Luanda, 20 de Fevereiro de 2021

Excelentíssimo Senhor Presidente da UNITA
Prezados membros da Direcção do Partido
Distintos senhores Deputados à Assembleia Nacional
Queridos membros da família do Presidente Fundador,
Caros convidados, Membros do Corpo Diplomático, Prezados representantes da MARMOCO , Caros companheiros, amigos, Juventude
Minhas Senhoras e Meus senhores,


Quero antes de mais, agradecer a presença de todos os que, apesar de todas as restrições que nos são impostas pela COVID19 e de outras exigências de fim de semana, deixaram o que tinham por fazer, para virem a esta sala.


É para mim motivo de grande alegria, e imensa satisfação termos chegado a este dia, porque não podeis imaginar o quanto tive que aguardar! Não posso deixar de me lembrar aqui, palavras de alguém que, ainda na altura em que eu tratava de desenhar o caminho que me levaria do texto original para o livro que temos hoje, me dizia, a um dado momento da nossa conversa: é que,… sr. Virgilio sabe? Isso aqui, isso de livro, é como um bebé que nasce. Há que fazer todo o esforço e cuidado, para que ele nasça de uma maneira perfeita. De facto, o lançamento a que estamos a assistir nesta cerimónia, é como o nascimento de um bebé. Um nascimento que, no entanto, teve as suas grandes diferenças com o nascimento de um bebé no verdadeiro sentido da palavra. Senão vejamos:
-A Primeira diferença, é que ele não teve progenitores. Teve apenas um pai, que aqui se apresenta;


-A Segunda diferença, é que teve uma gestação que durou muito mais tempo do que os nove meses da gestação dos nossos verdadeiros bebés.


Eu considero muito importante mencionar essa segunda diferença, porque depois de lançada a ideia e terminada obra, seguiram-se meses a fio que às vezes obrigaram os envolvidos a fazer das tripas o coração, para hoje termos a possibilidade de proceder ao seu lançamento.


A ideia de elaborar e produzir este documento, surgiu como resultado das minhas reflexões em volta do meu próprio dia a dia vivido desde certo momento. Se, ao longo do tempo fui tomando algumas notas sobre os acontecimentos que directa ou indirectamente me afectaram a mim e ao meio em que vivia, foi a partir de um momento particularmente inesquecível, que tomei a decisão de publicar algo, que seria uma voz mais a juntar-se àquelas outras vozes que no momento certo, quiseram homenagear os nossos heróis, cujo expoente máximo foi, para mim, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi. Foi por isso, que desejei ardentemente que esta obra surgisse e estivesse disponível ao consumo dos angolanos, imediatamente a seguir às exéquias do Dr. Jonas Savimbi, ali pelos meses de Julho/Agosto de 2019. Infelizmente, devido a uma série de contingências, devido a uma série de constrangimentos que foram desde as insuficiências de meios financeiros próprios, até as dificuldades e insuficiências do próprio pais que temos, esse meu desejo não foi possível ser materializado no tempo que inicialmente considerei mais apropriado para o nosso leitor. Nessa impossibilidade, surgiu o desejo de vê-lo à venda pelo menos no primeiro aniversário, dessas exéquias, mas nem isso foi possível.


É uma questão que lamento imenso, mas também é uma oportunidade que aumenta a necessidade de reflexão sobre vários aspectos da realidade deste nosso país, ao qual alguém teve um dia, o descaramento de chamar potência regional. Entre vários aspectos para os quais chamo atenção dos que têm ou aspiram ter a responsabilidade de dirigir os destinos deste país, cito um pequeno exemplo, este, resultante do próprio processo de produzir este livro. A ideia que aconselhou a escolha da produção local, foi a de valorizar em primeiro lugar, as nossas próprias empresas; valorizar o produto nacional, a marca ANGOLA em vez de irmos a Lisboa. Escolhemos assim a editora angolana MARMOCO.


Foi uma bela oportunidade para tomar contacto com as dificuldades com as que a própria editora teve de se confrontar em consequência do que temos até este momento, como país. Via-se que havia uma vontade férrea de fazer o melhor, mas também era visível a imensidade de dificuldades de toda ordem pelo caminho, o que se foi tentando superar.


