Lisboa – A emboscada que o Serviço de Investigação Criminal (SIC) realizou sábado (29)  resultando na detenção do general na reforma, Bento dos Santos “Kangamba” na zona do Xangongo, na província do Cunene foi gravada em tempo real e enviada para um  “comando de  operação” alheio a Procuradoria Geral da República. O Club-K teve acesso ao material e partilha algumas imagens  com os seus leitores.

Fonte: Club-k.net

“É triste a humilhação por que eu passei"


De acordo com as imagens e vídeos, o general fazia-se transportar numa  carrinha preta que fora  interceptada pelos agentes do SIC. Trajado de camisola vermelha e de calções e sapatilha, o general  Bento Kangamba foi convidado a descer da viatura. Enquanto descia, um  dos agentes do SIC  coloca a bala na câmara, mas depois acabaria  por guardar a  arma ao notar que o general não mostrou resistência. Kangamba apenas perguntou, “estão a me prender porque ?”, e um dos homens respondeu “ordens superiores”.

 

Nas imagens nota-se ainda que um dos oficiais do SIC baixou ordem para que lhe recebessem  um dos seus  telefones  cujo numero termina com “4444” para que fosse vasculhado. O general tinha um outro segundo telemóvel que não foi mexido.

 

As imagens compravam que não lhe foi apresentado “mandado de detenção”. Kangamba foi depois levado para uma viatura turismo de cor branca que também acompanhava os oficiais do SIC.

 

Momentos depois,  os oficiais do SIC, reportaram ao  “comando de  operação” em Luanda transmitindo que o general estava a exigir “mandado de detenção” que comprovasse a existência de uma ordem legal para ser preso, naquelas condições.

 

 O “comando de ordem” em Luanda, demorou a enviar o documento visto que o sub-procurador do DNIAP, Wanderley Bento Mateus estava incontactável. Quando o procurador Wanderley Mateus apareceu, o  “comando de  operação” em Luanda enviou o documento e por sua vez, os agentes do SIC no Cunene fizeram uma nota de apreensão dos objetos e  dos documentos que “Kangamba” tinha em posse. Ao general, segundo o documento (ver foto em baixo) foram-lhe  aprendidos, o telefone, a arma do seu guarda-costas, e 900 mil kwanzas. Não tinha passaporte ou outro documento que podesse evidenciar que estivesse em viagem, conforme a versão inicial do comunicado da PGR, assinado pelo seu porta-voz, Álvaro João.

O “comando de ordem” em Luanda ordenou que o general fosse levado no mesmo dia a capital do país pelo que no período da tarde enviaram uma aeronave da Força Aérea Nacional (FAN) na qual seguiu acompanhado de dois agentes do SIC. Antes de entrar para o avião foi lhe permitido, mudar de roupa tendo usado um fato olímpico vermelho ao invés do calção que trazia no momento da detenção.

Em Luanda, passou duas noites na cadeia prisão do São Paulo e na segunda feira viu a sua liberdade restituída no período da tarde. Foi ouvido as 12h durante duas horas e acabou por ir para casa por volta das 19h. O atraso deveu-se, ao facto de o responsável que tinha o carimbo para colocar no documento da soltura, não estava presente.

 

Durante os dois dias em que ficou na prisão do São Paulo, em Luanda, recebeu varias visitas de pastores, e outras personalidades que o quiseram ver e visitar. Segundo fontes dos serviços prisionais, em menos de dois dias, Bento Kangamba foi o preso que mais recebeu visitas sobretudo de gente anônima que se concentraram na parte de fora do estabelecimento prisional.

 

“É triste a humilhação por que eu passei, mas devemos apelar que a justiça se organize melhor", disse o general na sua primeira entrevista depois de sair da prisão.

 

A nível do MPLA, Bento Kangamba notabilizou-se como o político que usava o seu populismo para desgastar a UNITA acusando-os varias vezes de perdedores nas eleições. Pondo a política de parte, nas hostes do maior partido da oposição tem surgido suspeitas de que apesar de Kangamba ter sido detido por conta de uma divida a uma empresaria, a operação montada contra si, com ordens a partir de Luanda, pode ser resultado de lutas internas dentro do regime. Fontes da UNITA, tem se questionado se os procuradores não tem competência de mandar movimentar aviões das força aérea, quem deverá ser a “ordem superior ” com poderes de ordenar o envio de aeronave militar de Luanda para ir pegar alguém detido, no Cunene.