Luanda - O artigo é uma reflexão e adaptação dos discursos do constitucionalista queniano, Professor Patrick Lumumba, bem como citações teóricas de dois livros do professor ganense George Ayittey, nomeadamente, “Africa em Caos” e “África Desacorrentada”.

Fonte: Club-k.net


Num dos seus discursos o Professor Patrick Lumumba afirmou que “os políticos africanos são a desgraça de África e o dia que entenderem que a ocupação na função pública é de ser um servidor, a África começará a mudar para a direcção certa; o dia que os políticos africanos entenderem que a ocupação na função pública é um privilégio e uma honra e não para privatização, saque e acumulação da riqueza pública, a África irá movimentar-se para direcção certa; o dia que o políticos africanos reconhecerem que não têm o monopólio da inteligência nem do conhecimento, a África irá movimentar-se para direcção certa; o dia que o político africano entender que a longevidade no poder não é solução para os problemas, será o dia que a África começará conhecer o seu potencial; o dia que os políticos africanos entenderem que as suas eleições são uma obrigação de providenciarem saúde, educação e agricultura, a África começará a conhecer o seu lugar no mundo; o dia que os políticos africanos forem libertados das correntes da cobiça e do egoísmo a África começará conhecer a o seu potencial.”


O Professor Lumumba acusa os políticos e governantes africanos de possuírem uma agenda intencional e ́maligna` de manter a população ignorante, passiva, submissa e tímida, que acomoda e endeusa políticos e governantes desonestos, corruptos e ladrões que se sentem especiais, iluminados e proprietários do “nosso povo” e de tudo o que existe no território. Para o Professor, as práticas dos políticos e governantes africanos são iguais às do “gang” americano dirigido por “Al Capone” porque o continente africano e os seus povos foram sequestrados, saqueados empobrecidos e atirados para a condição de miséria pelos seus supostos libertadores. A África transformou-se num território de ladrões, um paraíso onde os “gangs políticos” organizados e violentos desmandam e o povo OBEDECE calado. A lenda britânica Robin Hood roubava dos ricos e dava aos pobres. Os políticos e governantes africanos roubam da boca dos pobres e entregam às ricas instituições financeiras capitalistas do ocidente. Mais de 40% da riqueza financeira produzida em África não é investida no continente mas sim levada para os bancos do ocidente pelos “libertadores crocodilos” e “governantes hipopótamos.”

 

No seu livro intitulado “África em Caos”, George Ayittey, conclui que na maioria dos países africanos a estratégia ideológica e prática política de eliminação sistemática de opositores políticos, a institucionalização da intolerância política, do uso da força e da violência, a mentira e a manipulação da informação, a fraude política-eleitoral, a exclusão, a corrupção e o empobrecimento da maioria da população são os meios utilizados pela classe política africana na manutenção do poder político, transformando as respetivas nações em “estados vampiros” liderados por “libertadores crocodilos” e “governantes hipopótamos.” Para o autor, os estados africanos foram aprisionados por “libertadores crocodilos” que se transformaram em grupos organizados que reprimem e eliminam tudo e todos que consideram como ameaça aos seus interesses. Este grupo organizado usurpa o poder político, transformando-se assim em “governantes hipopótamos” que tudo devora, enriquecendo-se de forma ambiciosa, egoísta, avarenta e desumana, deixando ao abandono total e à indigência as populações que falsamente libertaram. O seu empobrecimento propositado constitui a forma de subjugação e humilhação neocolonialista imposta por estes “libertadores crocodilos” e governantes hipopótamos” contra os seus próprios compatriotas.


Esta geração de “libertadores crocodilos” são os políticos que governam os países africanos desde as suas independências. Ao usurparem o poder político transformaram-se em “governantes hipopótamos”, autênticos saqueadores do erário público, opressores e exploradores clássicos e neocolonialistas do seu próprio povo. Os “libertadores crocodilos” e “governantes hipopótamos” africanos não acreditam em reformas políticas e constitucionais porque não estão preparados para perderem o monopólio e o controlo da fraude política-eleitoral que lhes garante a manutenção do poder político e o acesso livre e o impune dos fáceis benefícios económicos e financeiros.


Africa é um dos continentes mais ricos do mundo, porém, em termos reais, o mais pobre, porque toda sua riqueza só está vergonhosamente a enriquecer os “políticos e governantes hipopótamos”. A grande maioria dos países africanos tornaram-se uma tragédia política, económica e social provocada pela ganância desmedida e desumana dos políticos e governantes. Na verdade, a África é mais do que uma tragédia, é uma vergonha porque muitos dos seus povos vivem da caridade internacional, quando os seus “supostos libertadores” vivem e dormem por cima de milhões e bilhões de dólares surripiados deste mesmo povo que, de uma forma desesperada e humilhante, morre no mar mediterrâneo e nas fronteiras americanas na tentativa de fugir da desgraça e miséria produzida pelos “libertadores crocodilos” e “governantes hipopótamos” africanos.


Na verdade, aquilo que entendemos como governo, não existe na grande maioria dos países africanos. O que existe são grupos organizados que possuem interesses comuns de enriquecimento imediato, ilícito e desumano, que se comportam como autênticos “governos vampiros”, que sugam e chupam toda a vitalidade económica do povo. Os políticos, governadores, ministros e presidentes africanos são verdadeiramente o maior problema e a grande desgraça de África. As nações africanas foram raptadas e subjugadas por uma falange de bandos e corruptos que usam as instituições do estado para enriquecerem e beneficiarem os seus familiares, grupos de amigos, tribos, excluindo todos os outros.


