Luanda - Os dois maiores partidos da oposição angolana elogiaram hoje a iniciativa de homenagem às vítimas dos quase 30 anos de conflito do país, mas defenderam total abrangência e clarificação do processo.

Fonte: Lusa


Em causa está a proposta ao Governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder, de se homenagear as vítimas produzidas pelo conflito político que se viveu em Angola entre 11 de novembro de 1975, ano da independência do país, e 04 de abril de 2002, fim da guerra civil em Angola.

 

Segundo o porta-voz da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Alcides Sakala, trata-se de um passo importante, porque dá resposta às posições que o maior partido da oposição foi assumindo ao longo destes anos, "no sentido de se encontrar uma plataforma que permita abordar um conjunto de questões transversais à sociedade".

 

"Aquelas questões que estão acima dos partidos políticos, mas que criavam de facto constrangimentos ao nível da sociedade. Uma vez estabelecida uma plataforma comum isto poderá permitir começarmos a pensar a reconciliação nacional, como é que a vamos construir, esse futuro comum de igualdade, justiça e desenvolvimento para todos os angolanos", disse, em declarações hoje à agência Lusa.

 

Alcides Sakala sublinhou que esse processo não deve ser "apenas para uns angolanos em detrimento de uma maioria".

 

"Temos que ir para lá das homenagens, para se estabelecer uma base de discussões, de diálogo, estruturada, permanente e inclusiva", frisou.

 

O político disse que "as vítimas estão identificadas, são conhecidas, no seio da sociedade, nas organizações", dando o exemplo de dirigentes da UNITA que foram mortos durante o conflito, nomeadamente Jeremias Chitunda, Salupeto Pena pi Alicerce Mango.

 

"E outros que desapareceram no quadro do conflito e de situações internas também. Tudo isto deve ser devidamente avaliado para que se encerre de uma vez por todas este capítulo", disse, recordando que o "27 de Maio", um golpe falhado que resultou em milhares de mortos da oposição interna, é outro dos momentos que deve ser incluído no processo.

 

"Não podemos mudar o passado, o passado está lá cheio de passivos, agora é preciso reconhecermos que é preciso mudar de página para começarmos a trabalhar para o futuro, para a reconciliação dos angolanos", acrescentou Alcides Sakala, salientando que a própria UNITA irá discutir internamente o tema.

 

Por sua vez, o dirigente André Mendes de Carvalho "Miau", da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), considerou que é necessário perceber "o que é esta homenagem e o que significa".

 

"No nosso ponto de vista, as coisas só farão sentido no caso de um aprofundamento ou debate com vista a esclarecer quem são essas vítimas. Sem essa clarificação de quem são essas vítimas ficamos sem compreender muito bem a quem homenagear", referiu.

 

De acordo com o líder da segunda maior força política da oposição angolana, a iniciativa do Presidente da República "é válida", mas é necessário concretizar.

 

"Porque é necessário que haja esclarecimento, saber concretamente o que é que foi cada uma das crises, quantas vítimas cada conflito fez, uma espécie de uma comissão da verdade", sugeriu o político.

 

Para André Mendes de Carvalho "Miau" a comissão para trabalhar nessa questão e criada pelo Chefe de Estado angolano é "bastante satisfatória", propondo a integração de políticos, igrejas, elementos da sociedade civil.

 

"Tem que ser uma comissão o mais ampla possível, incluindo também as próprias pessoas envolvidas no processo" como vítimas, salientou.