Luanda - Senhor general Zé Maria, antes de trazer à baila algumas questões de forma e outras verdades da lei e dos procedimentos operacionais do nosso vasto e complexo campo de trabalho, vou apresentar o meu juramento, em honra a um serviço ímpar, julgado como o próprio Estado, tal é a certeza de que sem ele se incorre no risco de deixar a céu aberto os maiores instrumentos do uso das faculdades políticas e da garantia da sua estabilidade e soberania. Este meu simbólico gesto representa o respeito por tudo que este serviço me deu e a minha solidariedade profissional estendida a todos os membros que o dão forma. Coisa que o senhor general ignorou por falta de alcance sistémico, tanto da ordem da política como da ordem da operacionalidade, o teu pensamento corrupto sempre determinou as suas acções. As tuas declarações em tribunal são disso prova.

Fonte: Club-k.net

Acusa, o senhor general, de estar apanhado numa cabala montada pela secreta angolana ao seu mais alto nível, considerando as duas figuras mencionadas nas tuas declarações em tribunal, portanto o director do SINSE, general Fernando Garcia Miala, e o Presidente da República, nas vestes de Comandante -em -Chefe das Forças Armadas Angolanas, João Manuel Gonçalves Lourenço. Todos ouvimos como apresentas os factos, socorrendo-se, volta e meia, de um tom latim, unicamente para impressionar, aliás a área que mais desenvolveste ao longo do teu tempo de trabalho, com a intenção de distorcer o fio do próprio raciocínio indutivo, a fim de dificultar o acompanhamento lógico dos dados e, com isso, manipular a compreensão final da situação.

Em jeito de contextualização, recordo-lhe, meu general, o que está a ser tratado em tribunal é apenas a tua insubordinação militar. Outra leitura que não esta, é uma tentativa de se incluir nos autos elementos estranhos à causa, os quais somente servem à intriga e à indecência jurídica. Felizmente o Direito previu técnicas de filtragem e despiste de tudo quanto não sirva num processo de avaliação e comprovação para ajudar no julgamento e produção de sentenças. As chances de conseguires um resultado positivo, à luz da tua estratégia de defesa, é quase nula, pois tudo está muito claro. Isto é, a tua culpa não tem como escapar. Pelas circunstâncias legais, vai mesmo ser sentenciada com castigo. É a minha opinião, apesar de não ser juíz.

Confirmas que realmente foste orientado para entregar os documentos militares em tua posse, um marco histórico sobre a célebre batalha do Cuito Cuanavale, com realce para o Triângulo do Tempo, e não o fizeste por a orientação ter sido apenas verbal. Aqui, tudo se responde, tudo se completa, e mais não há a dizer. Ora vejamos. General Zé Maria, analise a tua própria situação com honestidade. O senhor cessou funções de chefe do SISM, pasta, como te gabas em tribunal, te ocupaste da mesma durante 16 anos. Porém, no fim da missão, rejeitaste apresentar o quadro geral dos serviços e, não bastando, te apoderaste, sublinhe, te apoderaste de documentos do Estado angolano, ao cuidado da secreta militar. Em cumprimento às exigências da organização de informação técnica-histórica, o Estado, na pessoa do seu Alto Magistrado, solicitou, conforme a Constituição e a Lei dos Serviços de Inteligência e Segurança, a entrega dos mesmos documentos. O Presidente da República, nas vestes de Comandante-em-Chefe, foi cauteloso, e enviou para materializar este pedido uma figura do Estado, colocada nas circunstâncias na chefia do SINSE, o general Miala. Porquê? Para o honrar, tu, general Zé Maria. Mas, a tua arrogância não te permitiu perceber como estavas a ser valorizado.