Num outro livro intitulado “Africa Desacorrentada”, Ayittey, escreve que existe uma perigosa cumplicidade, traição, complacência e impunidade dentro dos partidos políticos governantes que, agarrados ao poder político desde a independência, se transformaram nos maiores obstáculos, problemas, impedimentos do desenvolvimento de África e dos seus povos. Segundo o autor, a geração de “supostos libertadores” da pátria entrou em uma bancarrota ideológica total, ficou sem coração e perdeu a direcção do projecto de construção de nação para os seus países e povos. Ficaram todos obcecados pela ganância e pelo egoísmo do enriquecimento que começaram a infligir golpes contra o seu “suposto povo libertado”, de uma forma ainda mais atroz do que o colonialismo. Para satisfazer a sua cobiça e avidez na acumulação ilícita e fácil de riqueza, utilizam todos os meios desonestos possíveis, particularmente a violência e a fraude política-eleitoral na perpetuação do poder político. A geração de “libertadores crocodilos” e “governantes hipopótamos” crê que os meios justificam o fim, incluindo o roubo e a corrupção.


Para o Professor Ayittey, a geração de “libertadores crocodilos” não tem noção nem conhecimento da arte e da ciência da governação. Tem noção sim, de manutenção do poder político a todo custo para o seu próprio benefício, dos seus familiares, amigos e compadres no crime. Enriquecem-se ilicitamente por cima da pobreza, indigência e sofrimento do povo, só porque estiveram no `maquis` a lutar para libertar o país. Hoje está mais que evidente que a luta anticolonial foi para a independência do território geográfico e o saque das suas riquezas e nunca para libertação, emancipação e dignidade do povo.


Mais de sessenta anos se passaram desde a proclamação política das suas independências, mas os políticos, governadores, ministros e presidentes africanos foram incapazes, de criarem as condições estruturais para um desenvolvimento substantivo e sustentável e tirar, assim, a grande maioria do seu povo da pobreza e miséria.


Segundo o escritor e filósofo iluminista francês, François –Marie Arouet, conhecido por “Voltaire”, “na nossa vida existem dois tipos de ladrões: o ladrão comum e o ladrão político. O ladrão comum é aquele que rouba a sua carteira, seu dinheiro, relógio, telefone, etc; existe o ladrão político que é aquele que rouba o seu futuro, seu conhecimento, seus sonhos, s, sua saúde, sua educação, sua dignidade, seu salário, sua força e o seu sorriso. Uma grande diferença entre estes dois tipos de ladrões é que, o ladrão comum te escolhe para roubar os seus bens, enquanto o ladrão político é você que o escolhe para ele te roubar. Outra grande diferença, e não menos importante, é que o ladrão comum é procurado pela polícia, enquanto o ladrão político é geralmente protegido pela polícia. Pense bem antes de escolher o seu ladrão.”


É tempo de emergir em África uma nova geração mais optimista, realista, humanista e activista, verdadeiramente africanista que desencadeie uma luta séria contra a fraude política-eleitoral, a corrupção, a impunidade e a cumplicidade governativa na pilhagem do erário público. A África desesperadamente clama por uma nova geração de revolucionários cuja missão consista na erradicação do egoísmo, da cobiça, da ganância e do apetite pelo enriquecimento ilícito e fácil, e do saque daquilo que é pertença de todos. Esta nova geração não pode dar tréguas aos “políticos e governantes hipopótamos” que se escondem na conivência e cumplicidade dos partidos únicos e instituições do estado partidarizadas e tribalizadas que promovem, alimentam e protegem o vírus e a desgraça da corrupção em África. O Prof. Ayittey chama esta nova geração de “cheetahs”, uma geração inconformada que não tolera a estupidez, a besteira e a imoralidade da corrupção, mas que estão interessados na reconstrução de Africa de forma mais transparente, justa, inclusiva, solidária e humana. A geração dos “cheetahs” entende os princípios e valores da democracia pluralista e os contornos de uma governação responsável, transparente e que serve os interesses de todo povo.

 

A geração dos “cheetahs” não pode ficar à espera das promessas populistas e falsas de políticos, governadores, ministros e presidentes que prometem coisas que nunca cumprem e nem prestam contas. A salvação de África não está nos discursos demagogos e muito menos na boca e barriga dos “governantes hipopótamos” que roubaram e comeram tudo que podiam, mas sim sobre os ombros da geração dos “cheetahs”, que já esperaram demasiado tempo. Está mais que evidente que a geração de “libertadores crocodilos” e “governantes hipopótamos” tem a sua mente e intelectualidade enferrujada pela corrupção, e o seu coração possuído pela ganância e egoísmo, e não possui nenhuma solução para o problema que causaram. Ainda não ouvimos dos cientistas que o mosquito que causa a malária no homem consegue produzir a cura.


A desgraça e a vergonha de África são os seus políticos, governadores, ministros e presidentes: “libertadores crocodilos” e “governantes hipopótamos.”
E a desgraça de Angola?

Elias Mateus Isaac

Activista Cívico