Luanda - Se observar bem a Política Externa dos Estados Unidos da América (EUA) é fácil descobrir a sua natureza, os seus objectivos estratégicos e os mecanismos que utiliza frequemente para alcançar as metas preconizadas. Para já os EUA é uma potência global, que assenta no conceito de grandeza e de supremacia mundial, capitalizando o seu património cultural, que se coloca acima de tudo.

Fonte: Club-k.net


Os EUA se aposta sempre na excelência, na capacidade científica e tecnológica de se manter no topo da pirâmide, ditando as regras do jogo. Acima de tudo, os EUA assenta o seu Projecto Político de Sociedade na inclusão e na seleção de cérebros dotados de inteligência fina, vindo de todos os cantos do mundo, que são atraídos para dentro, incorporados, integrados, valorizados e transformados em instrumentos eficazes do desenvolvimento sustentável. Aliás, a economia dos EUA é a maior do mundo, altamente estruturada, modernizada, industrializada, informatizada e competitiva.


O exposto acima é conduzido por instituições fortes e apartidárias; regidas e conduzidas por normas constitucionais; erguidas dentro de um sistema do poder tripartido; que se conjuga entre si, num eixo delimitativo de equilíbrio e de fiscalização recíproca. Este Eixo do poder delimitativo tripartido é que constitui o guardião dos interesses estratégicos americanos, que passam por crivo constante, por avaliação e por ajustamento à dinâmica constante, evitando qualquer tipo de desvios, que contrariem os valores e os princípios fundamentais do Estado Americano.


Portanto, a formulação da Política Externa Americana é submetida a um processo complexo de tramitação legal para que esteja dentro dos padrões estabelecidos pela Constituição. Note-se que, a Carta Magna dos EUA é suprema e dificilmente se sujeita ao Direito Internacional quando se trata da soberania e da cidadania da Nação Americana. Por isso, ao lidar com os EUA requer precaução a um conjunto de pressupostos legais, políticos, económicos, culturais e de segurança interna e externa. Qualquer acto de transgressão do acima exposto, que contrarie o Conceito de grandeza e de supremacia global, é capaz de conduzir à ruptura imediata, seguida de medidas de retaliação.


Melhor saber que, os Americanos comportam como uma Leoa faminta com suas crias, que se abriga a espera de uma presa. O tempo de esperar no abrigo não conta muito desde que nas imediações estejam alvos em volta. Por este motivo, quando estiver a lidar com os Americanos é aconselhável precaver-se de possíveis surpresas no caso dos seus interesses estratégicos estiverem em causa. Pois, o que conta mais aos Americanos é a manutenção eficaz e eficiente do Poder Global.


É importante notar que, os EUA não actua como a Rússia ou a China que podem manter as relações de amizade na base da ideologia política. Nesta lógica, os exemplos de ruptura e de hostilidade com os seus parceiros são inúmeros. Neste momento, por exemplo, se verifica o clima de tensão e de crispação intensa entre os EUA e a Aliança Norte Atlântico (OTAN). É preciso acautelar o facto de que, os EUA não toleram quem abusa da abertura, da aproximação ou da boa vontade nas relações bilaterais com eles.


Quando isso acontecer, por mais tempo que durar, mas sempre chegará o momento de prestar contas.


Portanto, a abertura dos EUA ao Governo Angolano deve ser encarada com muita seriedade e responsabilidade.


Como foi dito atrás, os Estados Unidos da América é o Poder Global que é a maior economia do mundo, com uma tecnologia mais avançada do que qualquer outra potência mundial. Além disso, o sistema monetário, financeiro e bancário do mundo são controlados pelas Instituições Americanas. Logo, nesta fase de indigência e do combate à corrupção, a cooperação americana é essencial e indispensável. Seria fatal se formos a repetir o mesmo cenário de aproveitamento gratuito da ajuda americana nos momentos críticos. Mas depois disso, bater-lhes por baixo e alinhar-se com outras potências, num ambiente intenso de sofisma, de arrogância, de desprezo e de ingratidão.
Isso não significa que não tenhamos relações de amizade e de cooperação com outras potências do mundo.


