Lisboa - A homenagem ao criador de 'Mariquinha' realiza-se no Teatro Capitólio, em Lisboa, e vai contar com Yuri Cunha, Dom Kikas e "alguns convidados surpresa", segundo comunicado da produtora enviado à agência Lusa.

Fonte: Lusa

Bonga é o nome de José Adelino Barceló de Carvalho, nascido em Kipiri, na província angolana do Bengo.

 

A residir em Portugal, Bonga disse, à Lusa em novembro de 2018, que admitia regressar a Angola, embora se tratasse de uma questão "complexa".

 

"Se a situação continuar como está, vamos pensar nisso. Não depende só de mim. Tenho um grupo com quem trabalho, que vive no estrangeiro, a minha família, os meus filhos, que nasceram no estrangeiro. Muitos em Angola fazem-me essa pergunta. Mas não posso vir a correr para fazer outro tipo de trabalho. Vivo da música e sou um exemplo nisto tudo. Os 40 e muitos anos de carreira significam uma vida profissional empenhada, que tem cabeça, tronco e membros. E continua porque continuo a ser solicitado", argumentou.

 

"Eu sou daqui [Angola], nascido aqui, nunca me esqueci daqui, nunca cortei o cordão do umbigo com a terra de origem. Por essa razão me gostam tanto, me gostam bué, me querem tanto", realçou.

 

Aquando do seu 75.º aniversário, também em entrevista à Lusa, Bonga recordou "os tempos difíceis" que viveu, tendo chegado "a ser proibido de atuar, até em Angola", e quando a música angolana, "de forma pejorativa, era chamada de folclore".

 

"Houve um período de preconceito, em que chamavam [à música angolana] o folclore, o que era um bocado pejorativo, e [houve] obstáculos que tive de enfrentar, porque era uma música diferente, que não era valorizada, menos ouvida, e hoje, mais que nunca, tenho a consciência de ter posto um tijolo nessa grande construção que é a divulgação, consequente, desta nossa música angolana/africana", afirmou o músico, acrescentando que a música angolana, atualmente, "é mais reconhecida e conceituada do que há 20 anos".

 

Referindo-se às atuais fusões musicais como os ritmos 'kizomba' com 'kuduro', o músico considerou que "correm o risco de passar depressa", ao contrário do género que sempre cantou, "o semba, que está definido, que é angolano, e é intemporal, aliás, mesmo os que fazem essas fusões acabam por vir bater ao semba".

 

Bonga referiu-se ao semba como uma música "que tem uma expressão própria e uma vivência muito forte em relação a todo um povo que fez disso a sua forma de vida".

 

Bonga comparou-se ao Vinho do Porto, afirmando que "quanto mais velho melhor" e daí "continuar hoje a ser cantado pelos mais novos".

 

Bonga estreou-se em 1972 com o álbum 'Angola'72', ao qual se sucederam outros 39, entre eles cinco coletâneas e dois gravados ao vivo. Em 2014, a França condecorou-o com a Ordem das Artes e Letras, grau de cavaleiro.