Luanda - É necessário buscar, em cada cidade, candidatas ou candidatos surpreendentes, capazes de dialogar também com o (pouco) descrédito da sociedade diante da política actual existente – e de direccionar este sentimento para a consolidação da democracia.

Fonte: Vanguarda

Ao cair da noite, ainda tarde em Luanda, no extremo de Jumeirah, a península de lazer descontraída, com praias de areia após uma visita guiada à mesquita de Jumeirah em pedra branca, é impossível não ficarmos extasiados com o cenário que se desdobra diante de nós.

 

Escrever sobre Eleições pode ser uma tábua de guerra (ou de salvação), para quem gosta de investigar e pensar. Enquanto ‘’na banda’’ temos os criminosos a passear, os bairros assombrados e os seus habitantes mal se vêem, afogados pela escuridão. Os contornos da recém-criada e moderna cidade, deslumbrante e iluminada por vertiginosos arranha-céus, que proliferam dia após dia, deixam-me deslumbrado.

 

O pleito eleitoral que se avizinha, pode promover a difusão dos diferentes actores políticos por todo o país; ou, ao contrário, a sua derrota – e a emergência da criação de uma nova sociedade de valores.

 

Um comportamento marca as eleições para autarquias do próximo ano. O executivo, que já expôs a sua vontade de realização deixa agora para os órgãos legisladores a decisão que se espera.

 

O partido político MPLA com o seu imenso potencial destrutivo e que não tem outro projecto, além da democratização nacional, pode, porém, colher um resultado favorável e consolidar assim as suas raízes pelo país. Alguns factores concorrem para isso, embora o seu apoio popular tenha decaído.

 

O partido político MPLA consolidou-se fortemente num segmento da população que, em meio à crise, gira pouco abaixo dos 40% de pobres.

 

Os outros partidos políticos já não estão enfraquecidos, mas continuam desestruturados, o que permite ao partido político MPLA avançar sobre um eleitorado mais vasto – em especial, nas capitais e maiores cidades, onde pode existir segunda volta, se aceitável for.

 

Muitos dos partidos políticos não se redimiram da derrota nas Eleições Gerais de 2017; mantém-se desorientados e sem comando; não tem, salvo opinião contrária, lideranças estruturais prestigiadas e potentes – e nas condições actuais, tendem a se tornar divididos. Esta adição de valores conjura a ameaça às eleições, em pouco mais de um ano, de várias dezenas de autarcas, caso se consolide a aprovação do pacote legislativo.

 

Isto é importante realçar porque o nosso comportamento é influenciado pelas nossas suposições ou pelas nossas verdades convencionadas.

 

Apresento aqui, uma hipótese não-convencional, olhando para as diversas saídas necessárias em tempos incomuns. Implica articular, para as autarquias, candidaturas de sucesso – que expressem a opção pela democracia, a determinação de resgatar o país da crise e, em especial, valores opostos aos dos aventureiros– mas maioritários entre a sociedade.

 

Estas candidaturas devem romper os limites dos partidos políticos, associando-se desde o seu lançamento a coalizões que incluam, além de agremiações partidárias, movimentos sociais e sectores da sociedade civil. É necessário buscar, em cada cidade, candidatas ou candidatos surpreendentes, capazes de dialogar também com o (pouco) descrédito da sociedade diante da política actual existente – e de direccionar este sentimento para a consolidação da democracia.

 

Num passado recente, a maioria das pessoas acreditava que o mundo era plano, onde as elas temiam que, se viajassem para muito distante, pudessem cair para fora do planeta. Por isso, permanecerem imóveis, impensáveis. Mais tarde descobriram que o mundo afinal é redondo, levando a que os comportamentos mudassem em grande escala. E assim segue-se em frente.

 

A paz que roubou a vida a muitos angolanos, pois manteve ligações próximas com diferentes dinâmicas (inter) nacionais, como a corrupção, o nepotismo e a avidez comercial pelos diamantes e o petróleo.

 

Intuitivamente, compreendemos isto. Mesmo com sacos de bons conselhos, se as coisas não correm como era esperado, provavelmente é porque nos tenha escapado algum detalhe pequeno, mas vital. Que venham as Autarquias!

 

*Investigador Associado, Observatório Político