Lisboa -  O músico e escritor angolano Kalaf Epalanga disse que embora exista interesse dos leitores, não há uma troca horizontal da produção literária nos diferentes países de língua portuguesa.

Fonte: Publico

Autor do livro Também os Brancos Sabem Dançar, publicado no Brasil pela editora Todavia e em Portugal pela editora Caminho, que ficou entre os cinco mais vendidos na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Epalanga avaliou como muito positiva a sua viagem ao Brasil e falou sobre as diferenças de circulação literária produzida na comunidade lusófona.


“O espaço [da Lusofonia] existe, ou seja, nós todos nos comunicamos em português porque este espaço existe. Se esta troca é feita de forma horizontal isto já é outra conversa, ou feita de forma circular. [...] Eu acho que [a troca] não é feita de foram circular ou horizontal. Continua havendo hierarquias dentro deste espaço”, disse Kalaf Epalanga em entrevista à Lusa no âmbito da Flip.


O autor e músico, que vive entre Lisboa e Berlim, acrescentou: “Acho que a gente precisa de um tempo, para ter um reflexo directo daquilo que se quer, daquilo que conseguimos fazer dentro deste espaço e do que estamos a fazer de facto. Estamos falando de países muitos jovens, inclusive Portugal, a democracia portuguesa é muito jovem.”

 

“A democracia angolana vai chegar na adolescência agora. O mesmo [ocorre] no Brasil onde houve momentos, rasgos democráticos, mas nada concreto como o que está a ser vivido agora. [...] Estou falando isto porque a Lusofonia, da forma como ela é vivida, é um instrumento político”, completou.

 

Epalanga enfatizou que as trocas culturais e a circulação do trabalho de autores e seus livros nos diferentes países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) são balizadas mais em interesses políticos do que por si mesmas, facto que resulta numa certa desigualdade.

 

“[A Lusofonia] ainda está nas mãos dos políticos, não está nas mãos das pessoas, dos produtores de cultura, de quem faz cultura. Ainda são os institutos, instituições e ministérios que promovem e ditam o ritmo em que a Lusofonia tem que ser entendida”, explicou.

 

“Por isto ela não assenta. É quase um órgão estranho para quem produz cultura. Porque ela não é inclusiva, não olha para os locais mais fragilizados dentro deste espaço como a Guiné-Bissau, São Tomé [e Príncipe], com determinação. A Lusofonia olha para Angola, Brasil e Portugal”, acrescentou.

 

Para o autor, conhecido também por integrar os Buraka Som Sistema, a relação entre os oito países que adoptaram o Português como língua oficial deve transformar-se para funcionar como um instrumento de inclusão.

 

“A Lusofonia devia ser um instrumento de inclusão e não de políticas culturais ao lado do comércio. Não há nada de errada com o comércio, mas acho que precisamos encontrar algo que seja mais perto daquilo que nós somos realmente [neste espaço]”, concluiu.