Luanda - Professor Salvato Trigo, Reitor da Universidade Fernando Pessoa, ele que é o primeiro doutorando em Literatura de expressão portuguesa, foi durante muitos anos professor de Literatura de expressão portuguesa em Portugal, tornou Mestres e Doutores os primeiros estudiosos desta área do saber em Portugal dentre, eles o professor Pires Laranjeira, portanto é o decano vivo dos professores de Literatura de expressão portuguesa.


Fonte: Club-k.net/Cláudio Fortuna  


Professor Salvato Trigo, como é que caracteriza o estado actual, da Literatura angolana hoje?


Eu tenho acompanhado com muito interesse, a geração actual dos escritores angolanos e que me parece, que estamos atravessar uma fase que é do meu ponto de vista muito interessante, e muito interessante porquê? Porque é de alguma maneira uma certa releitura da historia da Literatura angolana e da própria Historia de Angola que é trazida pelos próprios escritores que já não estão presos a determinado preconceitos, a determinados modelos doutrinários que por vezes tornam enviusadas certas leituras e por isso, parece me aqui que há uma tentativa bem sucedida de recuperação do passado angolano, quer seja um passado colonial quer seja um passado fundamentalmente patrimonial vinculado as características culturais avoengas do próprio povo de Angola, que me parece muito comprometido, digamos que ideologicamente muito interessante, que embora seja uma leitura politica é digamos que uma leitura neutra do ponto de vista doutrinário e isto para mim parece, particularmente importante na medida em que é um estádio de desenvolvimento de uma Literatura, que vai assentar em valores, que não estão directamente vinculados nem ao tempo nem ao espaço, que são de facto valores substantivos daquilo que é afirmação cultural, e que é a afirmação poética e literária daquilo que é a Literatura angolana.


Que apreciação faz, da Literatura que se fazia nos primeiros anos após a nossa independência, por exemplo, os anos de 1980, altura em que a Literatura angolana deu digamos um salto muito grande, pelo menos em termos quantitativos, parece-me que hoje o quadro é diferente porquê?


Hoje o quadro é  diferente porque, naquela época logo a seguir digamos que a Independência, e com a criação da União dos Escritores Angolanos, quer através da própria revista da UEA, quer através da Revista Achoti, de outros movimentos que se foram constituindo, havia necessariamente um afã, da expressão de uma satisfação naturalmente, de uma necessidade natural traduzida pela própria independência, o que levou de facto que muitos jovens pudessem vir as Letras, pudessem vir a expressão Literária, exprimir muitas vezes pontos de vista, que eram pontos de vista seus que dai eventualmente não devem estar de acordo com os pontos de vista da maioria, porque estas questões da Literatura e da Poesia, são fundamentalmente alicerçadas em pontos de vista que têm haver não com os nossos próprios sentimentos mas com os sentimentos nossos que são comuns também aos sentimentos dos outros, e de facto logo a seguir a Independência nos anos de 1980, como disse em finais anos de 1970, e principio dos anos de 1980, a volta justamente da Lavra & Oficina da Achote, aparecem alguns valores de jovens escritores que são hoje em fim valores consagrados da Literatura Angolana, como o João Mayonama, o Eduardo Boana Vena, e outros não é! Que na realidade puderam dar digamos assim uma nova frescura, a expressão literária angolana, porque traziam digamos assim, uma expressão que já não estava demasiadamente marcada, demasiadamente condicionada ao discurso anti-colonial que vinha naturalmente da Literatura dos anos de 1950, portanto a geração dos fundadores.


Naquela altura, nós tínhamos uma brigada jovem de literatura Angolana com alguma dinâmica, cujo resultado é hoje visível, na medida em que acaba por ser digamos que o esteio sustentácular, dos Membros activos hoje da própria UEA, o que é que estará na base deste enfraquecimento actual da dinâmica da Literatura?


