Luanda - O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou hoje, domingo, "qualquer tomada de poder" na Guiné "pela força das armas", depois de forças especiais do país terem afirmado que capturaram o Presidente e dissolveram as instituições.

Fonte: Angop

Guterres apelou ainda, numa publicação no Twitter, "à libertação imediata do Presidente Alpha Condé" e disse que está a seguir a situação na Guiné "de muito perto".

As forças especiais da Guiné afirmaram hoje ter capturado o Presidente Alpha Condé e "dissolvido" as instituições, num vídeo enviado à agência de notícias AFP, enquanto o Ministério da Defesa garantiu ter repelido a tentativa de golpe.

"Decidimos, depois de retirar o Presidente, que actualmente está connosco (...), dissolver a Constituição em vigor e dissolver as instituições; decidimos também dissolver o Governo e fechar as fronteiras terrestres e aéreas", disse um dos membros do grupo envolvido no alegado golpe de Estado e que se apresentou de uniforme e armado numa declaração divulgada nas redes sociais, mas não transmitida pela televisão nacional.

Os golpistas, que confirmaram à AFP a origem do vídeo, divulgaram imagens do Presidente, nas quais lhe perguntam se foi maltratado, tendo Alpha Condé, vestido com calças de ganga e camisa, e sentado num sofá, recusado responder.

Por seu lado, o Ministério da Defesa afirmou, em comunicado, que "os insurgentes semearam o medo" em Conacri antes de tomarem o palácio presidencial, mas que "a guarda presidencial, apoiada pelas forças de defesa e segurança leais e republicanas, conteve a ameaça e repeliu o grupo de atacantes".

Hoje de manhã foram ouvidos tiros de armas automáticas no centro de Conacri, capital da Guiné, e muitos soldados eram visíveis nas ruas, segundo relataram várias testemunhas à agência AFP.

A Guiné, país da África Ocidental que faz fronteira com a Guiné-Bissau e é um dos mais pobres do mundo, enfrenta, nos últimos meses, uma crise política e económica, agravada pela pandemia de covid-19.

A candidatura do Presidente Alpha Condé a um terceiro mandato em 18 de Outubro de 2020, considerada inconstitucional pela oposição, gerou meses de tensão que resultaram em dezenas de mortes.

A eleição foi precedida e seguida da detenção de dezenas de opositores.

Vários defensores dos direitos humanos criticam a tendência autoritária observada durante os últimos anos na presidência de Condé e questionam as conquistas do início da sua governação.

Condé, um ex-opositor histórico, preso e até condenado à morte, tornou-se, em 2010, no primeiro Presidente eleito democraticamente no país.