Lisboa – Uma empresa ligada ao antigo vice-presidente de Angola Manuel Domingos Vicente, chegou a ser escolhida para o projecto de construção de um novo aeroporto no distrito de Bugesera, na Província do Leste, do Ruanda, mas a concretização seria   depois objetada pelo Presidente Paul Kagame que atiraria ao tapete o antigo numero dois do então  governo de José Eduardo dos Santos.

Fonte: Club-k.net

Relatório explica como Kagame tentou usar o ex-Vice de JES

O assunto em causa consta de uma exposição de autoria do advogado e acadêmico ruandês Charles Kambanda, radicado em Nova Iorque, tendo como titulo “como o Presidente Paul Kagame assegurou o governo de Angola a seu favor contra o Presidente Museveni”.

 

Nesta exposição produzida aos 12 de Fevereiro de 2020, o advogado revela que no ano de 2014, quando José Eduardo dos Santos dava sinais de fragilizado para continuar no poder, o seu homologo ruandês Paul Kagame, fez um levantamento sobre eventuais figuras que poderiam ser poderosas num governo pós-JES, tendo identificado, o então Vice-Presidente Manuel Vicente e o então Ministro Adjunto das Relações Exteriores de Angola, Manuel Domingos Augusto.

 

A estratégia do Paul Kagame segundo a exposição - que o Club-K teve acesso - seria para ganhar o apoio de Angola para sua agenda “ampla de desestabilizar e saquear” a República Democrática do Congo, onde o mesmo tem interesses pelo que o acadêmico exilado descreve como agenda “meticulosa e oportuna”.

 

Kagame segundo a exposição usou duas ferramentas principais para ter nas mãos dos dois altos dirigentes angolano usando dinheiro e uma brigada de espionagem do sexo feminino que fora despachada à Luanda. O advogado critico ao regime de Kagame diz que o presidente do seu país é famoso por usar esta brigada bem treinada para espionar ou tirar fotos comprometedoras de dignitários locais e estrangeiros de alto perfil.

 

De acordo com o mesmo, no ano de 2016, foi proposta à Mota Engil Engenharia e Construção Africa (Mota-Engil), empresa portuguesa em que Manuel Vicente (então Vice-Presidente de Angola), alegadamente detém participações substanciais, um contrato para a construção de um novo aeroporto no Ruanda, Bugesera Aeroporto. Foi oferecido à mesma empresa um contrato para administrar o Aeroporto de Bugesera por até 40 anos. Desta forma, segundo o acadêmico, o ex-vice-presidente de Angola, se tornaria no parceiro comercial da Kagame.

 

Kagame acreditava inicialmente que Vicente seria o sucessor de José Eduardo dos Santos. Porém, quando Kagame  percebeu que a carreira política de Vicente chegou a um fim repentino e que o mesmo não era mais um ativo na política angolana,  afastou  a  Monta-Engil do acordo de construção do Aeroporto de Bugesera.

 

Segundo o advogado, antes da expulsão da Monta-Engil, quando Vicente estava no auge político na sua condição de Vice-Presidente de Angola, junto com o Presidente do Ruanda constituíram varias empresas entre os dois países incluindo fábricas de concreto pré-moldado.

 

Já o ex-Ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Domingos Augusto, citado como responsável pela mediação de um mal estar entre Uganda-Ruanda, é segundo o advogado supostamente acionista de uma das fábricas de concreto pré-moldado que o Presidente Paul Kagame detém no Ruanda e em Angola.

 

O mesmo advogado faz lembrar na sua exposição que um empresário ruandês radicado em Luanda, Alex Bayigamba é assessor pessoal de Paul Kagame, e gestores dos seus negócios privados em território angolano. O referido empresário é o proprietário oficial da Afriprecast Ltd, da qual o Sr. Paul Kagame é co-proprietário.

 

A filha deste mesmo empresário Alex Bayigamba, Gisele Bayigamba, se casou com Elísio Augusto, filho de Manuel Domingos Augusto. Gisele Bayigamba é também sócia de Henrique Gonçalves Lourenço “Iko” em pequenos negócios em Angola, enquanto que o seu pai Alex Bayigamba passou a ter negócios que se cruzam com o esposo de Jéssica Lorena Dias Lourenço dos Santos, a primogénita do casal presidencial angolano.

 

Em 2019, durante uma visita a FILDA de Luanda, o Presidente João Lourenço visitou a exposição de Alex Bayigamba cumprimentando-o de forma  familiarizada. Em Abril deste ano Lourenço através do despacho presidencial 43/2, cedeu a Alex Bayigamba direitos mineiros para prospecção dos jazigos primários de diamantes de uma uma área de 140 km2 no município do Lucapa, província da Lunda-Norte.

 

Com este cruzamento de negócios, entre Luanda e Kigali, o advogado ruandês Charles Kambanda, radicado nos EUA, coloca em causa o papel de mediador desempenhado por Manuel Augusto nas relações entre Uganda e o Ruanda.

 

“A chamada mediação Uganda-Ruanda é a prova de quão longe o Sr. Paul Kagame pode ir para manipular pessoas e instituições públicas. A alegação de Angola de que estão a trabalhar na mediação entre Ruanda e Uganda como pan-africanistas é uma mentira”, escreveu o também acadêmico citando Manuel Augusto, na época chefe da diplomacia, como alguém que estaria a usar “o governo de Angola para ajudar seu parceiro de negócios e amigo da família de Paul Kagame”.

 

O mesmo advogado admite na sua exposição que “Não está claro se o Manuel Augusto revelou a sua relação com Paul Kagame ao governo de Uganda antes de liderar a mediação no conflito Uganda-Ruanda. Na eventualidade de nem o governo de Angola nem o presidente Paul Kagame revelarem o óbvio conflito de interesses ao Uganda, as conversações em Angola são manipuladoras e de má-fé. É lúcido que o presidente Yoweri Kaguta Museveni e o povo de Uganda tenham aguardado nos bastidores, sem saber”.


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