Eu julgo, que este enfraquecimento tem haver também com a própria realidade sociológica, e sócio politicas que Angola está a viver, julgo que hoje há  de facto em Angola um desenvolvimento extraordinário, um desenvolvimento sócio-economico, um desenvolvimento politico, que certamente não terá as melhores condições para uma criatividade devidamente sustentada, por outro lado também julgo, que não haverá da parte da escola, da parte da Universidade suficiente apoio, no que diz respeito ao estudo, a analise ao aprofundamento das questões literaturas e culturais que são especificas da angolanidade, e por isso julgo que este aparente abatimento também tem haver, com as condições de produção, por as condições de produção hoje serão seguramente mas difíceis das condições que havia logo a seguir a criação da UEA, que apoiava e sustentava seguramente o aparecimento destas novas gerações, que hoje entretanto dada a situação politica e social do país e do desenvolvimento que o país está atravessar, poderão eventualmente pensar que na literatura não está a base daquilo que será a consolidação da identidade nacional, quando na realidade, é na poética e na literatura que as identidades nacionais se travam e, é ai onde se vai seguramente aprofundar.


Que papel jogará  as Faculdades de Letras das varias Universidades angolana, na qualidade da nossa literatura?


Tem um papel essencial, eu sempre digo que a literatura tem que ser ensinada a estudar, deve-se ensinar a ler, e ensinar a ler, não quer dizer só apenas em fim juntar as letras para constituir sílabas e ler as palavras, é necessário perceber que a literatura é um código de linguagem que tem evidentemente as suas condicionantes e que é necessário conhecer bem estas condicionantes, para que neste códigos de linguagem se possa usufruir, plenamente aquilo que é a dimensão do texto, e as Faculdades de Letras, são espaços ideias onde estas questões têm que ser forçosamente trabalhadas, onde a literatura tem que ter um lugar primordial, na medida em que sendo como são as Faculdades de Letras, compreenderão perfeitamente que as letras são uma dimensão estruturante do pensamento, estruturante da cultura, e as Faculdades de Letras têm um papel essencialíssimo na consolidação de uma identidade nacional trabalhada justamente naquilo que é a expressão poética, designadamente daquele que têm uma dimensão mais colectiva, que são capazes de interpretar melhor, o que é a cultura e os sentimentos da população.


Voltamos aos anos de 1980, para falar da critica literária, ou seja naquela época havia uma critica literária regular, se por um lado a nossa literatura pode-se aferir alguma qualidade, mas hoje há  uma gritante falta de critica literária regular, como é que vê este fenómeno?


Mais uma vez, eu digo que é necessário regressarmos as Faculdades de Letras, quer da Universidade Agostinho Neto, quer de outras entidades que por aqui estejam em Angola, que estão a desenvolver o projecto do ensino, para que ai seja formada a tal consciência poética, a tal consciência literária, como sabe, a consciência literária vem da circunstancia fundamentalmente do conhecimento efectivo das produtividade da produção literária que se faz, quer seja de ficção da narrativa, quer seja em poesia, para que se possa de alguma maneira ser capaz de se identificar as linhas de força, as linhas do desenvolvimento, as linhas de força do desenvolvimento desse pensamento literário, porque é um pensamento literário, ao lado de um pensamento politico ao lado de um pensamento politico ao lado de um pensamento cientifico, de um pensamento social de um pensamento económico, sendo que a literatura é a convergência, digamos assim, é a sínteses da convergência dos diversos pensamentos que no fundo representam a contraditoriedade que as sociedades têm para poderem evoluir, e portanto o que me parece agora, é que as Faculdades de Letras têm a responsabilidade de entenderem que a literatura sendo um código de linguagens especifico nele vem desaguar todos os outros pensamentos, todas as outras realidades de uma nação, desde a realidade económica, a realidade politica, a realidade sociológica, a realidade cultural, e por isso a literatura é de facto um discurso complexo, um discurso plural, para que obviamente preparada no seu seio pessoas que tenham uma visão critica sobre esta pluralidade de discursos, e que seja capaz de as descodificar e, das interpretar correctamente para que os outros possam também deles usufruírem.

Como é que interpreta aquela frase antiga do David Mestre, que dizia que António Jacinto, Agostinho Neto, Alexandre Daskalos, Alda Lara, Viriato da Cruz, eram os cinco poetas verdadeiramente angolanos?

