Luanda - O ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social angolano disse hoje "não existir" qualquer censura nos órgãos públicos e privados confiscados pelo Estado, afirmando tratar-se de "factos que visam prejudicar as reformas" do setor.

Fonte: Lusa

"Eu não sei do que é que estamos a falar, nós ainda não assistimos nada relacionado com censura nos órgãos públicos ou privados, portanto esta é uma matéria que tem sido desenvolvida de forma intencional para prejudicar todo um trabalho que o executivo tem estado a fazer de reforma na comunicação social", afirmou hoje Manuel Homem, quando questionado pela Lusa.

 

Manuel Homem falava hoje aos jornalistas, em Luanda, no final da cerimónia de lançamento da Plataforma do Ensino a Distância do Instituto de Telecomunicações de Luanda (ITEL) e de uma biblioteca virtual da instituição do ensino médio.

 

Sem especificar quem, de "forma intencional", tenta manchar as ações em curso no setor que dirige, o ministro referiu apenas que o assunto vem da "parte de quem tem estado a criar esses factos" que o Governo entende "que não existem".

 

O jornalista Carlos Rosado de Carvalho voltou a ser barrado numa estação de televisão angolana, desta vez na Palanca TV, cinco dias depois de ter sido impedido de abordar o caso Edeltrudes Costa na TV Zimbo.

 

Nas suas contas de Facebook e do Twitter, o jornalista e economista anunciou que foi impedido, na quarta-feira, de participar num debate sobre "O ambiente de negócios em Angola", com os empresários Jorge Batista e Bartolomeu Dias, para o qual tinha sido convidado.

 

"Fazer o quê?", escreveu Carlos Rosado de Carvalho num `post` acompanhado pelas fotografias dos convidados, onde a sua cara aparecia traçada com um "x" e a legenda "Carlos Rosado de Carvalho not".

 

Questionado pela Lusa, o jornalista afirmou ter sido avisado em cima da hora pela produção do programa de que "já não poderia participar", sem mais explicações.

 

A Palanca TV era um órgão privado ligado ao antigo ministro da Comunicação Social do ex-presidente José Eduardo dos Santos que ficou sob controlo do Estado angolano.

 

A Agência Lusa contactou a Palanca TV para obter esclarecimentos sobre as acusações de censura, que foram remetidos para um contacto posterior.

 

Carlos Rosado de Carvalho acusou recentemente a TV Zimbo, outro órgão privado que passou para o Estado angolano, de censurar a sua participação na rubrica Direto ao Ponto, em que pretendia abordar, no sábado passado, as alegações relacionadas com Edeltrudes Costa.

 

O chefe de gabinete do Presidente João Lourenço terá sido favorecido, segundo uma reportagem da TVI, em contratos com o Estado angolano, tendo transferido milhões de dólares de uma empresa sua para o estrangeiro, que serviram para comprar casas e outros bens de luxo.

 

A direção da estação rejeitou as acusações de censura, mas não foi poupada por organismos como o Sindicato dos Jornalistas, o Instituto para a Comunicação Social da África Austral (MISA) e até a Ordem dos Advogados de Angola, que se solidarizaram com Carlos Rosado de Carvalho.

 

Vários órgãos privados de comunicação, nomeadamente a TVZimbo, Palanca TV, jornal O País, Rádio Mais, Rádio Global, uma produtora de conteúdos audiovisuais e uma gráfica passaram para a esfera do Estado angolano por "serem constituídas com fundos públicos".

 

A ação enquadra-se no processo de recuperação de ativos do Estado angolano no âmbito do programa de combate à corrupção, um dos eixos de governação do Presidente angolano, João Lourenço.

 

A Palanca TV foi recentemente oficializada como novo canal desportivo da Televisão Pública de Angola (TPA) com as autoridades a garantirem, para os próximos tempos, novos canais temáticos.

 

Em relação à reprivatização dos órgãos que passaram para a esfera do Estado, Manuel Homem assegurou que os mesmos serão privatizados, realçando que "a seu tempo" serão anunciados os mecanismos do processo de privatização da TVZimbo.

 

"Nós fomos claros já e temos estado a dizer que os órgãos de comunicação social que foram arrestados para o serviço público vão ser privatizados e reafirmamos isso", notou.

 

A TVZimbo e os outros órgãos, adiantou, "estão num processo, existe uma comissão de gestão que está a fazer o levantamento de tudo o que é necessário que facilita esse processo de integração".

 

"E ao seu tempo iremos anunciar os mecanismos de como esse processo de privatização da TVZimbo irá ocorrer", concluiu.