Luanda - A UNITA, maior partido da oposição em Angola, pediu hoje que Luanda e Kinshasa accionem os mecanismos multilaterais africanos para resolver o problema dos cidadãos que estão a ser repatriados em massa de ambos os países.


Fonte: Lusa


O porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, disse à Agência Lusa que Angola e a República Democrática do Congo (RDC), "no interesse dos dois países", deviam encarar a Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEAC) e a Comunidade de Estados da África Austral (SADC) como plataformas privilegiadas para a procura de uma solução consensual para o problema das expulsões mútuas de cidadãos.

 

Enquanto uma solução não surge, Alcides Sakala defende que a "lua-de-mel" entre os presidentes angolano, José Eduardo dos Santos, que ainda não se pronunciou sobre esta situação, e da RDC, Joseph Kabila, "chegou ao fim".

 

José Eduardo dos Santos e Joseph Kabila são tidos como dois aliados desde que o actual Presidente congolês recebeu apoio militar de Luanda durante o conflito armado com o Ruanda, entre 1998 e 2002.

 

A UNITA lembrou ainda que Kinshasa reivindica áreas geográficas estratégicas de Angola devido à produção petrolífera, na região de Cabinda, onde tem a RDC uma faixa litoral de meia centena de quilómetros.

 

"Não podemos esquecer que existe uma situação de reivindicação da RDC de partes do território angolano que dizem pertencer-lhes, nomeadamente áreas petrolíferas", afirmou Sakala.

 

Segundo a UNITA, o actual cenário tem dois aspectos que não podem ser dissociados, um estrutural, "que é a reivindicação de espaços estratégicos angolanos por Kinshasa", e outro conjuntural, "da população angolana que está a ser expulsa da RDC depois de Luanda ter repatriado milhares de congoleses", especialmente nas zonas diamantíferas das Lundas.

 

"Devia-se rapidamente criar uma plataforma para aproximar pontos de vista da RDC, Angola e também Congo-Brazzaville, para se chegar a um consenso sobre esta situação migratória", notou ainda Alcides Sakala.

 

Luanda já criou uma comissão liderada pelo vice-ministro das Relações Exteriores, George Chicoty, encarregue de dialogar com Kinshasa mas, até ao momento, não são conhecidos desenvolvimentos.

 

Sakala lembrou também os angolanos que vivem há mais de 40 anos no Congo e que estão a ser repatriados, "o que é errado visto que estas pessoas escolheram a RDC como a sua segunda pátria".

 

"Deviam-se accionar os mecanismos diplomáticos bilaterais e também multilaterais da SADC e da CEAC, para ver se existe uma solução para este problema, numa altura em que África caminha para processos de reintegração regional", sublinhou.

 

"Mais humanismo no tratamento de questões pontuais como esta", pediu, porque "os congoleses repatriados de Angola vieram para este país para procurar o seu sustento e os angolanos expulsos do Congo vivem lá por razões óbvias".

 

Alcides Sakala disse "esta questão é pacífica e pode ser solucionada a curto-prazo no interesse dos dois países".

 

Mais de 30 mil angolanos já foram expulsos da RDC desde 05 de Outubro, 24 mil dos chegaram a Angola pela província do Zaire, segundo números oficiais.

 

A ordem de expulsão foi aprovada no Parlamento congolês e é vista oficialmente por Luanda como uma retaliação pelo repatriamento de mais de 100 mil congoleses das Lundas onde se dedicavam ao garimpo ilegal de diamantes nos últimos anos