Luanda - Depois de falarmos sobre a indexação da moeda nacional ao metal precioso (ouro), na antevisão de um possível ressurgimento do padrão ouro na arena internacional, vale a pena, aqui e agora, analisar uma possível inserção do nosso país, num segmento do novo “sistema monetário” mundial que está a ganhar corpo, em certos sectores de muitos países do mundo - as criptomoedas. Não se trata de fazer futurologia, nem se quer “sonhar alto”, como enviar um astronauta angolano numa missão espacial ou, tão pouco, encomendar um satélite que facilmente desaparece no espaço, mas antes, pretendo excogitar sobre uma realidade que, embora não discutida intra-muros está, em certa medida, ao nosso alcance. Aparentemente, as criptomoedas parecem ser uma miragem para um pais com o atraso tecnológico e às necessidades básicas que Angola ainda enfrenta, todavia, a tecnologia disponível nos dias de hoje têm, precisamente, o condão de encurtar caminhos e permitir facilmente, esbater distâncias e nivelar com rapidez, bastando para isso, uma visão estratégica sustentada por um investimento criterioso e rigoroso.

Fonte: Club-k.net

Contudo, antes de proceder à sugestão principal sobre a estratégia de inserção de Angola no mundo das criptomoedas irei, como sempre, efectuar um oportuno e sucinto enquadramento do sentido e alcance do conceito de criptomoeda, para nos municiaremos de ferramentas indispensáveis a análise, que se impõe do tema proposto.


Uma criptomoeda é um meio de troca, onde se utiliza a tecnologia blockchain e a criptografia para assegurar a validade das transações e criação de novas unidades da moeda. As criptomoedas, podem ser centralizada ou descentralizda. O Bitcoin (BTC), a primeira moeda descentralizada, foi criada em 2009, por um usuário que usou um pseudónimo Satoshi Nakamoto. Desde então, muitas outras criptomoedas foram criadas. Mais recentemente, tem-se assistido a um fenómeno de explosão de inúmeros tokens, que têm sido criados com base no protocolo Ethereum, principalmente após a onda massiva de “ Ofertas Iniciais de Moedas (usualmente referidas como ICO, do inglês, Initial Coin Offering), que ocorreu em 2017.


Ao contrário dos sistemas bancários centralizados, grande parte das criptomoedas, usam um sistema de controle descentralizado, com base na tecnologia blockchain, que é um tipo de livro-registo, distribuído e operado em uma rede ponto-a-ponto (peer-to-peer) de milhares de computadores, onde todos possuem uma cópia igual de todo histórico de transações, impedindo que, uma unidade central, promova alterações no registo ou no software unilateralmente, sem ser excluída da rede.

O Bitcoin (BTC) é uma das criptomedas que mais vem ganhando destaque no cenário da economia global. Entretanto, ela sofreu instabilidade na última semana. Paralelamente, as outras moedas digitais demonstraram uma valorização significativa. Somente nas últimas quotações, algumas tiveram ganhos de mais de 9%, fazendo com que os investidores apostem mais nelas.


Em guisa de ilustração, entre sexta feira (9/08/2019) e sábado (10/08/2019), o Bitcoin apresentou grande instabilidade, até atingir o patamar de 11.352 dólares americanos. Embora no decorrer da semana, a referida moeda digital, tenha tido uma valorização significativa, de mais de 5%, sua oscilação recente, foi de mais de 500 dólares. Em contrapartida, algumas criptomedas, estão chamando a atenção dos investidores, por estar entre as que mais têm tido valorização.


Uma destas criptomedas é Ethereum (ETH), que somente neste domingo, teve ganhos próximos de 3%, tendo o seu valor actual em 212.29 dólares americanos. Nos últimos dias, o volume de negociação do ETH, passou de 21, 9 bilhões de dólares americanos, para 22, 5 bilhões de dólares americanos. Sem dúvida que estes são números têm despertando, cada vez mais, o interesse do mercado, sobretudo para cenários futuros.


Mesmo que nos últimos tempos, o Bitcoin não tenha apresentado uma boa performance, o seu nível de dinâmica no mercado recente de criptomedas, é maior desde 2017.