Não! Isso é  uma expressão enfim de circunstância, que tem muito haver com a noção de uma literatura, que não pode ser de maneira nenhuma estática, é evidente que a poesia do Agostinho Neto, da Alda Lara e dos poetas que citou, que o Jacinto e o Daskalos, têm o seu tempo, só que como lhe disse a pouco na minha comunicação, é um tempo mais de circunstância, se nós considerarmos o Jacinto, o Alexandre Daskalos, a Alda Lara nem tanto, mas o Viriato, e por exemplo o Agostinho Neto, nós verificamos que, como lhe disse a pouco enquanto os outros quatro são muito mais da crónica poética de um tempo de circunstancial a um tempo colonial, a um tempo da luta anti colonial, o Agostinho Neto conseguiu dar uma dimensão épica a sua poesia, portanto, de alguma maneira vulgar sobre este tempo histórico, que ele também queria atingir na critica poética que vai atingindo nos seus próprios textos, mas foi capaz de se distanciar deste tempo circunstancialmente, factualmente, circunscrito na historia de alguma maneira, será possível no futuro ler Agostinho Neto para além das circunstancias do tempo, na medida em que ele ganhou digamos na sua poesia uma dimensão épica, e portanto, procurou fundamentalmente numa perspectiva do humanismo, numa perspectiva de uma visão humana, onde seguramente se debatem numa visão do humanismo de todos nós, que é de onde vimos e para onde vamos, o que estamos aqui a fazer, afinal de contas as diferenças que muitas vezes nos dividem na vida quotidiana e nas sociedades do dia a dias, não são de facto diferenças, porque as diferenças essenciais são meros acidentes, portanto, é neste aspecto que eu considero que o Agostinho Neto, é muito mais epíteto do que qualquer poeta da geração fundacional, mas a verdade é que a literatura escreve-se num tempo, enuncia-se num determinado tempo, o importante é que, e fundamentalmente é que quando ela se enuncia-se a temporaliza, numa perspectiva em que seja possível, ler-se em todos os tempos, e que não tenhamos que perguntar aqueles que são deste tempo que é que significa, determinado tipo de expressão que por qualquer esteja num poema ou numa ficção, portanto, a significação da poesia, da literatura, deve ter uma significação intemporal, estar vinculada fundamentalmente um discurso da dimensão cultural, humana e poética dos próprios textos e propriamente a dimensão de circunstancia histórica que é essencial, o Aristóteles dizia na poética, que é de facto um livro que fundamentaliza, que teoriza, toda critica literária, toda poesia, dizia que “a verdade dos poetas é mais importante que a dos historiadores”, porque os historiadores apenas dizem o que aconteceu, os poetas conseguem imprimir em nós o futuro, e portanto, são capazes de nos dizer o poderá acontecer, os historiadores falam apenas num acontecido no passado, os poetas falam daquilo que é a nossa própria dimensão, porque nós não vivemos no passado, nós vivemos sempre no futuro, nós caminhamos sempre numa dimensão ao futuro, e o passado em nós é o despontar da vida, das experiencias porque já passamos, a nossa preocupação é que o passado nos ajude a que no futuro sejamos capazes de não passar por estas experiencias e construirmos uma dimensão deferente da nossa própria dimensão humana e espiritual e cultural, porque este é que é objectivo, ninguém vive para o passado, todos nós vivemos para o futuro e, é nesta perspectiva que a poesia do Agostinho Neto, nesta sua dimensão épica, introduz uma noção de futuro, e por isso a sua esperança, a esperança tem sempre do futuro, nunca se tem esperança do passado, tem-se sempre esperança do futuro e, enquanto os poetas líricos muitas vezes são muito mais históricos, porquê? Porque exprimem, sentimentos que vivenciam num determinado momento, mais não são capazes de dar o golpe de asa necessário, para empolgar toda uma geração, ou todos os seus concidadãos para serem de querer fervorosamente, que é possível no futuro que as coisas sejam diferentes é o papel da literatura.

 

Tendo em conta esta visão aristotélica, pode-se dizer que a poesia de Agostinho Neto tinha um condão profético?

