Luanda - O secretário provincial de Luanda do maior partido da oposição União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), Manuel Armando da Costa Ekuikui (Nelito Ekuikui), é também o deputado mais jovem à Assembleia Nacional, pela bancada parlamentar do mesmo partido, 29 anos, licenciado em Direito, advogado de profissão.

* Óscar Ganga
Fonte: Club-k.net

Em entrevista exclusiva ao portal Club-K Angola, Nelito Ekuikui, por um lado, apela às autoridades a fim de regularizar o atraso da pensão e subsídios à família do seu escola pessoal assassinado em setembro de 2019, na medida em que   considera como sendo “péssima” a segurança pública na província de Luanda, em consequência de vários incidentes que resultam em morte de cidadãos envolvendo supostos agentes de segurança e defesa, estes que, em seu entender, são orientados por discursos violentos.



Club-K: Enquanto secretário da segunda força política em Luanda e deputado, como avalia a situação de segurança pública em Luanda?

Nelito Ekuikui: A segurança pública em Luanda é péssima. Temos uma capital do país bastante insegura ao nível das comunidades e dos centros urbanos, onde o maior promotor da insegurança tornou efetivamente o dirigente da instituição política que deveria traçar estratégias para minimizar a insegurança do cidadão na rua. Temos as chefias políticas nas forças de segurança e ordem com um discurso muito musculado que direcciona a Polícia Nacional a não agir em conformidade. Violam a lei e os direitos humanos.


CK: De quem deve ser a responsabilidade?


NE: Hoje a instituição, Polícia Nacional, que devia garantir a nossa segurança nas ruas acaba colocando em perigo a nossa própria vida. O que nós compreendemos também não ser culpa do agente, porque quando o filho é mal educado a culpa é do pai.


CK: Há um ano, justamente no mês de setembro de 2019, foi assassinado o seu escolta pessoal, agente da Polícia Nacional, de nome Kiesse João, por supostos meliantes. O caso ainda não foi esclarecido pelo Serviço de Investigação Criminal. É consequência da insegurança pública ou teve motivações políticas?   

NE: Olha, até hoje não tenho explicação porque a Polícia Nacional não explica esta situação. Não sei se teve motivação política e quiseram mandar uma mensagem indirectamente ou insegurança. Mas não é fácil conviver com isso. Kiesse é dos melhores companheiros com quem trabalhei na minha segurança pessoal. Um senhor bastante atento, corajosos, coerente, sabia fazer o seu trabalho.


CK: Há um ano da sua morte, como é que se lembra de Kiesse João alguém que tinha a missão de guardar a sua integridade física em quase todas as circunstâncias da vida?


NE: (...) sempre que me lembro daquele companheiro, encoraja-me a continuar a lutar. Ele também já foi vítima por parte de agentes da Polícia Nacional quando comentava minhas publicações e da UNITA nas redes sociais e da UNITA. Já tinha sido ameaçado com processos. Coisas que fomos acompanhando e ele falava para mim.


CK: Como é que descreve o seu perfil de trabalho de segurança pessoal para ter que presumir estas motivações à sua morte?

NE: Era um indivíduo bastante leal. O seu excesso de fidelidade, a entrega para cuidar da minha segurança pessoal, talvez isso também terá contribuído para que ele fosse morto. Estou certo que o tempo ajudará a esclarecer.


CK: O que acha que deveria ter sido feito, após a morte do seu escolta, e as autoridades ainda não resolveram? 


NE: O que mais quero pedir através desta entrevista ao Club-K é que as autoridades que governam o país deiam à família aos filhos do Kiesse o que é dele de direito. Que resolvam o problema da sua pensão. Ele trabalhou comigo na Assembleia Nacional, mas até hoje não são pagos os subsídios de que ele beneficiava. Pelo menos isso resolvam, embora não traga a pessoa de volta. 


CK: A quem se deve atribuir responsabilidades pela conduta de agentes da ordem que diz ser perigosa para a vida do cidadão na rua?