Actualmente, o volume de transações do BTC, está em 68, 6%, num total aproximado de 298 bilhões de dólares americanos. São perspectivas que reforçam o optimismo dos especialistas. Alguns cálculos demonstram que,, em pouco tempo, o Bitcoin pode ultrapassar a marca de 15 mil dólares americanos. Especialistas também afirmam que há uma tendência de que a principal criptomeda, pode alcançar até ao final do ano, o recorde de 20 mil dólares americanos. Um dos motivos mais fortes para estas previsões, estão no facto de que, a grande instabilidade na economia global, tem feito os investidores buscarem outras alternativas mais seguras para negociar, como o BTC e o ouro.

Independentemente da hierarquia dos valores entre as criptomoedas, o seu mercado de negociação está cada vez mais forte. Com o Bitcoin puxando os valores, há uma estimativa geral de que as moedas digitais tornam-se as alternativas mais procuradas pelos investidores em questão de tempo. Isto dará um grande impulso para todas elas, além de consolidar a liderança do BTC no mercado.


Por isso, o Estado angolano deve colocar os serviços de informação a par deste fenómeno, dotando-o dos meios para estudar, num primeiro momento e, mais tarde, inserir Angola no mundo da criptografia e criptomoeda. Não sugiro uma solução “à venezuelana” (a Venezuela criou a criptomoeda “ Petro”, que tem sido um fracasso) para sair da crise, por duas razões: primeiro, não é aconselhável colocar o petróleo, como garantia ou padrão de troca, pois o nosso, já está excessivamente engajado no serviço da dívida externa; segundo, as criptomoedas mais dinâmicas no mercado são as descentralizadas, ou seja, estão fora do controlo estatal. A minha intuição vai para o modelo seguido pela Estónia, que através da Pyfty, uma bolsa licenciada naquele país, está impulsionando a adopção de criptomoedas, através da sua nova plataforma de comércio e a criação da sua própria stablecoin.


Mas a solução para o mercado de criptomoeda angolano, deve resultar de um estudo promovido pelo Estado (pode ser em parceria com uma universidade ou um Centro de Estudo), mas qualquer solução, no meu entender, que resulte na criação de uma criptomoeda deve ser, prioritariamente indexada ao ouro, que deve começar já a ser extraído e reservado. Nunca o petróleo.


A construção do futuro faz-se antes, adiar o futuro é, por si só, matá-lo. Angola é uma nação cuja a população é maioritariamente jovem, e as criptomoedas são utilizadas,, maioritariamente, por essa franja da população, nos países que utilizam esse sistema financeiro. Faz, por isso, todo o sentido que o Estado, dedique atenção e recursos, para entrarmos no mundo das criptomedas, de forma estratégica, tendo em vista o retorno seguro e garantido do investimento tecnológico que irá efectuar. Mal andaremos nós, se a nossa visão terminar na mandioca no Bailundo, no poço de água no Cunene, nos panos da beça ngana na ilha, nos diamantes das Lundas, na banana de Benguela, para não falar do sobejamente conhecido, petróleo de Cabinda. O nosso povo precisa de muito mais e isso, na linguagem moderna, significa tecnologia, e as criptomoedas são a fina flor deste segmento inevitável do mundo moderno! Não construamos o país só com betão, canas de pescas e lavras, as artérias do progresso apresentam hoje também outras vias, no virtual, no intangível, mas cada vez mais presente, mais actual e mais promissor. E este apelo não é apenas dirigido ao Estado, é, também, um repto lançado, hic et nunc, aos empresários, bancários, correctores da bolsa de valores e aos cidadãos angolanos em geral.


Sendo um sistema descentralizado, as cripomoedas, não são monopólio do Estado, e a sua democratização (descentralização) permite que, cada um, tendo a tecnologia e os conhecimentos adequados, possa utilizar e ganhar dinheiro, neste novo mercado monetário. O Padrão ouro está à espreita com a chegada da hegemonia Chinesa que se avizinha, mas as criptomedas, chegaram primeiro e estão a ganhar terreno em muitas partes do mundo, espaço esse que, não podemos perder. Se “a imaginação é mais importante do que o conhecimento”, a visão estratégica da liderança, determina o caminho do progresso. Por ora, mais não digo..