Luanda - O Presidente da República, João Lourenço, participou na tarde desta terça-feira numa cimeira virtual de Chefes de Estado e de Governo de África e da Região do Caribe.  A iniciativa – que se realiza pela primeira vez – engaja a União Africana e a Comunidade do Caribe (CARICOM), tendo conduzido os trabalhos da cimeira o Presidente Uhuru Kenyatta, do Quénia, que é também o Presidente da Organização dos Países de África, Caribe e Pacífico (ACP).

Fonte: PR

O objectivo à volta do qual se reuniram os líderes africanos e caribenhos é o da promoção de colaboração e cooperação mais estreitas entre a União Africana, a diáspora africana, os Povos de Descendência Africana e as Regiões do Caribe e Pacífico.


O foco da primeira cimeira África-CARICOM foi a integração política entre os países de ambas as regiões transatlânticas, a gestão do impacto da pandemia da COVID-19, a Economia Azul e a conectividade de transportes, as Alterações Climáticas e Vulnerabilidade e a promoção de investimentos comerciais e integração económica, entre outros temas.


O discurso proferido pelo Presidente João Lourenço na reunião de alto nível é o seguinte:


-Sua Excelência Uhuru Kenyatta, Presidente da República do Kenya e Presidente em exercício da Organização dos países de África, Caribe e Pacífico,
-Excelências Senhores Chefes de Estado e de Governo,
-Minhas Senhoras e Meus Senhores

Foi com satisfação que recebi o honroso convite para participar nesta cimeira de concertação político-diplomática entre os países da União Africana e da Comunidade Caribenha, pois considero que devemos fortalecer as relações entre os povos africanos e os do Caribe, com os quais partilhamos um importante legado histórico e laços de consanguinidade, resultantes do tráfico transatlântico de seres humanos que está na origem da existência hoje da diáspora africana nas Américas.


A contribuição de proeminentes figuras nacionalistas das ilhas caribenhas, como o poeta e dramaturgo Aimé Césaire, foi decisiva para a emancipação dos movimentos sindicais e políticos pro-independentistas em África, nos anos 50 e 60, bem como para a evolução e afirmação da corrente ideológica e intelectual do pan-africanismo, liderada por figuras como Leopold Senghor, Kwame Nkrumah, Houephet Boigny, Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Sekou Touré e tantos outros estadistas que estiveram na origem da fundação da então Organização da Unidade Africana.


Este importante evento realiza-se numa altura em que acabámos de celebrar, no passado dia 31 de Agosto, o Dia Internacional das Pessoas de Descendência Africana, instituído pelas Nações Unidas em Dezembro de 2020.


As diligências em curso para a formalização da cooperação entre a União Africana e a CARICOM, mediante um Memorando de Entendimento, estão conformes com a decisão da União Africana de reconhecer a Diáspora Africana como a sexta região de África, permitindo-lhe contribuir de forma activa no desenvolvimento económico-social e cultural do Continente e na vida da nossa Organização continental.

Excelência Senhor Presidente,


Congratulamo-nos com a recente decisão adoptada ao nível do Conselho de Segurança das Nações Unidas pela União Africana e a CARICOM, de coordenarem esforços para uma melhor defesa dos nossos interesses geopolíticos através da configuração do A3+1, actualmente coordenado pela República do Kenya.


Ficámos gratos pelo apoio prestado pelo A3+1 aquando da minha deslocação ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, a 23 de Junho do presente ano, para transmitir a mensagem dos líderes da Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos, sobre a necessidade do levantamento do embargo de armas imposto pelo Conselho de Segurança à República Centro Africana.


Excelência Senhor Presidente,

Angola defende a cooperação entre as duas organizações transatlânticas nos domínios do desenvolvimento económico inclusivo e sustentável, do desenvolvimento humano e social, do meio ambiente, da gestão de recursos naturais e das mudanças climáticas, dos Direitos humanos, democracia e boa governação e do combate ao terrorismo e ao crime organizado.


As trocas comerciais entre os países da África e da Comunidade Caribenha são bastante reduzidas, embora exista um imenso potencial na cooperação entre ambas as organizações nos domínios da energia, do turismo, da prevenção e proteção do ambiente.


Angola está a desenvolver um programa de construção de infraestruturas para responder aos problemas recorrentes da seca e das cheias no sul do país, um problema global que assola não apenas África como também as ilhas caribenhas, com os repetidos ciclones, furacões, terramotos e cheias.


Uma troca de experiência neste domínio seria mutuamente vantajosa e benéfica para ambas as organizações.


Excelência Senhor Presidente,


O reforço da cooperação no domínio do comércio poderá passar por uma interação entre o secretariado da Zona de Livre Comércio da União Africana, criada com o objectivo de promover as trocas comerciais entre os países africanos e que pode também ser extensiva à Organização dos Países da África, Caraíbas e Pacífico, na base de um possível acordo de livre comércio com os países da comunidade Caribenha.


Angola acolherá de 4 a 8 de Outubro de 2021, a segunda Bienal de Luanda sobre o fórum Pan-fricano para Paz e Cultura, organizada em parceria com a UNESCO, constituindo uma excelente plataforma para o estreitamento das relações históricas, culturais e de irmandade entre a União Africana e a Comunidade Caribenha.


Muito Obrigado pela vossa atenção