Mas a pior experiência chegou depois: quando tudo parecia minimamente ultrapassado e começamos a programar já o lançamento, também começamos a receber noticias de que o livro, já estava à venda. Tanto a MARMOCO como nós, desmentimo-lo porque parecia para nós, impossível. Com efeito, o pacote encomendado, estava intacto e em segurança, com a MARMOCO.


Mas, depois, tudo se fez realidade. O livro tinha sido roubado, possivelmente, a partir da própria gráfica e alguém já estava a fazer o seu business. Tudo o que tínhamos planeado deitou-se abaixo com essa atitude tão perversa de alguém que o achou normal. Devo confessar que primeiro fiquei muito revoltado. Mas depois de muito reflectir, deixei de fazer a pressão que tencionei fazer no inicio. Procurei entender o meu país e disse cá comigo: -o ladrão não tem culpa. A culpa foi do regime que se especializou em formar ladrões. A culpa foi do regime sim, da mesma forma que se especializou em formar gente que pratica actos que nos envergonham a todos, pelo Mundo fora. Explico-me fazendo recurso à actualidade:


A nossa sociedade deve aprender a sentir o que chamarei de vergonha colectiva ou vergonha nacional e só assim podemos fazer renascer a esperança de uma nova Angola, aquela Angola que realmente esteve nos nossos sonhos dos anos da independência. Quando, mesmo em 2021 temos a coragem de afirmar que somos um estado democrático e de direito ao mesmo tempo que apresentamos ao Mundo, imagens do que se passou recentemente no Kafunfu, temos que tomar consciência de que estamos doentes.


Quando há dias eu vi essas imagens vindas de Kafunfo a circular pelo Mundo fora, com o nome, marca, farda e caras de elementos das forças de segurança de ANGOLA, eu, mesmo não sendo alguém que tenha alguma responsabilidade no governo do meu país, senti uma vergonha imensa ao ter que responder à perguntas sobre isso. Pois não se pode imaginar, mesmo pela nossa tradição, o que circulou pelas redes sociais sobre Kafunfu. O morto é uma coisa sagrada.


Uma rebelião, é fruto da falta de diálogo. Mas o meu problema não é este. O que questiono é que, mesmo quando se chega a uma rebelião, ela neutraliza-se com uso da força legal que é a Policia e caso necessário as Forças Armadas, e até ali estamos de acordo.


Mas, uma vez atingido o suposto rebelde, se nós nos reclamamos como sendo um estado democrático de direito, esse rebelde deve ser tratado com o respeito devido a um morto se estiver morto; mas o ferido, deve ser socorrido, tratado para que se cure e sirva até para nos dar informação do que ele queria fazer, e termos dados para condená-lo. Mas as imagens que circularam por cá, que chegavam com o vento e sem que ninguém as pedisse, mostravam elementos trajando a honrada farda das nossas FAA às que eu tive a honra de pertencer; mostravam botas, compradas com o dinheiro do povo, a serem usadas para pisar e esmagar as cabeças de filhos feridos desse mesmo povo, com os algozes ainda a perguntar às vitimas se ainda não tinham morrido para então lhes dar o golpe final!


Todo o Mundo viu imagens de cadáveres despidos e soldados com a farda marca ANGOLA, preocupados a procurar os genitais de compatriotas mortos ali, para dar uma sova à paulada nos cadáveres. Para agravar a imagem, apareceram altas chefias ainda a colocarem-se do lado de subordinados que se comportaram dessa forma tão selvagem! Compreendereis que isso é uma vergonha que já não é só do regime. Isso já é uma vergonha nacional. Eu a senti assim, e creio que deve ser sentida por todos angolanos, para que uma vez que entendamos que ela nos diminui a todos, todos juntemos esforços para dizer aos nossos irmãos do MPLA que esse, não é o caminho para granjear o respeito da Comunidade Internacional; esse não é o caminho para edificação de uma pátria una e indivisível, que queira honrar a memoria de Jinga ou de Neto, de Mutuyakevela ou de Holden, de Mandume ou de Savimbi.


