Lisboa - O analista da Economist Intelligence Unit (EIU) que segue a economia de Angola disse hoje à Lusa que a diversificação deverá ficar suspensa até 2022, à espera da retoma económica e do aumento das receitas fiscais.

Fonte: Lusa

"A agenda política do Governo, que pretendia reduzir a dependência de Angola do petróleo através de investimentos na economia não petrolífera, esbarrou num obstáculo, já que os preços baixos do petróleo cortaram as receitas e reduzirão a atividade económica em 2020 e 2021", disse Nathan Hayes em declarações à Lusa na semana em que se assinalam os 45 anos da independência de Angola.

"O Governo continua a dar passos nesta direção, mas o progresso será difícil com a economia em recessão e as receitas fiscais em níveis baixos, por isso a partir de 2022 esperamos que a diversificação seja retomada, com as reformas a darem frutos e uma política monetária mais encorajadora de novos investimentos", acrescentou o analista britânico.

Para o perito da unidade de análise económica da revista britânica The Economist, "João Lourenço mostrou apetite por mudanças arrebatadoras através de iniciativas para melhorar a transparência nos contratos públicos, para imprimir uma consolidação orçamental e reformar o setor bancário".

O problema, assinala, é que "o progresso nestas áreas será difícil de manter em 2021 com a economia em recessão e as receitas fiscais a caírem", por isso o analista estima que "quando os preços do petróleo recuperarem, em 2022, a atividade económica não petrolífera e a confiança dos investidores vai melhorar, reiniciando o progresso na diversificação e atraindo investimento direto estrangeiro, que poderá inverter um longo período de saída líquida de capitais".

As previsões da EIU apontam para uma recessão não só neste ano, mas também em 2021, no seguimento de uma queda de produção do petróleo que se verifica desde 2008, com os poços petrolíferos a chegarem à maturação e com falta de novo investimentos.

"A produção petrolífera vai continuar a cair devido ao limitado investimentos nos poços nos últimos anos, num contexto de redução de custos por parte das petrolíferas devido à queda dos preços", assinala Nathan Hayes, esperando um ressurgimento da atividade económica nos setores dos diamantes, agriculturas e minas.

"As reformas em curso para atrair investimento e reduzir o compadrio são encorajadoras, mas os ganhos em termos de PIB vão implicar mais esforços contra a corrupção, a má regulamentação e o afastamento dos investimentos privados devido ao peso do setor público", alerta o analista, salientando a contestação ao Governo e a "falta de melhorias reais nos níveis de vida das pessoas", que foi exacerbada pela pandemia, cuja recuperação vai demorar anos.

Questionado sobre se o Governo de Angola está, desta vez, realmente empenhado na diversificação económica, Nathan Hayes respondeu que "a reforma estrutural enquanto parte integrante do programa do Fundo Monetário Internacional (FMI) para gerar mais transparência tem há muito sido prejudicada pelo controlo da economia por parte da elite política" e concluiu que "as reformas estão a ser combatidas pelos interesses ocultos" no país.

O governo angolano assinala os 45 anos de independência a partir de terça-feira, com uma homenagem no Palácio Presidencial, e várias inaugurações, entre as quais a do Hotel Intercontinental, nacionalizado no mês passado.

No dia 11, quarta-feira, data em que se celebram os 45 anos da "Dipanda", as cerimónias começam às 07:00 com o içar da bandeira no Museu Central das Forças Armadas Angolanas, seguindo-se às 09:00, a deposição de uma coroa de flores no memorial Dr. António Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola, que proclamou a independência em Luanda, às 00:00 do dia 11 de novembro de 1975.

Para as 10:00 está prevista a inauguração do Hotel Intercontinental, nacionalizado pelo Presidente, João Lourenço, no dia 28 de outubro, passando as participações a pertencer na totalidade à petrolífera estatal Sonangol.