 

Sim, sim ela é  fundamentalmente, alias, eu escrevi um texto a muitos anos atrás sobre o evangelismo poético do poético de Agostinho Neto, alias, Agostinho Neto, é fundamentalmente, um poeta evangélico, naturalmente vinculado a sua própria formação religiosa mas, ele tem esta dimensão messiânica, uma dimensão do messianismo, que é fundamental para uma poesia que traz consigo elementos essenciais de resgate de libertação e de incentivo a todo um povo que é necessário e que é possível, puxar em direcção ao futuro e o futuro é fundamentalmente a liberdade, no fundo todos os homens nascem numa perspectiva de que o bem mais precioso que alguém tem ao nascer, é a sua liberdade, e a liberdade é essencialmente aquela dimensão da humanidade mais importante que é forçoso nós defendermos todo custo, por isso é que quando não se entende isso, surgi a guerra, os homens não nasceram para fazer a guerra, surge a guerra por disputas territoriais, e porque quererem naturalmente retirar uns a liberdade dos outros, quando todos nós podemos ser livres, e se formos livres somos capaz de ter a utopia, do que no futuro podemos ser mais felizes do que somos no presente e, é está utopia que mexe fundamentalmente com a imaginação literária, como Fernando pessoa dizia, “ Em literatura não se sente com o coração, sente-se com à imaginação”. Portanto, temos que ser capazes de pôr de lado o coração, seremos capazes de não contar a crónica da nossa própria vida, para, para sermos capazes de imaginar, de que o que nos importa em literatura, é construir a identidade nacional pela via de um discurso que seja capaz de interpretar as aspirações de um povo, e portanto a sua esperança em manter a sua liberdade, a resgatar a sua liberdade, e a manter a sua independência.

 

Enquanto professor como é que caracteriza a produção literária de Óscar Ribas?

 

O Óscar Ribas, foi um escritor muito etnográfico, é fundamental a etnografia, desde o romance importante que ele escreveu nos anos de 1950, o Wanga para cá, evidentemente que toda produção do Óscar Ribas, é muito mas um produção documental, ele era um documentalista muito vinculado as tradições naturalmente etnográficas e antropológicas angolanas, que procura de alguma maneira ficcionar em determinados aspecto, mas não as reescreve, é fundamentalmente aquilo a que se chama um escritor etnográfico, um homem da etnologia fundamentalmente, que procura necessariamente nos seus livros, conservar, resgatar para a memoria futura, aquilo que são os elemento essenciais de uma dimensão étnica da cultura angolana, é digamos que uma literatura que não é propriamente, uma literatura no sentido da dimensão literária do texto, é essencialmente, uma recolha digamos que um conjunto, uma antologia de textos que são no fundo importantes como textos documentais, para que as pessoas possam conhecer melhor o substrato da cultura de Angola, sobretudo da sua dimensão étnica e antropológica. 

Enquanto professor, qual seria a recomendação que daria aos leitores para escolha dos autores angolanos?