O essencial no mundo actual de globalização é a manutenção de equilíbrio através da diversificação de relações de cooperação, de modo a não tornarmo- nos num Estado Satélite, como foi durante a Guerra Fria. Aliás, seria irrealista se ignorássemos uma potência emergente como a China, o país mais populoso, a segunda maior economia do mundo, com investimentos enormes em Angola e com a presença significativa em todos os Países Africanos.
Parafraseando, interessa recordar-se do Comité de Sanções das Nações Unidas que tivera sido (na altura) incumbida a missão de investigar, localizar, bloquear e confiscar todo o património da UNITA. No decurso da operação o Comité de Sanções teve a atribuição de plenos poderes de investigar tudo que estava ligado directa ou indiretamente a Angola. Neste caso, o mais caricato é o facto do Relatório do Comité de Sanções não ter vindo à superfície até aos dias de hoje.


Todavia, o essencial é o facto de ter descoberta uma série de contas bancárias chorudas dos governantes e dirigentes do Partido no Poder. Penso que, este tivesse sido um dos motivos principais que estiveram na origem da ruptura do Presidente José Eduardo dos Santos com as Potências Ocidentais. Preferido, deste modo, alinhar-se com as Potências Asiáticas que se acomodavam com o estado crítico da corrupção em Angola.


Sem dúvida nenhuma, os EUA sabem onde se encontram escondidos os recursos financeiros roubados e desviados dos Cofres do Estado Angolano. Aliás, chegou à altura das Nações Unidas permitirem o Governo do João Lourenço ter acesso ao Relatório do Comité das Sanções. Este gesto ir-se-á contribuir enormemente ao esforço titânico do repatriamento dos recursos financeiros angolanos, postos fora do país de forma ilícita.


Por isso, a disponibilidade do Washington em cooperar com Luanda em busca deste património é um sinal evidente da importância estratégica de Angola na Região Subsaariana. A este respeito, a estratégia americana surgida no rescaldo da guerra fria ainda mantém-se válida, se tiver em conta o agravamento actual de rivalidades políticas, comerciais e militares entre os EUA, a China e a Rússia.


Logo, a vinda recente a Angola do Secretário de Estado Adjunto Americano, John Sullivan, reflecte a preocupação dos Estados Unidos da América sobre a nossa Região que engloba o Golfo da Guiné e o Grande Lagos. Óbvio, isso faz parte do combate ao terrorismo internacional, à corrupção, ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo.

Em síntese, o fundamental nesta aproximação entre Luanda e Washington, que é o cerne desta reflexão, consiste na combinação e na realização simultânea das reformas económicas e políticas. Pois que, a liberalização política é essencial para tornarem sustentáveis as reformas financeiras e económicas. Se isso não acontecer haverá sempre o risco de manter-se na estaca zero sem dar um passo significativo ao processo da democratização das Instituições do Estado, que se encontram num estado absoluto da partidarização, da centralização e da concentração político-administrativa e financeira.


Repare que, as Autarquias locais não surtirão efeitos desejados se não houver a despartidarização do Estado Angolano, assente no poder unipessoal. Para dizer que, o sistema político norte americano assenta-se na cultura democrática, na economia do mercado, na integração global, na boa governação e na competitividade. A sua diplomacia é vinculada a este sistema, como sendo o instrumento principal da política externa e das relações internacionais.


Por analogia, esta situação acima referida é muito diferente daquilo que é a realidade de Angola, onde prevalece ainda a discriminação político-partidária e a exclusão sócio- cultural. Se esta lacuna, de princípios estruturantes, não for superada o mais cedo possível, é bem provável que o ímpeto da cooperação estratégica entre Luanda e Washington, nesta matéria, será de pouca duração, conforme aconteceu no fim da Guerra Fria.


Luanda, 24 de Março de 2019.