Lisboa – Morreu neste sábado (20) em Acra, vitima de doença, o nacionalista e capitão reformado ganense Kojo Tsikata, conhecido como o “braço direito” do falecido Presidente Jerry Rawlings que na década de 60, esteve a combater em Angola como conselheiro de defesa do MPLA, usando o nome de guerra “Carlos Silva”.

Fonte: Club-k.net

Antigo chefe da secreta de Jerry Rawlings

Segundo apurou o Club-K, a imprensa do Gana anunciou o infausto, esta tarde realçando a partida do militar que na sequencia do golpe de Estado de dezembro de 1981, no Gana, seria nomeado por nomeado por Jerry Rawlings como chefe da Segurança Nacional e Relações Exteriores do Conselho Provisório de Defesa Nacional (PNDC).

 

Formado na escola militar de Sandhurst, na Inglaterra, o capitão Kojo Tsikata, que faleceu aos 85 anos de idade,  já trazia (antes da realização do golpe de Estado de 1980), o historial de ter feito parte de um contingente da ONU -  autorizado por Kwame Nkrumah - que partiu  para o Congo em Julho de 1960, a fim de proteger Patrice Lumumba, que era o primeiro-ministro.

 

De acordo com dados de jornais da época, mais tarde, Kojo Tsikata viajou para Guiné Conakry, para se encontrar Nkrumah, mas seria detido e colocado no corredor da morte por suspeitas de planear um atentado contra o então Presidente do seu país. Foi perdoado na sequencia de uma apelação de Samora Machel, falecido dirigente da FRELIMO, que interveio a seu favor. Samora Machel levou-lhe para Moçambique, e mais tarde (em 1964), Kojo Tsikata viajou para Angola onde se juntou a guerrilha do MPLA, que estava a ser assessorada por internacionalistas de Cuba.

 

“Um dos grandes filhos da África, o capitão Kojo Tsikata, fez a transição esta manhã em Accra, Gana”, escreveu na sua conta do Twitter, o ativista congolês dos direitos humanos, Kambale Musavuli, lembrando que o malogrado “veio para o Congo como parte das forças ganenses para proteger Patrice Lumumba em 1960, tendo sido conselheiro militar das forças do MPLA em Angola, junto com os cubanos, lutando contra o apartheid”.

 

Num artigo publicado este ano pelo Novo Jornal, a jornalista italiana Augusta Conchilia, lembra que o capitão Kojo Tsikata foi combater em Angola depois de uma desilusão ao regressar a sua terra depois ter servido a missão da ONU nos Congos.

 

“A decepção foi enorme em Accra, como entre as forcas da ONUC. Foi assim que Kojo Tsikata decide dar outro rumo a sua vida, contribuindo pessoalmente para uma causa sem ambiguidade: a luta anticolonial do MPLA”, escreveu a jornalista lembrando que “em 1964, Tsikata volta a Accra, sai do exercito e contacta Hugo de Menezes, o representante do MPLA, no país. Esse apresentou-lhe a Agostinho Neto que acaba por aceitar a sua proposta de participar na luta armada e na formação dos combatentes. Em Maio de 1965, Tsikata voa para brazzaville”.

 

“Hospedado no inicio da casa de Chipenda”, conta a jornalista, o reformado capitão encontrou-se com os dirigentes do MPLA presentes, nomeadamente Lúcio Lara. “Passa por Dolisie, no sul do país, num centro de treinos do MPLA e se aproxima a fronteira de Cabinda com um grupo de guerrilheiros comandados por Hoji-ya – Henda”. O objectivo era reforçar a frente de Cabinda, onde as condições da guerrilha são particularmente difíceis, numa zona de floresta equacional muito defesa e uma população extremamente dispersa e pouca mobilizadora, conforme o próprio lembrou numa entrevista.

 

“O comandante Henda apresenta Kojo aos outros membros do grupo como sendo Carlos Silva, um angolano emigrado na Zâmbia. Na mesma altura, tinha-se juntado um punhado de combatentes cubanos veteranos da Sierra Mestra, que por sua vez, Henda apresentou como sendo angolanos que residiam na Guiné, no inicio, os cubanos desconfiavam dele, uma pessoa que sabia de arte militar e falava inglês, ou seja um perfeito agente da CIA”, escreveu Augusta Conchilia.

 

A profissional escreve que depois do derrube de Kwame Nkrumah, deposto em Feverereiro de 1966 por um golpe de estado militar, Tsikata regressou a região da Africa Austral, mas seria em 1969, que leva ao poder o partido dos lideres anti – Nkrumasistas, dirigido por Kofi Busia, que Tsikata volta ao Ghana.

 

No seguimento da Independência de Angola, segundo escreve a jornalista, o Kojo Tsikata, havia interrompido em Junho de 1979, uma visita de amizade a Luanda, devido a situação do seu país, que estava a sofrer mudanças desencadeadas pelos militares que forçaram a queda do regime militar do general Frank Akuffo, o antecessor de Jerry Rawlings. Kojo Tsikata juntou-se a Jerry Rawlings que acabava se realizar um golpe de estado levando-o ao poder. “Rawlings, ao qual se tinha juntado Koko Tsikata, cria a surpresa anunciando a manutenção da data prevista das eleições gerais, a 16 de Junho. Eram as primeiras agendas deste o golpe de estado militar de 1972”, escreveu.

 

Augusta Conchiglia recorda no seu teto que "Quando um jovem capitão de aviação, Jerry John Rawlings, toma o poder em Junho 1979, num contexto de gravíssima crise económica e de corrupção desmedida, Kojo Tsikata encontra-se em Luanda, para onde tinha ido agradecer Agostinho Neto. Quando o Presidente angolano sabe dos acontecimentos em Accra, disse logo ao amigo Tsikata que devia ficar de vez em Angola! Mas Tsikata conhecia a génese desse acto e sabia que não se tratava dum golpe da mesma natureza dos anteriores".

 

Pelo seu contributo na luta de libertação nacional, as autoridades angolanas condecoraram-lhe em Abril de 2019, pelas mãos do então embaixador de Angola em Acra, Augusto da Silva Cunha, numa cerimonia realizada na missão diplomática angolana. Em resposta ao prêmio recebido, o Capitão reformado prestou homenagem ao Dr. Kwame Nkrumah. Explicou que a sua ligação com a luta armada em Angola resultou directamente das orientações do Primeiro Presidente do seu país, que considerou que a independência do Gana só seria possível quando toda a África fosse libertada do colonialismo. O herói ganense, conhecido pelos combatentes angolanos como Carlos Silva, destacou os laços que estabeleceu com os combatentes cubanos que serviram como assessores do MPLA.

 

Para além da passagem por Angola, o capitão Kojo Tsikata foi também nomeado por Gaddafi como Consultor Sênior encarregado do Comitê Central de Al Mathaba, um conhecido centro de apoio a movimentos de libertação e organizações anti-imperialistas e anti-sionistas.

 

Foi também detentor do Prêmio Solidariedade e da Ordem “Carlos Manuel de Céspedes”, que lhe foi conferido pelo Conselho de Estado da República de Cuba.