África do Sul - Três anos tinham se passado desde a queda  do regime do apartheid. As marcas das políticas segregarias eram ainda visíveis. Nas escolas os jovens negros rejeitavam estudar o africaans  sob alegação de ser uma língua de gente  que maltratou os seus pais. Os professores brancos desencorajavam-nos a realizar o sonho de  ir a Universidade estudar  cursos como medicina ou engenharia.

ImageÉramos angolanos que chegávamos para fins acadêmicos. Os nossos encarregados tinham como preferência, para nos, os melhores colégios  que obviamente eram os mais caros. Estávamos matriculados no “Capital College”, uma escola bastante conhecida que ate pouco tempo não era freqüentada por negros. No primeiro semestre, os alunos brancos solicitaram a direcção da escola para tomar medidas porque não suportavam a convivência com os que não fossem da sua cor. O Apartheid já estava ilegalizado e não nos podiam dizer que não deveríamos estar misturados com os estudantes brancos como também não podiam nos despedir porque eramos clientes que não viam, em nos, problemas de atraso de propinas. Na manha de uma terça feira, fomos chamados para uma reunião em que seriamos informados que a direcção  da escola estava preocupada com o nosso fraco domínio da língua inglesa e que uma reprovação em massa poderia afectar o prestigio da escola uma vez que as melhores escolas são as que mais aprovam os alunos. A escola informou-nos que como medida de prevenção e para o nosso bem passaríamos a ter, no período da tarde, uma nova cadeira que se chamava “extra Inglês” e para o efeito seriamos doravante agrupados de acordo com o domínio da língua. Isto é  Passou haver salas  para os que falavam fluentemente o inglês que neste caso eram os brancos e sala para os restantes que eram a maioria dos negros angolanos e alguns estudantes chineses.

Na sala de aulas não tínhamos problemas com os professores.  mostravam-se amáveis para conosco mas  viriam a ter alguma desilusão. Na  recepção da directoria havia um telefone disponível aos alunos que desejassem comunicar-se com os pais  na hora da saída ou em outra eventualidade. Nos os angolanos víamos aquilo uma oportunidade impar. A escola teve de tirar dali o telefone porque as ultimas contas apresentavam valores altíssimo com registro de chamadas para Angola, Portugal e resto do mundo, obviamente que eram os angolanos.  Era uma practica que fazíamos  na sala de protocolo do aeroporto internacional de Joanesburgo cujo telefone publico era  grátis para os viajantes de classe executiva.

Passado algum tempo os nossos colegas de ton de pele diferente a nossa passaram a ter melhor impressão sobre nos. Éramos negros que íamos para escola de táxi, usávamos trajes de marca. Sempre que saíssem novas sapatilhas da Nike, o angolano trazia dia seguinte nos  pés. Nas lojas quando os brancos fossem comprar algo, o gerente dizia que os números limitados tinham sido comprados por angolanos. Os colegas brancos viam em nos negros diferentes aos Zulos. O angolano soube impor-se e passou a ser respeitado devido a opulência.

Na África do sul não existe o que chamamos em Angola de curso médio. Depois da 9 classe o estudante que deseja, no futuro, estudar engenharia, apenas tira como disciplina as cadeiras relacionadas ao curso que pretende fazer. Por exemplo, quem desejar tirar direito não precisa de tirar matemática, físicas e etc. mesmo que desejar, será bem vindo mas fará num nível diferente aos outros, ao que eles chamam “high grade” e “Standarde grade”. Para quem deseja fazer medicina no futuro, as cadeiras de biologia e química devem ser em “high grade”.  O que acontecia na verdade? Como os professores receavam que a escola registrasse um elevado numero de reprovação que afectaria fortemente a reputação da escola passaram a nos encorajar a fazer todas  disciplinas em “Standard grade”. Logo com cadeiras neste nível o aluno, passa de classe mas não tem acesso a Universidade por não apresentar os requisitos. Em contra- partida muitos iam para os institutos técnicos superiores, hoje chamados por universidades técnicas, e outros iam para escolas privadas de ensino superior. Eram poucos alunos angolanos que estavam nas  Universidades de renome. Os que tivessem acesso ainda encontravam alguns entraves. Havia um estudante que em Angola chegou a estudar o  terceiro ano de medicina mas posto na África do Sul  teve de repetir o 12 ano. Quando entrou para Universidade não lhe foi dado equivalência em nenhuma das cadeiras, feitas em Angola, porque os métodos de ensino eram totalmente diferente (mais a frente concluímos que sim). Um outro angolano queria estudar  arquitectura na Universidade de Pretoria. Posto lá teve  de desistir  porque no terceiro ano havia uma cadeira que estava na Língua Africaans que ele não dominava. Quer dizer o apartheid já não existia mais havia métodos que faziam-nos vive-lo.

Fonte: Jornal Angolense