Luanda - O General António José Maria, "Zé Maria" como é conhecido, é descrito como uma personalidade temida e que ostentava poderes na governação do ex-Presidente de Angola, José Eduardo os Santos. Ele é acusado de crime de extravio de documentos secretos.

Fonte: DW

Enquanto jovem frequentou o seminário maior de Cristo Rei no Huambo afeto à igreja católica. Em 1991 "Zé Maria" ascende a categoria de general tendo sido nomeado Vice-Chefe do Estado Maior para a Doutrina e Ensino Militar.



Ocupou o cargo de chefe dos Serviços de Segurança Militar de 2009 a 2017, altura em que foi exonerado pelo atual Presidente João Lourenço. Enquanto um dos homens mais influentes no círculo da anterior governação, os seus poderes não deixam dúvidas, explica o ativista angolano Nito Alves.


"Era um general que tinha bastante poder... um general que batia nos sargentos, humilhava os capitães. Era um general que nós consideramos general dos generais. Tinha muitos poderes no regime do ex-Presidente) Eduardo dos Santos".

Personalidade com muito poder

O analista e politólogo angolano Agostinho Sicatu, concorda: “Foi realmente uma personalidade com bastante poder. Foi um dos cidadãos angolanos mais temidos e em muitas circunstâncias até comandava o próprio Presidente da República. Na verdade, a dupla, Zé Maria e Kopelipa estremeceu as lides do poder na época de José Eduardo dos Santos. Ninguém mais, mas absolutamente ninguém poderia fazer nada", afirma Sicatu.

 

Manuel Chivonda Nito Alves lembra o dia em que António José Maria lhes visitou na cadeia de Kalomboloca onde estavam encarcerados no caso dos 15+2. “Era uma pessoa calculista ao fazer a maldade sobre as pessoas. Digo isso porque ele visitou-nos na cadeia de Kalomboloca e com tanta frieza. E eu me perguntei: porque é que essa pessoa é tão rude, tão cruel?.

Processo dos 15+2

"Zé Maria" terá sido o "arquiteto” do processo dos 17 jovens acusados de tentativa de Golpe de Estado contra o ex-Presidente José Eduardo dos Santos e a sua família em 2015, explica Sicatu. "Zé Maria" esteve por detrás de quase tudo que se montou nesse país. Todas as estratégias montadas aqui que envolveram até raptos e assassinatos não tem como ele não estar por detrás. Estamos a falar de um homem que controlava a inteligência militar".

 

Nito Alves também não tem dúvidas."No processo dos 15+2 e nos raptos de Alves Kamulingue e Isaías Kassule ele está envolvido. E há outros processos em que ele está envolvido em Angola".

Petição das mães dos ativistas

Em junho de 2016, as mães de alguns ativistas do Processo dos 15+2 tinham entregue uma petição ao chefe dos Serviços de Inteligência e Segurança e Militar (SISM), general António José Maria "Zé Maria”, a apelar à sua consciência moral no sentido de pôr termo a alegadas "invenções" de acusações contra os seus filhos, em particular contra o tenente Osvaldo Caholo, o único militar no processo segundo o site Maka Angola do jornalista Rafael Marques.


No entanto, Nito Alves diz que o general, em muitas circunstâncias, cumpria apenas ordens superiores do seu antigo comandante em chefe José Eduardo dos Santos.


"O general Zé Maria cumpria ordens de José Eduardo dos Santos e tinham boa relação. Agora vai pagar sozinho enquanto Eduardo dos Santos está em Espanha", sublinha o ativista.

Na posse de muitos segredos

Durante o tempo em que esteve na secreta militar angolana, António José Maria acumulou muitos segredos sobre o país, conclui Nito Alves. “Tem muitos segredos sobre Angola, sobre o Presidente, sobre os generais, sobre os políticos, sobre os deputados, juízes e sobre procuradores".

 

O Supremo Tribunal Militar aplicou ao general "Zé Maria", em junho, a medida de coação pessoal de prisão domiciliar por supostas complicações de saúde ao invés da prisão preventiva. Esta quarta-feira (11.09.), o antigo patrão da secreta militar angolana vai a julgamento acusado de cometer o crime de extravio de documentos, aparelhos ou objetos que contenham informações de caráter militar.

 

Agostinho Sicatu comenta o julgamento de "Zé Maria". "Ele está numa idade que, quase não vai ver, ainda que seja condenado, não sentirá os tais efeitos e não se arrependerá por nada. Aliás, se tivermos que contar a lista de situações em que ele estará envolvido, esse julgamento não trará absolutamente nada de novo", concluiu o analista.