Lobito - O secretário-geral do Clube dos angolanos no exterior (Club-K), José Gama, insurgiu-se contra a mudança no método da eleição do Presidente da República. Ele fez esta revelação em Benguela, durante um encontro promovido pela organização não governamental Omunga.

 

* Rick Santo, em Benguela
Fonte: Novo Jornal


Gama adverte que, ao afirmar que preferia eleições por via do Parlamento, à semelhança do modelo sul-africano, ao invés do sufrágio universal, o Presidente José Eduardo dos Santos “está a enveredar por um caminho pouco seguro e perigoso para a democracia
da nação”.

 

Ao abordar o tema “Informação e desenvolvimento humano: efeitos e consequências da informação no desenvolvimento”, inserido no programa “Quintas de Debate” da Omunga, o secretário-geral do Club-K-Angola disse que a experiência internacional não favorece o país neste tipo de escrutínio.

 

José Gama afirma que o PR não está a ter em conta os sinais que o tempo envia porque, segundo o mesmo, Angola está a portas de imitar o modelo do país de Jacob Zuma, numa altura em que os próprios sul-africanos estão a batalhar para mudar o seu modo de eleição do Presidente da República.

 

“Então eles mudam e nós caímos no erro do qual eles estão a sair?”, interrogou-se o prelector, para quem é necessário reflectir muito seriamente antes de se tomar essa decisão.

 

Há muitos anos a residir na África do Sul, Gama diz ter ficado  surpreso quando, numa primeira intervenção por ocasião da visita a Angola do Chefe de Estado Jacob Zuma, Eduardo dos Santos defendeu uma eleição por sufrágio universal e horas depois mudou a sua posição e apontou a escolha através do Parlamento.

 

Por isso, aconselha os deputados que actualmente estudam as propostas para a nova Constituição a manterem o actual modelo eleitoral. Justifica a sua posição dizendo que se o partido que ganhar as eleições legislativas apresentar um Presidente que o povo não quer, nunca poderá haver estabilidade e entendimento, porque será uma imposição partidária. “Mais do que isso, eu acredito que dentro de dez ou vinte anos, se outro partido ganhar as eleições, vai novamente voltar à eleição directa”, sentenciou.

 

Segundo José Gama, se a eleição indirecta vincar na nova Constituição, os deputados vão sentir com o passar do tempo que trabalharam na mutilação da democracia porque vai cortar a iniciativa de muitas pessoas, com formação e capacidade, de apresentarem-se com candidaturas independentes à Presidência da República de Angola. “E na minha opinião, os candidatos independentes são indispensáveis para a democracia”, frisou.

 

José Gama, diz mesmo que uma das grandes fragilidades do país encontra realidade em Benguela, onde a intromissão no poder estatal é quase constante. “O primeiro secretário provincial do MPLA já se sente um mini-governador, querendo fazer frente à governação da província”, enfatiza, sustentando que este tipo de atitude atenta contra a normalidade institucional.

 

Afirma que o exemplo deixado pela governação anterior à de Armando da Cruz Neto é muito má para a população. O interlocutor pede aos jornalistas que trabalhem cada vez mais e melhor para levar a informação clara e certa a todos os recantos da província de Benguela, em particular, e do país, em geral, como forma de elucidar o povo sobre assuntos de interesse nacional como o da nova Constituição, em que cada um deve dar o seu contributo.

 

“Afinal não estamos a falar de uma lei qualquer, está-se a tratar da lei mãe da nação”, notou.Quem também atribui responsabilidades aos deputados em todo este processo é o professor universitário Carlos Pacatolo, para quem o facto do Presidente da República ter dito que preferia a eleição indirecta não coage os inquilinos da casa das leis de tomarem a iniciativa que melhor se encaixe nos interesses do País.

 

Para ele, “o Chefe de Estado expressou a sua opinião pessoal inerente a um assunto de extrema importância para a nação, sem que alguma vez publicamente tenha chamado, ou dado indicações precisas, para que a sua vontade fosse uma ordem”. Agora cabe a quem trabalha no dossier, decidir quais os melhores caminhos, frisou.