NE: Há algum discurso da instância política do Ministério do Interior que ao nosso ver não tem sido pedagógica. Discursos que incitam o agente ao ódio contra o cidadão.


CK: Há discursos de que se lembre ter orientado alguma violência?


NE: Os discursos orientam o comportamentos dos agentes. Se eu fizer um discurso violento, o indivíduo que ostenta uma determinada instituição está orientado a violência. “A polícia não vai distribuir rebuçados nem bolachas”, por exemplo. Acto continuo começamos a ver uma polícia cada vez mais violenta, a matar. O ministro só o é porque tem território e povo.


CK: Como avalia a actuação das forças de segurança e defesa nesta fase da pandemia, tendo tarefas redobradas para fazer cumprir as medidas do executivo para a prevenção contra à pandemia?


NE: Não tem sido boa. Nós apelamos o bom senso da Polícia Nacional no sentido de actuar com maior respeito. Estamos a ver hoje em Luanda um grande risco de termos milícias no país. Isto significa que a Polícia Nacional despiu-se do seu papel.


CK: Conhece alguma zona ou casos em que a Polícia terá perdido o seu papel?


NE: Está acontecer um pouco por Luanda. O que acontece no Sambizanga é inacreditável. Um administrador distrital não pode criar um grupo de indivíduos para combater a delinquência. Se não sabem quem deve combater a delinquência, nós podemos ensinar. Estão a dar competência a um administrador de um distrito para criar milícias para combater o crime? Que aberração pode existir?


CK: Qual seria a solução do ponto de vista da UNITA, em Luanda, para ajudar jovens a saírem da delinquência?


NE: Criar projectos sociais. Pôr a juventude a pintar os prédios do Sambizanga, a plantar árvores, criar campos desportivos, criar cooperativas. O crime combate-se com política próprias para congregar ou dinamizar quem está neste mundo. Não faz sentido tirar um indivíduo da violência e inseri-lo em grupos de bandidos para combater outros bandidos.


CK: Para UNITA em Luanda, quais são as zonas com maior índice de insegurança pública e instabilidade social?


NE: Instabilidade social estaríamos a falar de fome e outras situações de bem-estar do cidadão. Temos o município de Cacuaco, município de Belas, o Rangel e um pouco por toda capital. Registamos nestas zonas muita fome e miséria.


CK: A fome e miséria no seio de famílias em Luanda concorrem para o índice de criminalidade na visão da UNITA?


NE: Nós costumámos dizer    na filosofia da UNITA, que devemos começar pela base. Não se pode começar o desenvolvimento das comunidades pelos centros urbanos já desenvolvidos, por exemplo. Tu tens que ir para zonas onde há maior índice de instabilidade, maior número de habitantes pobres. Trazer esta gente para a economia real criar cooperativas, tirar as pessoas do crime, da prostituição.


CK: É a favor do levantamento da cerca sanitária para Luanda?


NE: A cerca em Luanda foi levantada, só que não têm coragem de admitir que conseguiram implementar a boa ideia da UNITA para o país. Este é o grande problema deste governo. Como os casos vão aumentando, não seria bom sair de Luanda sem testar, este foi sempre o fundamento da UNITA. Estas novas medidas contra a covid-19 que estão a ser implementadas, publicadas em Diário da República e em Decreto, está conforme a UNITA sempre defendeu.  Agora já se pode viajar sem autorização, basta que se faça o teste da covid-19, por aquilo que consta no manifesto da UNITA. Os aviões estão a circular. O problema é o ego partidário, por isso as pessoas não querem admitir para ganhar protagonismo político.

 

CK: Qual é o contributo da UNITA em Luanda no âmbito dos transportes público em fase da pandemia?


NE: Nós defendemos que haja maior distribuição de transportes público, de modos que a oferta seja maior que a procura. O que se vê hoje mais de 500 pessoas em filas a espera de um ou dois autocarros. É inaceitável que se queira reduzir a propagação do coronavírus nestas condições.