Luanda - Os trabalhadores da Empresa Pública de Águas de Luanda (EPAL) estão em greve desde 28 de Março. No caderno reivindicativo está um pedido de reajuste salarial na ordem dos 200%, para os salários mais baixos.


Fonte: VOA

Esta greve agrava a distribuição de água na capital angolana, que per si é já um problema em Luanda.

 

António Martins Domingos, primeiro secretário da Comissão Sindical dos Trabalhadores da EPAL foi o convidado do Angola Fala Só, de 12 Abril, que fez o ponto de situação da greve e das negociações entre os trabalhadores e a EPAL.

 

Luz ao fundo do túnel

 

De acordo com o sindicalista, as soluções para o fim da greve estão do lado da entidade empregadora, que se tem demonstrado pouco flexível, sem "postura democrática" e cujos gestores públicos "não competência para tal".

O empregador prometeu mas não se comprometeu"


Para Domingos, o pedido de reajuste salarial a 200% justifica-se para os salários mais baixos, que rondam os 50 mil kwanzas, cerca de 156 dólares americanos, que passariam a 150 mil kwanzas, que rondaria os 469 dólares por mês.

 

"Exigimos [o reajuste] porque os membros da administração [da EPAL] um aumento. O PCA (Presidente do Conselho de Adminstração) aumentou o seu salário de um milhão e cinco mil kwanzas para dois milhões e quinhentos e cinquenta mil kwanzas. Se o senhor PCA não conseguia satisfazer as suas necessidades com um salário de um milhão (...) então um trabalhador com 50 mil não consegue sequer adquirir a cesta básica", explicou Domingos.

 

Greve é "forma de pressionar a entidade empregadora para se ver forçada a atender os pedidos dos trabalhadores", disse o convidado.

 

Mas nem por isso os trabalhadores da EPAL, há duas semanas em greve, sem garantir serviços mínimos, estão a conseguir ver as suas exigências atendidas.

 

Esta é uma de muitas greves dos trabalhadores da EPAL, que dizem estar à espera de uma solução "há décadas" - "o empregador prometeu mas não se comprometeu em cumprir com as promessas".

 

A nossa água tem água, tem cheiro e tem sabor..."
Respondendo à questão da constante falta de água, António Domingos acusou pessoas próximas do governo, dos generais e da administração de comercializar a água para benefício próprio, usando as girafas "mal distribuídas" pela cidade para vender a água e "satisfazer os seus próprios interesses".

A falta de água na cidade de Luanda "não tem só a ver com a greve, mas também com a incompetência dos gestores da empresa", disse Domingos, acrescentando que aqueles "não têm demonstrado preocupação nenhuma com a situação da falta de água em zonas como o Zango", que dura há já dois meses, segundo um internauta que participou no programa.

O sindicalista levantou também a questão de existirem 40 contas bancárias associadas à EPAL o que revela "desordem em termos económicos" e o que dificulta a fiscalização à gestão da empresa de águas.

O salário é magro e cai tarde"
Domingos não poupou críticas à administração da EPAL. Quando questionado sobre a qualidade da água que se consome em Luanda, disse que isso está relacionado com a gestão "péssima, que é danosa e criminosa", revelando que o "neste momento a EPAL não tem químicos para tratar a água, o que é uma situação que não é inerente à greve" e que já têm vindo a denunciar.

"Não se trata a água por capricho dos nossos gestores", disse António Domingos que não aconselha o consumo da água por receio de patologias greves, realçando que a "nossa água tem cor, tem cheiro e tem sabor".

Questionado sobre os serviços mínimos da EPAL durante a greve, o sindicalista disse ser uma responsabilidade da entidade empregadora, que "ofendeu muito os trabalhadores" e não demonstra "boa-vontade", mas só ganância.

O "salário magro" que "cai tarde" é a motivação da greve dos trabalhadores da EPAL, que desde pelo menos 2011 se manifestam contra as condições em que trabalham.

Ao telefone também participou no debate Manuel Nito Alves, um dos activistas dos 15+2, que perguntou por que motivo só agora os trabalhadores da EPAL reivindicavam e não no tempo de José Eduardo dos Santos.

António Martins Domingos disse que desde 2011/ 2012 os trabalhadores têm vindo a manifestar-se, explicando que agora os meios de comunicação divulgam mais.

"Nós não nos manifestámos só agora. Esta é a situação vivida no final de 2014. Nessa altura tivemos três greves e alguns trabalhadores passaram a quadra festiva na cadeia. Mas nessa altura não havia a abertura que há hoje por parte dos órgãos de difusão (nem privados) para divulgar as nossas greves, mas sempre manifestámos publicamente as nossas inquietações."