Juventude do meu país:
São essas coisas que a nossa sociedade aprendeu. Vejam e reflictam.


Esses exemplos, devem merecer a nossa atenção e devem dar-nos a medida da gravidade do estado em que está a nossa sociedade, essa sociedade cuja construção esteve no sonho descrito no meu livro: o sonho de uma Angola Melhor, que na ideia inicial do seculo XX, na ideia do Dr. Savimbi, devia ser, não a prematura potência regional, mas o espelho do Continente Africano e do Mundo.


Num país normal, com os actos antes descritos, de um lado, a fama dessa gráfica donde escaparam os livros correria e num abrir e fechar de olhos, essa gráfica perderia toda a sua clientela. Do outro lado, o nosso país e não só o regime, desce uns degraus mais o nível da sua imagem como Estado Civilizado. Bem, mas virada esta pagina, congratulamo-nos, que hoje, possamos fazer realidade pelo menos esta 2ª apresentação do livro ao publico, já que a primeira, já foi feita pelo ladrão da gráfica.


Este livro é para mim, uma pequena mas singela homenagem aos angolanos, aos companheiros e a todos os compatriotas que foram ficando pelo caminho, mas em especial à nossa estrela sempre brilhante, o nosso grande líder que foi o Presidente Fundador da UNITA, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi, cujo desaparecimento comemoramos nestes dias.


Ao mais simples soldado ou cidadão anónimo, que o Jaguar Negro dos Jagas nos ensinou a amar, tombado no campo da honra, nas matas, nos vales e nas montanhas, nas aldeias, nas cidades, nas ruas ou nos hospitais desorganizados da nossa querida República por causa de egoísmos nossos, por causa de desentendimentos nossos, na hora de assumir as nossas responsabilidades como angolanos livres, em 1975, também a nossa homenagem.


O livro é também um comentário recordatório do caminho que percorremos nos mais diversos azimutes; das lições que fomos sacando de experiências vividas dentro e fora do país; da luta que anos a fio se foi desenvolvendo como contributo de cada um na busca de soluções para a nossa terra. Ainda que não se encontrem no livro soluções miraculosas aos nossos problemas, espero que ele possa pelo menos servir de uma chamada de atenção para reflectirmos sobre o nível em que nos situamos realmente, no contexto das nações que formam o universo em que vivemos neste século XXI.


Espero que esta pequena obra, que não é nenhum compêndio cientifico; esta obra escrita em linguagem simples para a boa compreensão de todos; obra onde certamente encontrareis gralhas que resultam de débeis revisões…enfim, espero, que sirva para deixar o nosso grãozinho de areia ao conhecimento de certos aspectos da nossa história recente, e que ela incentive a juventude, para a necessidade de se reflectir, profundamente, o país que temos; reflexão que deve ser feita entre Angolanos, independentemente da sua cor da pele, da sua ideologia e da sua religião.


Teria apreciado contribuir melhor. Não o podendo, almejo que o livro seja um pequeno álbum de lembranças para os meus contemporrâneos, e um sólido grão de areia que ajude a construir esse bloco de vontades e curiosidades, em particular na juventude que não viveu a triste, mas rica experiência dos anos pós independência, para tomar cada vez mais contacto com as ideias dessa estrela brilhante que foi, o dr. Jonas Malheiro Savimbi, esse nome que mal intencionados tentaram e ainda tentam ensinar-nos a vilipendiar e a odiar. Na realidade, os ideais pelos que lutou e nos ensinou a alcançar, devem hoje ser conhecidos e estudados em profundidade, já que está mais que evidente, que eram e continuam a ser a única e melhor via para a felicidade do nosso povo.


