Luanda - As recentes declarações produzidas pelo General Furtado, em entrevista ao Programa Café da Amanhã, do jornalista José Rodrigues, da LAC, confirma o que, na verdade, há muito já se sabia: a fonte do Poder do Governo de MPLA estava completamente arraigado em práticas consubstanciadas em intrigas. Bastava um enrendo construido a partir da narrativa da conspiração para prejudicar para todo sempre a vítima da vez.

Fonte: Club-k.net

Ao que entendi, o General Furtado foi vítima de uma cabala que no fundo ainda faz parte de uma cultura, completamente, instalada no aparelho do Estado. Desenganem-se os leitores se julgam que o caso do General Furtado é o centésimo. Não, não é. Infelizmente, essas práticas acontecem todos dias e a todos os níveis.


Porquê? Porque a cultura da guerra, a vontade de anular o outro, encarar o colega como adversário, faz parte do Estado de natureza do angolano. É evidente que não se trata de uma particularidade exclusiva do ser humano angolano. Há exemplos acabados em diversas literaturas atestando que a tendência humana é a tentativa constante do domínio do seu semelhante. Bastaria ler O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, entretanto, muitas vezes, completamente, adulterado em face das circunstâncias, para compreender tamanhos disparates da vida civilizacionada.


O grande problema, a meu ver, é a cobertura institucionalizada que se dá a esse tipo de práticas abusivas, absolutamente lesivas ao próprio funcionamento do Estado. Foi assim no 27 de Maio. Foi assim no caso Kassule e Kamulingue. Foi assim no 15+2. Tem sido assim no caso de afastamento, diria, compulsivo, de vários quadros( o Albano Pedro chama de intrigas palacianas). O curioso é que em todos esses movimentos estão envolvidos os Serviços de Inteligência. Ou seja, vende-se a ideia de que a intriga é apadrinhada por essa estrutura do pseudoestado, sim, porque o fim último do Estado e as suas estruturas não pode ser a barbárie.


Garantir os direitos e realiza-los é o fundamento de qualquer Estado Moderno. Ora, existem elementos, figuras jurídicas que podem ajudar a vigiar se essa premissa transconstitucional está a ser observada. O exercício da cidadania com acções concretas de governabilidade e não de governance, pode ajudar a aclarar o funcionamento das diferentes estruturas que compõem o Estado. Cá para mim, é legítimo questionar a eficácia dos Serviços de Inteligência quando colocados ao Serviço da Comunidade e não prejudicando uns a favor de outros.

Rui Kandove
13.04.19