz do atraso. O Conhecimento hoje ficou ausente na mente de muitos médicos, o acto visa cumprir rotinas, e nunca ler um simples formulários de um novo fármaco, os protocolos substituíram a “Lei de Buscar da Ciência de Hipócrates nas pesquisas e nos livros”, muitos diagnósticos são mal – feitos por total carência de conhecimento, de interesse pela leitura ou de vocação para ser médico. Não há empatia hoje para cuidar dos doentes, os diagnósticos não são dados mediante os quadro clínico, porém, mediante o que se tem em memória sobre a tríada fisiopatológico, muitos doentes, morrem porque os médicos desconhecem o que fazer para salvar a vida dos doentes, não há quem saiba pôr um travão nisto. Mas isso não sucede apenas nos Hospitais nacionais ou provinciais, até nas idílicas clínicas de contos de fadas, que dizem serem semelhantes às clínicas do primeiro mundo, pelo ser perfil arquitectónico (…), o erro infectou até os pilares destes lugares, praticam – se tantos equívocos, quanto se realizam nos Hospitais, porque os lugares que formam são os únicos e os mesmos, com a mesma precariedade para formar o homem – médico, que espera aprender no local de Serviço, enquanto for médico, e acorrer ao Hospital com mente desabitada do tamanho de uma montanha. A escola de Medicina angolana tornou – se obsoleta, decadente, transformada em simples jardim infantil ou guarda de jovens e adultos, em geral não prepara ninguém para pensar medicina, dialogar com ética e civismo, as boas maneiras neste lugar são fúteis, a escola não prepara ninguém para interpretar casos clínicos complexos, para solicitar exames complementares com análise clínica racional, responder as situações fisiopatológicas com entusiasmo e gnoseologia, nem conhecer o legado da Medicina da Professora Lina Antunes, Jaime de Abreu, Fortunato, Basílio, Mário Frestas, etc… etc… A escola deixou de ser escola, e passou à ser o lugar por onde os jovens ansiosos em ser médico, sem querer antes aprender, acorrem para solicitar um diploma, sem aprenderem antes a medicina. A escola ocupou o tempo e envelheceu precocemente os jovens, deu – lhes contacto com a indolência, debitou – lhes ideologias feitas ciência (por acção primária, por subtil omissão, depois), ou bem intencionados conhecimentos sem enquadramento e sem sentido de cultura médica e prática. Por isso os interesses extra – profissionais do homem – médico limitam – se à obter dinheiro nas clínicas e mais nada, esqueceram – se das leituras dos manuais de medicina ou de cultura, do saber. Os médicos entram e saem de bancos sucessivos para aumentar o ordenado, porque o que se ganha é precário, ficou de fora o conhecimento do doente, a empatia, o diagnósticos acertado e racional, pedem – se excessivos exames complementares para um simples diagnóstico que de nada justifica, não se age à tempo num AVC ou AIT sem um TC, não se diagnostica uma pneutórax sem RX – simples do tórax, esqueceu – se a medicina clínica, são hoje as novas máquinas as muletas mais preciosas dos médicos, e não os livros, em geral médicos super – equipados, porém, despidos de conhecimento teórico, espera – se que, se saiba apenas o que se aprende na prática, enterrando os velhos paradigmas da clínica médica no abismo.


