Luanda - A consultora Capital Economics disse à Lusa que o Fundo Monetário Internacional (FMI) deverá impor um "significativo ajustamento orçamental" em Angola no seguimento da subida da dívida pública e da lentidão na recuperação económica.

Fonte: Lusa

"Há meses que o FMI fala dos salários dos funcionários públicos e defende o fim dos subsídios, e provavelmente vão tentar, com base no que fizeram noutros países, preservar ao máximo os gastos de cariz social", disse John Ashbourne, o analista que segue a economia de Angola na Capital Economics, em entrevista à Lusa, a partir de Londres, a sede da desta consultora.



Isto depois de a consultora ter previsto que Angola continue em recessão em 2020.


O analista apontou que "o objetivo do FMI será forçar cortes nos subsídios regressivos, como a gasolina, e reduzir o emprego no Estado, mas serão medidas em toda a linha, porque não há o risco de um problema de dívida insustentável, devido à estrutura do endividamento".

"Mas ter um rácio de dívida acima dos 100% coloca Angola numa categoria à parte, juntamente com Moçambique, entre os países mais endividados, o que não é um sítio confortável para se estar", acrescentou.


Não existe, continuou, a opção de combater o fraco crescimento económico e a elevada dívida pública "com base no aumento das receitas, isso é muito improvável, por isso o ajustamento terá de ser feito com base em cortes na despesa, e isso obriga a um significativo ajustamento orçamental", concluiu.


Questionado sobre o impacto desses cortes na vida das pessoas, John Ashbourne reconheceu: "Não há volta a dar, é uma altura muito difícil para as pessoas, até com o aumento dos preços", já que a Capital Economics estima que a inflação quase duplique para mais de 30% no próximo ano.


"O Governo não tem nenhuma almofada orçamental para intervir e proteger as pessoas desse efeito, 2020 vai ser outro ano de preços altos e rapidamente a subirem, com uma contração económica pela quinto ano consecutivo e uma população a crescer muito depressa, o que origina uma queda no rendimento per capita, que tem acontecido há meia década", alertou.

 

Quanto a este cenário poder ser um impedimento para novos investimentos no país, nos quais o Governo conta para diversificar a economia e relançar o crescimento económico, Ashbourne respondeu que este cenário macroeconómico não é uma surpresa para os investidores, e por isso não deverá mudar a opinião dos empresários.


"É uma continuação dos últimos quatro anos, não estamos a prever uma mudança de ciclo, mas sim a continuação de um ciclo descendente, portanto não é uma surpresa que a economia está a arrefecer e que haverá uma nova contração", notou.


O analista da Capital Economics considerou que "para quem quer investir em África, Angola dificilmente estará no topo da lista" e que "para quem procura mercados em crescimento nesse lado do mundo, Angola não virá à cabeça".