Brasil - Profissionalmente ele é piloto aviador com a qualificação de comandante de Boeng 727, 737 e 707 - aeronaves com as quais voava quando estava no activo. Este malanjino que nasceu, há 67 anos, quando Massango (a sua terra natal, se chamava Forte República), actualmente “pilota” a uma legião de fiéis cristãos tocoístas, na denominada Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo - Anciãos e Conselheiros da Direcção Central. É mestre em Teologia na especialidade de Teologia Sistemática, com doutorado em Teologia Dogmática e Teologia Histórica. Eis o Bispo Dom Osório Marcos.

*N. Talapaxi S.
Fonte: Club-k.net

“Não há nenhum novo conceito de Tocoísmo”

Sediada em Luanda, a congregação que ele lidera é uma das quatro maiores confissões tocoístas - entre outras possíveis - em que se dividiu a Igreja erguida pelo profeta Simão Toco. Três delas são reconhecidas pelo Estado. O bispo Osório Marcos assegura que a Igreja que dirige é o núcleo do qual as outras se desmembraram, sendo a “remanescente” do rebanho que hoje é o mais numeroso e mais conhecido - que é encabeçado pelo bispo Afonso Nunes, com sede no Golfe 2, em Luanda.

Nesta entrevista, o bispo Osório fala das reformas em curso na Igreja e do caminho possível que pode levar os tocoístas à reunificação; refere-se aos mensageiros que apareceram em nome de Simão Toco, depois da morte dele; faz saber a aproximação familiar que teve com o profeta; e revela que a “sua” denominação já está legalizada no Brasil há 12 anos, actuando no estado do Rio de Janeiro. Ademais, só conferindo este resumo da longa conversa que tivemos. A entrevista completa no site universotocoista.wixsite.com/universotocoista.


Agora já há o cargo de bispo na igreja, e há paróquias; elementos que não existiam antes do desaparecimento físico do profeta Simão Gonçalves Toco. Considera que há um novo conceito de Tocoísmo e uma nova estruturação administrativa da Igreja acontecendo?

- Não senhor! Não há nenhum novo conceito do Tocoísmo, nem uma nova estruturação administrativa. O que existe é a Igreja a acompanhar a dinâmica que o próprio tempo exige. A Igreja precisa adequar-se ao tempos. Mesmo com a presença do fundador, vários trabalhos, várias reformas, foram aplicadas, à medida que o próprio tempo permitiu. O cargo de bispo surgiu depois do desaparecimento físico do dirigente [Simão Toco] em cumprimento a uma das várias orientações deixadas escritas acerca do sistema de governo que a igreja adoptaria com o evoluir do tempo. Nesse caso concreto, o episcopado. Isso através da carta de 16 de Maio de 1973. As reformas em cursos, ou outras que a seu tempo poderão ser aplicadas, muitas delas já foram anunciadas e orientadas pelo dirigente nas suas várias epístolas. Por isso, volto a dizer é a dinâmica que o tempo exige.


Com o advento do desaparecimento físico do profeta Simão Gonçalves Toco a Igreja acabou por dividir-se em várias partes. Que leitura faz desse fenómeno de desmembramento, essa transformação da Igreja em alas?
- Bom, com o desaparecimento físico do dirigente dos tocoístas e fundador da igreja, em Janeiro de 84, agravada a condição, por parte de alguns responsáveis em sucedê-lo e assumirem a liderança da Igreja, a falta de conhecimento bíblico e a ausência de maturidade espiritual, etc., etc... tudo isto contribuiu para que eclodissem no ceio da Igreja momentos de incompreensões, que resultaram no surgimento de divisões e desmembramento. E surgem assim as primeiras três facções. A saber: grupo dos “12 Mais Velhos”; grupos das “18 Classes e 16 Tribos”; e o grupo dos “Anciãos e Conselheiros da Direcção Central”. Os dois primeiros grupos formaram inicialmente uma aliança (aliança que durou pouco tempo), que tinha como objetivo principal, segundo a leitura feita, abafar mais facilmente o grupo da “Direcção Central”, que na altura se propunha a continuar e seguir fielmente a linha doutrinária do fundador Simão Gonçalves Toco.

Com qual das partes o bispo Osório Marcos se identificou?
- Eu na altura identifiquei-me, e continuo a identificar-me - mantive, e continuo mantendo-me, na parte que sempre foi a Direcção Central da Igreja: os Anciãos e Conselheiros da Direcção Central, constituída e formada pelo próprio dirigente. Esta Direcção que permaneceu a frente da Igreja até a data do desaparecimento físico do dirigente. Foi desta Direção, dos Anciãos e Conselheiros, de onde todos os outros grupos partiram, desmembrando-se. Nós, os Anciãos e Conselheiros, somos os remanescentes da Direcção Central da Igreja. Todos os outros partiram da Direção Central da Igreja.