Há falta de rigor em quase tudo nos Hospitais e nas clínicas, há falta de memória do passado médico, a lassidão intelectual que por toda Angola se infecta, como agigantar – se do nada, da história interminável, dão bem a medida, de quão pouco se pratica a Arte Médica — de Hipócrates. Na verdade, escreve – se muito mal as receitas e histórias clínicas, do que se lê, as notas de entrada dos doentes são mal elaboradas, sem qualquer natureza intelectual e racional, colhem – se os termos obsoletos de uma medicina que se tornou arcaica, e fez – se mestre da vergonha nos hospitais e clínicas. A deturpação do papel tradicional do médico, que nos é imposta, e a qual nos acomodamos: examina – se mal e a lume de palha; não se ouve o paciente, negando – lhe o consolo da palavra carinhosa; é a alternativa o consentimento informado, a crua, e inumada descrição do mal que aflige e até, previsão sinistra, o que lhe resta de vida. A falta de atenção transparente, também, na pressa e no enfado dos profissionais de saúde, e o desvalido enfermo, revestido somente do pano inconsútil de sua frustração, e sem poder desenrolar os para ele magnos queixumes, sai dos hospitais vergado aos inumeráveis ressoos do linguajar, em geral inerentes aos cuidados despidos de ciência e humanização que lhe foi forçado a receber.


Os profissionais de saúde não se devem atulhar de ter a mente preguiçosa de à leitura de livros ou de artigos científicos, e o coração amortecido de amor no contacto com o sofrimento alheio, e ao se tornarem cada dia mais sensíveis, desmentirem o epíteto de Hipócrates. É possível e adequado para a humanização se constituir, sobretudo, na presença solidária do profissional, reflectida na compreensão e no olhar sensível, aquele olhar de cuidado que desperta no ser humano sentimento de confiança e solidariedade. O desenvolvimento científico e tecnológico tem trazido uma série de benefícios, sem dúvida, mas tem como efeito adverso o incremento da desumanização. O preço que pagamos pela suposta objectividade da ciência é a eliminação da condição humana da palavra, que não pode ser reduzida a mera informação de Anamnese. Por exemplo, quando preenchemos uma ficha de história clínica, não se escuta a palavra, mas apenas recolhe – se a informação necessária para o acto técnico. Este é indispensável, sem dúvida, mas o lado humano fica excluído. O acto técnico, por definição, elimina a dignidade ética da palavra, pois esta é necessariamente pessoal, subjectiva, e precisa ser reconhecida na palavra do outro.


A dimensão desumanizadora da ciência e tecnologia se dá, destarte, na medida em que ficamos reduzidos a objectos de nossa própria técnica e objectos despersonalizados de uma investigação que se propõe ser fria e objectiva. Até instituições militares como o ISTM que de facto, seria o melhor lugar em termos de rigor militar e do saber, tem – se o dito rigor às escondidas, o que há de disciplina são as regras marciais/ ou militares, da força, mas o saber permanece obscuro, admitem – se, estudantes que reprovam nos testes de admissão, muitos dos que ali auguram entrar, são filhos de generais ou outros oficiais superiores militares, cujas vagas lhes são reservadas, não pelo mérito, mas pelo nepotismo, pela grandeza social dos pais, se ali estão, tiveram de solicitar uma vaga em nome de qualquer coisa, e assim, vão - se edificando os futuros médicos de Angola. Tanto na medicina civil quanto na militar ficou forjada no pecado genial do saber, o novo médico, faz – se hoje, o médico pelo número de formados e não pela qualidade do formado. Não sabemos até onde iremos parar com esse tipo de formação, que hoje enfrentamos, e que País teremos no futuro.

Um hospital pode ser excelente na questão da tecnologia e mesmo assim ser desumano no atendimento, por tratar as pessoas como simples objectos de intervenção técnica, sem serem ouvidas em suas angústias, temores e expectativas, ou sequer informadas sobre o que está sendo feito com elas, pois, o saber técnico, define e consiste no bem do paciente, independentemente de sua opinião. Por outro lado, o problema em muitos outros locais é justamente a falta de condições técnicas, seja de capacitação, seja de materiais. Tais locais, se tornam desumanizados pela má qualidade resultante do atendimento e sua baixa resolubilidade. Essa falta de condições técnicas e materiais também pode induzir à desumanização, na medida em que profissionais e usuários se relacionem de forma desrespeitosa, impessoal e agressiva, piorando uma situação que já é precária.

BEM – HAJA!