Luanda - A quadra festiva em Angola foi embelezada pelos arranjos florais das lâmpadas incandescentes e florescentes, que fizeram recordar um tempo em que os cabazes de Natal fluíam em grandeza e imponência nos lares abastados do país.

Fonte: Club-k.net

Desta vez alguém se lembrou de aconselhar a troca do bacalhau pela lambula, aquela sardinha e lá fomos nós resignados à procura de soluções para juntarmos à mesa familiar, os ingredientes para um Natal Feliz, em honra do nascimento de Cristo Redentor.


Do seu leito simples e cheio de simbolismo religioso vieram recordações de um tempo farto de alegrias e extravagâncias milionárias típicas do Reino de Sodoma e Gomorra, que hoje, só a memória se encarrega de recordar.


No plano político, a nossa quadra festiva foi preenchida por um reveillon de actos, de natureza jurídica, tendo como foco o arresto dos bens daquela que alcançou o título de Mulher mais rica de África, ao capitalizar uma fortuna acumulada de muitos milhões de dólares, num país onde a pobreza é tão milionária, como os seus dólares.


A procissão ainda vai no adro e tão logo ela se aproxime do cume da montanha, haverá matéria suficiente para a análise dos factos, que deram origem a um dos casos mais candentes da nossa história enquanto Estado independente e livre das sequelas da guerra civil.


A empresária Isabel dos Santos tem com a acção da PGR , os seus bens arrolados num processo de arresto, e está obrigada a justificar a origem dos mesmos.


Foi instalada uma crise de escassez de produtos da cesta básica no pais, com a alta dos preços, que remete o cidadão comum para as lamúrias e outros comentários bem amargos.


Angola inicia uma nova década, com uma liderança forte e corajosa e está apostada em quebrar os esquemas da corrupção, do nepotismo, que mancharam sobremaneira a reputação de país charneira na luta dos ideais dos povos, que são a liberdade, a independência e o progresso social e económico.


Ao caminhar nesta senda, o Governo promete mais tarde um cenário sem crise, com as medidas correctivas, que tem estado a tomar para a estabilização. Caminho penoso que o discurso de alerta do Chefe de Estado se encarregou de lançar ao país, que neste momento da sua implementação tem estado a causar alguns amargos de boca à população, sobretudo a mais carente.

 

Nem tudo corre de feição, com os preços dos produtos básicos a assumirem uma curva ascendente e a provocar reacções nostálgicas dos tempos em que o bacalhau era rei e senhor e outros nas suas variadas opções gravitava na orla dos sonhos mais sublimes em termos de fartura e boa mesa.


Ao iniciarmos uma nova década Angola continua a corrigir os excessos políticos e de má gestão da coisa pública a um preço muito elevado e a pagar uma factura pesadíssima, que toca a todos tudo por culpa daqueles que arrastaram o país para o fundo do poço, onde já só restam uns pingos de petróleo.


Há quem diga que se houvesse sabedoria e bom senso, Angola seria hoje um el dorado, onde todos podiam desfrutar de uma vida melhor como poucos no continente e servir de modelo para o mundo, onde as desigualdades sociais e económicas continuam a exercer pressão sobre as nossas vidas.


A história de Angola está a ser contada de novo e a protagonizar medidas correctivas visando abrir luz para novos horizontes. É sobre ela, a nova história de Angola que todos os angolanos devem estar focados e cerrar fileiras, pois só desta forma se consegue atingir o alvo, que é corrigir o que está mal e melhorar o que está bem.


Não existe outro caminho lógico que possa garantir aos cidadãos angolanos, o acesso ao bem estar ,  material e espiritual que deu consistência e razão de ser à independência nacional.


Os angolanos têm consciência disso e vão lutar para alcançarem este vital objectivo.


Há que inverter este quadro. O mercado que é o lugar onde a oferta e a procura se encontram, deve rapidamente transformar-se na nossa praça forte devendo abrir-se sem complexos e receios, à iniciativa privada e libertar o Estado da tutela despesista, que tem levado a sucessivos desaires e à constituição de grupos de interesses oportunistas, que chamam a si os fenómenos que hoje condenamos, como a corrupção, a drenagem de recursos financeiros para o exterior, o açambarcamento das nossas riquezas naturais e a desertificação das nossas zonas produtivas, a favor dos monopólios do comércio, que trazem para Angola, toda a fancaria exposta nas mãos dos nossos zungueiros, à vista desarmada.


Temos de rever os termos de funcionamento da nossa indústria, cujas infraestruturas, se encontram nas mãos de um grupo muito selectivo de indivíduos, colunáveis alguns, que influencia negativamente o nosso desenvolvimento, a favor dos seus interesses de grupo, aconselhando inversamente o poder político a tomar decisões, que alimentam os seus egos.


Há que valorizar a produção com estímulos financeiros e a facilidades de crédito até de consumo ao cidadão, para criar estímulos internos à produção e distribuição de produtos manufacturados.


Só assim Angola poderá desenvolver-se com as políticas defendidas pelo poder político, a favor de todos os governados. Temos de voltar à velhas práticas de comércio e de trabalho, que permitiam que o sector privado pagasse os salários à semana, enquanto o Estado, como entidade máxima se limita aos salários mensais.


A Indústria nacional tem de ser repensada num todo nacional e não da maneira como se apresentam os pólos industriais, onde o esquema e as ilicitudes assentaram arraiais, em nome de grupos, que continuam a degladiar-se na disputa de terrenos, com operadores estrangeiros a participarem na especulação de terrenos, sem investirem em projectos industriais.


Com esta medida, a circulação mercantil ganha outras proporções e o estímulo à produção ganha outros foros de crescimento, tal como dizem os nossos mais velhos reformados nas suas conversas de família e de café.


Angola precisa de dar este salto qualitativo, para alegria de todos nós e sobretudo daqueles que a viram transformar-se numa referência económica no continente africano, na década de 60 e 70. Sonhar não custa. Fazer é uma questão de oportunidade e boa vontade.


ANDRÉ PINTO