O estado angolano, nos anos 90, acabou por reconheceu oficialmente três denominações com a mesma sigla (INSJCM-Os Tocoístas). O quê que o bispo Osório Marcos achou dessa atitude?
- Foi uma atitude muito sensata. Logo depois do desaparecimento físico do dirigente a Igreja entrou na fase mais dolorosa da sua história. Surgiram vários grupos, todos eles reclamando autenticidade. Alguns agiam com atitudes subversivas que obrigaram a intervenção das forças da ordem do Estado e, por conta disso, muitos tiveram que ser enviados para São Nicolau e outras cadeias. Com o passar do tempo, e porque nos anos 90 operaram-se algumas transformações no país, o Estado angolano, como forma de apoiar e ajudar na resolução desses problemas sensatamente, optou pelo reconhecimento das três principais [facções] – “12 Mais Velhos”, “Anciãos e Conselheiros da Direcção Central” e “18 Classes e 16 Tribos”. A partir daí, a Igreja, pela primeira vez, passou a viver momentos mais calmos e começou a notar-se em cada grupo algum esforço para recordar aquilo que cada um pude reter ainda dos ensinamentos ao longo do tempo em que esteve física e espiritualmente entre nós, o nosso dirigente: Simão Gonçalves Toco.

Sabe-se que a INSJCM-Ancião e Conselheiros da Direcção Central, dirigida pelo senhor bispo, terá sofrido também algum desmembramento.
- Mas as pequenas ou as grandes diferenças internas são as que distinguem uns dos outros. A saudável convivência entre todos baseia-se no princípio de respeito à diferença. Ou seja, saber respeitar a diferença, saber viver na diferença, para que seja possível a chamada unidade na diferença. Para nós, Anciãos e Conselheiros da Direcção Central, quando alguém que compartilhou conosco a mesma regra de fé, os mesmo princípios doutrinários, a dado momento decide seguir uma outra corrente de fé, desmembrando-se, o que temos feito é respeitar a decisão desse irmão. Na época em que foram reconhecidas as três igrejas tocoístas pelo Estado, cada uma delas tinha um líder. O grupo dos “Anciãos e Conselheiros” foi oficialmente reconhecido sob a liderança de Luzaísso António Lutango.

Qual é a diferença entre os “Anciãos e Conselheiros” liderados pelo irmão Lutango e os “Anciãos e Conselheiros” liderados pelo bispo Osório Marcos?
- Não há nenhuma diferença. A Igreja foi reconhecida em 1992. Caminhamos nestes grupos de 92 até o ano 2000. Durante este processo houve várias tentativas de reaproximação. Entretanto, e infelizmente, no ano 2000 surge uma outra nova ala no seio dos tocoístas. Essa nova ala consegue congregar e arrastar junto de si alguns responsáveis dessas direcções [facções], entre eles, o irmão Luzaisso Antonio Lutango. O irmão Lutango abandonou a liderança dos “Anciãos e Conselheiros”, juntou-se a essa nova ala, denominada Direcção Universal, do bispo Afonso Nunes. E porque o trabalho da Igreja tinha que continuar, a igreja reorganizou-se. Convocou um congresso extraordinário onde teve que preencher todas as vagas deixadas vazias pelos irmãos que abandonaram a Direcção da Igreja. Resumindo, não há uma outra direcção dos Anciãos e Conselheiros. O irmão Luzaisso Antonio Lutango foi – sim! - o representante dos “Anciãos e Conselheiros” desde a sua nomeação até o ano 2000, data que ele decidiu voluntariamente abandonar a Direcção aliando-se a direcção de Afonso Nunes.


E quais são as principais diferenças entre a Igreja Tocoísta dirigida pelo bispo Osório Marcos e as outras Igrejas Tocoístas (considerando todas, tanto as reconhecidas e as não reconhecidas)?
- Eu tenho como princípio não falar do que os outros fazem ou deixam de fazer; ou o que outros creem ou deixam de crer. Nosso propósito é servir a Deus com todas nossas forças, fazendo o melhor possível, o melhor que pudermos, como forma de agradarmos a Deus, Nosso Pai, Nosso Criador. Nesse sentido, nós expressamos os nossos princípios de fé resumidos em três documentos declaratórios. Os outros, não posso entrar em pormenor, porque não sei os seus princípios de fé, os seus princípios de doutrina de base.