Dr. Savimbi, foi um fenómeno: A juventude era a sua aposta, investindo o máximo na sua formação; o soldado, era o seu mais estimado aliado a quem acarinhava e tratava da melhor forma que podia; o diplomata não via o dr. Savimbi sair para o exterior do pais e regressar, sem que fizesse uma chamadinha telefónica a cada uma das cidades onde sabia que havia representantes seus, para acarinhar, discutir e para orientar o trabalho, fazendo da diplomacia da UNITA uma das mais fortes que existiu; o povo era para ele a base e o topo, o inicio e o fim, tudo porque para o Dr. Savimbi e como sabemos, o lema era “Primeiro o Angolano, 2º o Angolano, 3º o Angolano, o Angolano, sempre….


O Dr. Savimbi morreu, mas 19 anos depois, ninguém conseguiu mostrar uma sua casa no estrangeiro. Savimbi morreu, mas 19 anos depois, ninguém conseguiu ver o que ele aproveitou para si mesmo ou para a sua família. Nada! Absolutamente nada.


Os que tinham contrariado suas ideias e o combateram com toda a ferocidade, hoje têm que esconder-se, enquanto procuram como solucionar e como proteger o que roubaram do erário público. Porque para eles era, primeiro servir-se, segundo servir-se, terceiro servir-se e em 4º servir o amigo estrangeiro que o ajudou a esconder o dinheiro roubado, fora do país. O resultado, é o que vemos; é este país que temos hoje onde, a primeira lição que aprendeu até o homem da gráfica é, como roubar um livro do pacote do cliente do seu patrão. O resultado é termos um país onde à pequena dor de cabeça, é preciso pensar no bilhete de avião para ir a Namibia tratar-se, em vez de pensar de ir ao nosso hospital Maria Pia, aí pertinho! Tudo isso, 46 anos depois de frustrado o nosso sonho de uma Angola diferente.


Espero que a juventude localize, estude e reflicta profundamente as ideias do Dr. Savimbi e trate de pô-las em marcha, para ajudar as futuras gerações a evitar cometer os erros que cometemos até aqui e, assim, forjarem um futuro diferente.


Quero terminar agradecendo a presença do sr. Presidente da UNITA, neste acto. Ao meu companheiro e amigo Dr. Alcides Sakala o meu obrigado pela disponibilidade e disposição de brindar-me com o seu prefácio em certos pontos com tanto detalhe e adjectivos de que eu não me considero merecedor. Muito obrigado.


Agradecimento e sobretudo encorajamento vai às edições MARMOCO. Valorizar a marca ANGOLA, não é, e não será para vós tarefa fácil. Passareis e tereis que aceitar ainda muita crítica sobre deficiências que mesmo não sendo da vossa livre vontade tereis que assumir e examinar para vos fortalecer. Vereis que o que dali resultará é orgulho que será para todos nós. E outras empresas angolanas vos seguirão o caminho, para irmos fazendo coisas ainda melhores para a nossa Pátria comum.


Meu agradecimento aos meus falecidos pais, e a toda a minha família que me ajudaram a forjar-me para toda essa viagem; agradecimento ao nosso Pandinho ou Bianco como é conhecido e a sua equipe, cujo compromisso facilitou a organização e tornou possível o presente acto, mesmo nas presentes condições da COVID, que impossibilitou a minha presença física.


Agradecimento à família do Dr. Savimbi que nos honra com a sua presença; agradecimento a todos companheiros de longa data e amigos que tiveram a amabilidade de se disponibilizar para estarem presentes neste acto de lançamento da minha obra. Do outro lado, aproveito uma vez mais, pedir perdão aos que, preferindo possivelmente estar no anonimato, encontrarão o seu nome mencionado na obra, levando-os a sentir-se lesados com isso.


Aos leitores em geral, o meu agradecimento antecipado por se interessarem em ler-me; conto com a compreensão de todos.

Resta o meu apelo reiterado à nossa juventude. O momento é este. Angola que nós e os anteriores quiseram deixar-vos, não é a que temos. Cabe-vos, forjar abertura da mente, moldar e confiar-vos à mentes solidas e sobretudo seguras, ouvir, analisar e aprender dos nossos erros, retificá-los e prepararem-se para, pelo menos, a vossa geração conseguir dar à próxima, o que foi o sonho dos que vos antecederam e que, estou seguro, também é o vosso.
Muito obrigado.