A recomendação que eu dou é sempre esta, quer dizer não vele a pena nós lermos os textos se não como lá está, por isso é que eu dizia a pouco, não há ciência de ler, ler exactamente como está  lá, o importante é saber ler o que lá está, e saber o que lá está é procurar nos textos, porque esta é que é atitude de quem faz literatura, de quem lê literatura, a nossa preocupação não é dizer aos estudantes, por exemplo aos leitores, não procurem o que o texto diz, mas procurem sobretudo naquilo que ele diz, o que o texto diz, porque no fundo se nós não formos capazes de sentir o texto, isto é de o interiorizar, de passar da sua dimensão do dizer daquilo que texto efectivamente diz, para aquilo que ele nos diz a cada um de nós, nós nunca interiorizamos obviamente a dimensão que o texto tem como objectivo, que é passar uma mensagem alguém que seja capaz com esta mensagem vivenciar uma realidade eventualmente semelhante ou distinta daquela que foi produzida na mensagem do texto. Portanto, para mim a leitura é sempre esta perspectiva, é que a literatura é uma arte que vive no seu tempo e portanto, é necessário conhecer o contexto do tempo mais não se deixar muitas vezes condicionar na leitura por este próprio tempo, porque no fundo, o nosso objectivo é que a literatura viva fora do tempo, viva na intemporalidade para ganhar a sua dimensão de imortalidade, caso contrario os textos morreriam como morre os textos jornalísticos e apenas traz o facto acontecido no dia anterior e que naquele momento em que acabamos de o ler, perdeu completamente qualquer interesse para nós, agora é possível a partir de um facto jornalístico por exemplo, através de uma noticia vinda de um jornal, pode-se escrever um belíssimo romance, desde que sejamos capazes de ficcionar fora do tempo uma realidade que pode ser semelhante aquela, mas que tenha a verosimilhança suficiente que muitas vezes nos faça compreender que nas dimensões das sociedades é possível que estas coisas venham acontecer. Portanto, as leitura do meu ponto de vista podem aproveitar na perspectivas de procurar naquilo que o texto nos diz, mas efectivamente naquilo que ele não diz, aquilo que ele nos diz, e sermos capazes depois de exprimir intimamente, em que dimensão da sublimação, ou naturalmente por insubordinação intelectual o texto nos trouxe para também nós podermos a partir dele podermos fazer o nosso próprio discurso do texto. Portanto, toda literatura e sobretudo a leitura é, essencialmente uma meta literatura, quer dizer, quando se lê, está – se a fazer outro texto, isto é está-se a fazer uma meta literatura.

Que alternativa, para o nosso caso actual de não haver uma critica literária regular em Angola?

Eu julgo ai o jornalismo tem um papel essencial, e do meu ponto de vista, a comunicação social tem uma responsabilidade acrescida, de ser capaz de desempenhar uma função pedagógica no que diz respeito a formação cívica dos próprios leitores, sem procurar evidentemente ser catequista, não estou a falar de catequese, estou a falar fundamentalmente de que através das paginas dos jornas se deve dar conhecimento a uma população que é a produtividade artística literária e cultural de um país, e chamar atenção para aqueles produtos que vale a pena. Obviamente conhecer, sem ter a pretensão evidentemente conhecer, mas em instâncias da arte ou em criticas da literatura, eu acho que o jornal deve fazer um papel essencial, que é fazer a sua divulgação e convidar, um ou outro dos seus jornalistas mais esclarecidos, um ou outro dos seus colaboradores para ser capaz de alguma maneira ilustrar, trazer alguma nova luz, da forma como se deve interpretar, como se deve consumir cultura, como se deve consumir arte, e como se deve consumir literatura, porque hoje nas sociedades contemporâneas e, Angola não está fora delas, o consumo da cultura hoje eu diria que  é um bem de primeira necessidade, se nós queremos ganhar uma dimensão cívica suficiente para podermos ter capacidade para intervir num processo politico, e quando eu digo intervir num processo politico, significa que todos nós temos a responsabilidade como cidadãos conscientes de dar um contributo positivo, para que a vida em sociedade seja mas equitativa, mais justa  mas solidária, para isto é preciso obviamente consumir cultura, porque a cultura assenta normalmente nos discursos, que não sendo discurso do contra poder, dão nos do poder uma outra e, é sempre bom que nós tenhamos uma visão capaz de alguma maneira nos esclarecer daquilo que poderia ser uma visão unanimista, que muitas vezes estraga as sociedades e que as paralisa, e que as paralisa e que as asfixia, e que não permite que haja aqui discursos contraditórios e que são sempre muito úteis quando nós pretendemos viver numa sociedade livre e democrática,

Já  agora gostaríamos, de ouvir a sua virtude de razão em função do poema renuncia impossível ainda continuar a ser consumida de forma fragmentada, atendendo ao facto de o mesmo já ter sido actualizado no livro da professora Inocência Mata, na homenagem ao Mário Pinto de Andrade?

