Luanda – O cidadão Eduardo Mendonça Capitango, mais conhecido por Duda, jogador de futebol pela Equipa do Kapalanga do Gira Bairro e estudante do 3° Ano do Curso Superior de Comunicação Social no Instituto Superior Técnico de Angola (ISTA), de 23 anos, natural de Luanda, foi morto por um agente da polícia nacional, no passado dia 11 de Janeiro do corrente, a poucos metros da 45° Esquadra do Kapalanga, em Viana, sem dó nem piedade.

Fonte: Club-k.net
O autor do crime hediondo chama-se Saturnino da Silva Valentim – que por sinal filho de um super-intendente chefe da polícia nacional que trabalha na mesma esquadra – está na corporação há apenas três meses.

Segundo relatos dos familiares, o malogrado terá sido recolhido no dia 10 de Janeiro, por andar fora de horas, sem documentos pessoais, quando regressava a sua residência depois de uma festa em sua casa.

Suponha-se que Duda (na foto) teria ido acompanhar a namorada e de regresso foi levado a Esquadra do Kapalanga, por volta da 01H00 da manhã. A caminho da esquadra, este não se conformou e terá contestado os excessos dos agentes, uma vez que estava a ser levado pelo facto de não estar devidamente documentado quando estava a poucos passos de casa.

A vítima, na altura, terá proposto aos seus algozes, a possibilidade de chegar a sua residência para então apresentar os documentos solicitados, pelo facto de não ser ladrão e muito menos fazia porte de qualquer tipo de armas. Mas o pedido foi recusado.

Na Esquadra do Kapalanga, encontrou-se com mais dois jovens na mesma situação e foram obrigados a pernoitar na cozinha daquela unidade. Por volta das 05H00 da manhã (do dia em que foi morto), foram obrigados a varrer a esquadra a mando dos efectivos que se faziam presentes.

Depois de darem conta de que os ânimos já estavam mais calmos e os próprios polícias já tinham uma conversa mais amigável, o malogrado pediu para que lhe permitissem ir a cantina, mais próxima, comprar saldo e avisar a família onde se encontrava, pois não era prática passar a noite fora de casa sem dar a conhecer.

Com a permissão de um superior, Duda foi então a procura do saldo a primeira cantina, vendo que está ainda estava fechada, tentou chegar rapidamente a uma outra próxima também da Esquadra. A caminho, um dos agentes que o havia recolhido e que desconhecia da permissão dada pelo seu superior, aparece, julgando que este estava a pôr-se em fuga.

O polícia, armado e mesmo depois dos colegas avisarem para que não levasse a arma, ou que não fizesse disparos, põe-se a gritar que Duda estava em fuga, faz três tiros, um para o ar, outro em direcção a vítima que o atinge na perna. Após este ver que possivelmente seria morto, tenta a todo custo correr para chegar a casa da tia, que por sinal também é próximo da esquadra.

Duda é apanhado pelo agente assassino, completamente imobilizado, sem representar perigo algum, ainda assim, Saturnino da Silva Valentim fez o terceiro tiro a queima-roupa contra o mesmo. O tiro mortalmente fatal acertou Duda por volta das 06H25.

Os colegas, polícias da mesma esquadra, repreendem o polícia, receberam lhe arma, recordando-o que foi avisado a não exceder. Este em pânico e depois de ver que os colegas não o ajudariam, tentou a todo o custo socorrer, mas o Duda já se encontrava morto.

“Pediu carro a esquadra que lhe foi negado, pediu boleia aos carros que lá passavam na rua que também não se queriam por no caso, sendo depois socorrido por um camionista da empresa Madar que fica em frente ao local onde Duda foi morto”, contou um dos familiares.

O agente Saturnino da Silva Valentim levou, com a ajuda deste funcionário da Madar, o cadáver ao Hospital Municipal do Kapalanga, por volta das 07H15, e lá o abandonaram na chamada “Pedra” (local onde são depositados os mortos) e não em uma câmara de conservação.

Na procura de respostas, a família foi a esquadra, estes justificaram a morte do malogrado, numa primeira versão, por ser bandido e ter-se insurgido contra polícias de motorizadas e na luta, Duda tentou desarmar um dos agentes, por azar a arma cai e dispara acidentalmente atingindo-o na perna, levado depois ao hospital mas não resistiu.

A segunda versão ainda dos polícias, Duda foi recolhido e tentou fugir do agente Saturnino da Silva Valentim e quando foi agarrado, tentou receber a arma ao agente. Nisso, o agente faz o tiro para a perna da vítima e socorrido, pelos mesmos, não resistiu o ferimento. Infelizmente para a polícia, existem vídeos captados por câmaras de vídeo vigilância que contrariou as duas primeiras versões.

Por outro lado, enquanto decorria o óbito, em casa do malogrado, a família acendeu dentro do quintal, um pneu de forma a facilitar a localização da casa onde decirria o óbito e de forma a afugentar alguns insectos. Porém, alguns amigos do malogrado, vizinhos no mesmo bairro, em forma de protestos, acabaram por acender, ao longo da via, vários pneus.

A família tentou várias vezes removê-los para não serem associados como actos de vandalismo, ainda assim os jovens voltavam a acender. Com isso, aparecem três efectivos da polícia, com capacetes e armas, invadindo a casa do óbito, a procura do proprietário para justificar o porque de tantos pneus na rua.

Não tendo sido atendidos, na altura em que se retiravam da casa do óbito, estes fazem novamente um tiro que acerta um jovem na perna por este ter dito que eles não eram bem-vindos na casa do óbito.

Já na Morgue Central de Luanda (Josina Machel ou Maria Pia), o resultado da autópsia diz que o malogrado faleceu por ter perdido muito sangue, por ter sofrido uma separação de alguns órgãos do femur causado por um único tiro na perna esquerda. Na altura da autópsia, não foi permitida a membro algum da família assistir.

Duda foi a enterrar no dia 17 de Janeiro, no cemitério do Benfica, em Luanda, irreconhecível, completamente desfigurado devido a deterioração e a deitar um cheiro nauseabundo. A família, revoltada, pede que se faça justiça por este tipo de crimes.