Lisboa - O Banco Nacional de Angola decidiu abandonar a limitação de variação e permitir que o kwanza oscile livremente. Capital Economics diz que "os investidores vão querer esperar para ver".

Fonte: Lusa

A consultora Capital Economics considerou esta sexta-feira que as medidas cambiais do Banco Nacional de Angola mostram que o regulador financeiro “está a falar a sério” sobre a reforma cambial no país, mas os investidores ainda estão céticos.


“A decisão do BNA de abandonar a limitação de variação e permitir que o kwanza oscile livremente sugere que os decisores políticos finalmente estão a falar a sério sobre a reforma cambial”, escreve o analista que acompanha a economia de Angola.

 

Numa nota sobre a política cambial do país, enviada aos clientes e a que a Lusa teve acesso, John Ashbourne argumenta, no entanto, que “depois de várias falsas partidas, os investidores vão querer esperar para ver se o Governo realmente vai em frente com o processo“.

 

Na quarta-feira, o BNA confirmou a medida, assumindo que já tinha retirado o limite de 2% imposto aos bancos no leilão de divisas e elimina agora a margem de 2% que os bancos podem aplicar, esperando encontrar um equilíbrio cambial até ao final do ano.

 

“Passaremos a ter um mercado que vai funcionar conforme as forças do próprio mercado, procura e oferta. O que temos hoje é um cenário em que há uma procura superior à oferta e como não temos um elemento que regule essa relação, acabamos por ter a acontecer operações fora do sistema financeiro (…) muitas vezes injustas e que põem em causa a segurança dos participantes”, justificou José de Lima Massano, no final da reunião do Comité de Política Monetária, esta semana.

 

Para John Ashbourne, o banco central “pode ter sido forçado a afrouxar o controlo cambial devido à crescente divergência entre o mercado paralelo e a taxa oficial de câmbio”, sendo que “a queda das reservas estrangeiras do Banco também pode ter desempenhado um papel”.

 

Esta “mudança política bastante dramática”, disse, vai implicar um aumento da inflação a curto prazo, mas a longo prazo os efeitos não são tão claros: “Os decisores políticos, no passado, também já fizeram várias promessas de remover a limitação de oscilação, mas depois na prática não o fizeram”, lembra o analista, alertando que “podem perder a coragem outra vez”.

 

A consultora Capital Economics espera, assim, que a inflação termine o ano nos 18%, abrandando depois para 17,5% em 2020 e para 15,5% em 2021. No que diz respeito às previsões sobre o andamento da economia, os analistas também reviram as estimativas, antecipando agora uma recessão de 1% este ano e uma recuperação de 1% em 2020, que acelerará para 1,5% em 2021.