Na sua opinião, qual é o futuro das várias denominações tocoístas diante da nova Lei sobre a liberdade de culto e religião, recentemente promulgada?
- Não é a lei sobre a liberdade de culto e de religião que determina o futuro ou não das igrejas. E, nesse particular, da INSJCM. A Constituição angolana define que o Estado angolano é laico e respeita as diferentes confissões religiosas as quais são livres de exercer as suas actividades nos marcos da lei. Repito, sublinho: nos marcos da lei. Significa isto dizer que o futuro da igreja só depende de cada igreja, exercendo as suas actividades dentro dos marcos da lei. No nosso caso, tocoísta, o Estado angolano reconheceu três alas. Se existem outras tocoístas não reconhecidas e que exerçam alguma actividade fora dos marcos da Lei, elas próprias é que estão a comprometer o seu trabalho. O Estado, através dos órgãos competentes, naturalmente, pode e deve fazer respeitar a Lei.

 

Qual é a sua antevisão quanto a união das várias denominações tocoístas numa única instituição? Quais são os caminhos para que essa união aconteça? Ou será que estamos fadados a ver desmembramentos constantes na igreja?
- Nossa principal preocupação não deve ser apenas quando é que estaremos todos a trabalhar juntos. Eu penso que o passo número um é saber respeitar a diferença. Isto é que vai permitir com que, respeitando- nos mutuamente, as condições de aproximação se confirmem. Por outro lado, aquilo que nos separa não é apenas aquilo que, muitas vezes, se diz - “os tocoístas são os mesmos, a doutrina é a mesma, o fundador é o mesmo, mas que ‘não-sei-o-que’”, não é bem verdade. Há diferenças doutrinárias, há inversão. Não vamos dizer que nós é que estamos certos, os outros é que estão errados. Mas, cada um tem a sua forma de interpretar uma determinada mensagem. No próprio cristianismo, o quê que levou à primeira rotura da igreja no século 16? São interpretações bíblicas! Portanto, aquilo que nós gostaríamos, numa primeira fase, não é nos preocuparmos por uma unidade física - congregados todos num só lugar, mas os corações distantes uns dos outros. Não é isso. Em primeiro lugar devem-se criar – sim! - condições respeitando essas diferenças. E esse respeito pelas diferenças é que vai fazer com que possamos, juntos, discutir determinadas doutrinas, determinadas interpretações que cada um faz; tentar o reaproximar e encontrarmos o denominador comum, que nos possa, naturalmente, unir nesse sentido. Portanto, essa é a minha forma de ver.

Soubemos que a INSJCM, sob a direção do bispo Osório Marcos, já está registada oficialmente no Brasil, no Estado do Rio de Janeiro. Confirma?
- Confirmo, sim. A INSJCM foi registada oficialmente no Brasil no dia 19 de Junho de 2007. Portanto, está em pleno funcionamento no Estado do Rio de Janeiro. Ela tem sido muito bem recebida, sim, senhor. O Brasil é um país cristão. A INSJCM é igreja cristã. Teve uma repercussão muito positiva. Mas, neste momento, estamos apenas no Estado do Rio de Janeiro, mais concretamente na cidade do Rio de Janeiro.

 

Conheceu pessoalmente o profeta Simão Gonçalves Toco? Qual era a vossa aproximação, a vossa relação?
- Conheci pessoalmente o dirigente Simão Gonçalves Toco, pela primeira vez, no dia 31 de Agosto de 1974. Tivemos uma relação de pai e filho. A minha humilde casa, a minha humilde residência, era dele também. Por isso, talvez seja esta uma das razões que me levam a não confundi-lo com qualquer outra pessoa, por mais semelhança que esse alguém tenha. Simão Toco deu-me a oportunidade de conhecê-lo física e espiritualmente.

 

Os tocoístas, em geral, o reconhecem como um profeta; muitos o consideram como “Jesus Cristo”. Como é que o bispo Dom Osório Marcos o reconhece e o considera? Em outras palavras: como é que o bispo define Simão Gonçalves Toco?
- Eu entendo que reconhecer Simão Gonçalves Toco como profeta ou como “Cristo Negro” não é o mais relevante. Para mim, o mais importante é estar certo de que Simão Gonçalves Toco foi um enviado de Deus. Independentemente de ser enviado na condição de profeta ou na condição de “Cristo Negro”.