Senhor general Zé Maria, ao deixares a chefia do SISM, devias apresentar toda a situação, em termos organizacionais. Só que não tens honestidade suficiente para tal. É um gesto muito difícil de ser feito por ti. Perdeste nessa altura a oportunidade de fazer história, uma boa história, pois entregavas a situação corrente e, a seguir, entregavas os documentos sobre a batalha do Cuito Cuanavale. Podias até enviar directamente para o Presidente da República. Estarias então a deixar uma grande contribuição. Mas não, preferiste o caminho mais complicado, o da arrogância e da brutalidade. Sabemos porquê. É que ao longo dos anos montaste uma estratégia de crescimento individual baseada na violência gratuita, intimidando tudo e todos, a táctica dos incompetentes.

Quando te referiste que fizeste cursos de alta liderança, durante o teu tempo de serviço, ficou visível, para os analistas, a tua ignorância quanto ao mando, como quanto aos procedimentos operacionais. Um membro da secreta não usaria desse argumento, muito menos afirmaria que dirigiu operações de inteligência e contra inteligência. Se assim não fosse, o que estarias lá a fazer? Nós já sabíamos das tuas insuficiências, dos teus desiquilíbrios psicossociais e da inconsistência da tua personalidade. Por isso todos que contigo privassem, acabam por partir. Fugiam. Até mesmo o presidente José Eduardo dos Santos já não se sentia seguro do teu lado. Tinha medo. Quando te apercebeste, montaste uma estratégia para isolar o presidente, que passava por controlar toda a informação dirigida ao seu gabinete, determinando o que devia José Eduardo dos Santos saber. Com isso, veio a perseguição ao general Miala, por ser o único incapaz de ser domado por ti, já que continuava a ser um homem solicitado pelo presidente dos Santos. Apenas o Copelipa, em funções, na altura, na Casa Militar, esteve do teu lado. Juntos perseguiram os quadros que se mostraram contra a forma como vocês estavam a gerir a informação. E sobre isso, mais não digo. Penso ser o suficiente para demonstrar o seu ódio ao Presidente João Lourenço e ao general Miala.

Das tuas declarações, percebe-se outro erro de palmatória de um alto oficial da inteligência. Ignorância na escolha das variantes e mau cálculo dos dados em avaliação. O trabalho de análise apresentado ao presidente José Eduardo dos Santos era muito claro: não haviam condições políticas para mais um mandato seu. O ambiente interno e externo era completamente desfavorável. Mesmo nessa altura, tu, general Zé Maria, e o general Copelipa, ainda tentaram convencer Zé Eduardo que era possível, bastava que se arranjasse um grande argumento. Uma guerra. Chegaram a fazer alguns ensaios, porém mal sucedidos. Não tinham o apoio da máquina, porque ninguém concordou com a vossa ideia diabólica.

Depois de caírem na real, aceitar que ao presidente José Eduardo dos Santos não restava outra coisa, senão sair, voltaram aos cálculos, e concluíram, a partir de uma projecção, que as coisas haviam de se agitar, o cenário teria um novo membro, mas não significaria uma nova força. Fizeram aproximações ao candidato do MPLA, hoje Presidente da República, para o intimidar e mantê-lo refém da força anterior. Ao sistema que saía. Senhor general Zé Maria, os teus cálculos sempre estiveram errados, porque nunca usaste as variantes certas para os casos em análise. Foste um mau condutor de homens, e sabias disso, por isso assentaste a tua gestão na intimidação aos oficiais de informação e aos estrategas.

Para terminar, saiba, senhor general, estás a ser vítima do teu carácter boçal e arrogante, que leva a confundir as diligências que efectuaste para localizar, capturar, tratar e divulgar documentos do Estado angolano com as andâncias nos teus ambientes promíscuos. A tua cabeça já oca, porque agastada com o tempo, não te permite perceber a condição de chefe dos SISM é que permitiu envolver meios da secreta para o desempenho que tanto te gabas. Conduziste uma operação em nome do Estado, e não em teu nome pessoal. Mas como vocês tinham as instituições como vossas, por isso te achas dono dos documentos. Achas que se fosses um cidadão comum terias capturado os documentos? Claro que não. Isto só passa pela cabeça de um oportunista, um general que insiste em se tornar uma vergonha da secreta angolana.