Eu julgo que o que é necessário fazer a partir deste momento é, começarmos a fazer edições críticas isto é, há muitas edições que foram feitas no seu tempo, por divulgação e que houve interesse e necessidade de o fazer que se calhar estão truncadas, se calhar não correspondem exactamente aos manuscritos, não correspondem exactamente aos originais dos textos e por isso, mesmo na obra do Agostinho Neto, eu julgo que a fundação Agostinho Neto, pode jogar um papel nisto é, essencial começar-se a fazer edições criticas, que são essenciais trazer para salas de aulas confronto as leituras contrastivas e, obviamente as leituras dos originais, que podem ocorrer que muitas vezes como sabe estas versões são as vezes erros tipográficos, são erros de transcrição, são erros de tradução e portanto, como existe este seguramente alguns deste textos ou na maior parte deste textos os seus textos originais, os seus manuscritos ou os seus originais, julgo que é tempo de começarmos a fazer uma a fazer uma leitura, critica, mas equimótica, começamos a fazer uma leitura critica textual para ser possível que haja alguma laicidade, sobretudo alguma genuinidade, nas ultimas edições que se possa ter acesso aos originais primeiro, que obviamente as vezes foram alterados, deturpados e outras vezes censurados e, é importante que se conheça o original do pensamento poético ou do pensamento literário do autor.

Para terminar gostaríamos de ouvir de si, uma palavra para as pessoas que pretendem navegar para área da critica literária e sobretudo para docência?

Eu julgo a literatura como eu disse a pouco, as ciências humanas têm sido muito mal tratadas, nos nossos tempos não é só aqui seguramente em Angola, por toda parte em Portugal, na Europa em todo mundo em geral, está – se a cometer um erro terrível de tornar a sociedade demasiado tecnológica, pensar-se que as tecnologias são o fim em si mesmo, quando a tecnologia é um simples meio para nós podermos de alguma maneira aliviar mutas vezes o nosso cansaço braçal ou intelectual para resolver tarefas que com a tecnologia são mais fáceis resolver, mas há sobretudo uma questão essencial para nós, as ciências humanas são as ciências fundamentais, são as ciências estruturantes e por isso, toda gente que tenha uma visão cultura correcta do mundo sabe perfeitamente que o mundo não corre, as sociedade não vivem sem valores sem ética, sem um dimensão valor activa, sem uma dimensão digamos que cultural propriamente dita, eu penso que hoje as nossas sociedade precisam muito de choques culturais, precisam muito de regressar a valores, não valores no sentido conservador não, não valores no sentido politico doutrinário, mas valores que são valores de todos os tempos, são valores do homem, o amor em fim o ódio tudo isto são valões que nós conhecemos desde o inicio da humanidade, mas nós temos a obrigação de caminhar em direcção a luz como dizia o Agostinho Neto, e não em direcção as sombra não é em direcção ao amor e não em direcção ao ódio, para isso precisamos de ser esclarecidos, como é que nos esclarecemos? Com a dimensão literária, com a dimensão das letras com aquilo que escrevem os ensaístas os escritores, diversos autores os poetas e toda esta gente que nos permite a nós, termos um pensamento capaz de escolher e o pensamento critico e a critica literária não é mais do que um pensamento capaz de ser selectivo de dizer, esta poesia, este poema, este romance, tem uma dimensão qualitativa ou este romance é simplesmente um manifesto contestativo, é  digamos um texto sem nenhum valor literário que  tem  um valor documental como têm todos os textos, mas que nós não podemos alcandorar em nome de valores doutrinários ou ideológicos ou politico a dimensão da grandeza da literatura, quando na realidade é uma dimensão que é, ou possa ser um texto que não tem nenhum valor literário, mas tem um valor documental fundamental, eu me preocupei nas minhas aulas e nas ideias que escrevo sobre literaturas africanas, sempre me preocupei separar as aguas, isto é, não aderir ao texto só porque ele escrito por um negro, só porque ele é Africano, mas aderir ao texto se ele tem qualidade, se tiver qualidade obviamente que entra no campo da literatura, não tendo qualidade a circunstancia de ser escrito por um homem negro ou branco amarelo ou as cores que quiser, para mim não me quer dizer absolutamente nada, por uma razão muito simples a melhor forma de se ler um texto é nem sequer conhecer o autor do texto, é ser capaz de o ler sem saber quem foi o autor.