Luanda - Com a realização dos congressos dos dois maiores partidos, espera-se que a vida política nacional não só regresse à normalidade como se inicie na prática o período pré-eleitoral.

Fonte: JA

Teremos pela frente seis meses de uma cansativa pré-campanha marcada por uma influência crescente das redes sociais. O contexto actual de pandemia também ajuda no facto de o mundo digital ter ganho muito mais espaço e influência nas campanhas eleitorais e no modo como os políticos concebem a forma de comunicar com os eleitores. É de esperar, por isso, que venha aí uma intensificação das estratégias eleitorais através das redes sociais.

 

Na nossa realidade quotidiana, o desempenho da comunicação social pública e privada (parcialidade a favor de um dos concorrentes, ausência de contraditório e partidarização dos conteúdos) empurra o eleitor para a escolha das redes sociais como fonte primária de informação. Ora, as redes sociais pelas suas características representam um caminho sinuoso e traiçoeiro que não garante a ninguém a formação de um juízo eleitoral honesto e responsável. A crescente descredibilização dos meios de comunicação social como fontes de informação equidistante e confiável, levam aos cidadãos a consumir e a acreditar em tudo que encontram nas redes sociais.



Nas eleições de Agosto de 2022, teremos pela primeira vez, o voto dos angolanos residentes fora do país (aproximadamente 500 mil pessoas) e dos jovens eleitores de primeira viagem, e estes dois grupos são os que se têm revelado mais vulneráveis a formar a sua opinião em função do que conhecem nas redes sociais. Embora isso revele o facto de não conhecerem devidamente o país, a verdade é que as redes sociais, como noutros países, representam o "brinquedo novo” das direcções de campanha. O deficiente papel da mídia tradicional acelera o peso das redes sociais e, se se mantiver essa situação, pode vir a ser o grande factor de influência nas eleições de 2022. Nos dias de hoje, já vimos assistindo aos sinais de disputa eleitoral onde, por um lado, alguns procuram desvalorizar as obras do Governo e explorar as piores realidades do país e, outros, contrapõem com alegados casos de provocação, violência gratuita e agressividade da parte de apoiantes da oposição.

A oposição, sobretudo a UNITA, há muito que definiu as redes sociais como estratégia alternativa fazendo circular vídeos, comunicados, informações da sua linha política e de desvalorização do adversário. Recentemente, o Presidente João Lourenço solicitou aos seus militantes que se apropriem das redes sociais para o combate político e rapidamente começaram também a ser divulgados comunicados e vídeos do MPLA. Não é difícil de prever por isso, que o clima vai aquecer e muito do "combate eleitoral” vai ser disputado aí. Pelo seu imediatismo e volatilidade, as redes sociais são canais de massificação de notícias falsas, de manipulação dos factos e não permitem uma discussão séria sobre coisa nenhuma. Remeter para elas, o grosso das discussões, trocas de opiniões e debate o que as duas propostas sobre a governação do país trazem, é um erro estratégico que, mais tarde ou mais cedo, pagaremos bem caro. As soluções para os problemas dos país precisam de ser discutidos com seriedade, responsabilidade e sem emoções, tudo o que as redes sociais não nos oferecem. A contradição reside no facto de que a comunicação social pública e privada também não nos oferece isso neste momento. Quanto mais os órgãos de comunicação se afastarem do seu papel de serviço publico e mediadores das sensibilidades da sociedade, mais as pessoas irão recorrer às redes sociais, aumentando a sua influência na opinião das pessoas e, ao mesmo tempo, tornando-as expostas à manipulação e noticias falsas.

 

Esta realidade não ocorre apenas ao nível da circulação de notícias e do contraditório nos fluxos informativos. A ausência de debate entre candidatos directos ou membros das suas equipas políticas tem o mesmo efeito sobre os cidadãos. Não havendo nas mídias tradicionais debates contraditórios sobre propostas de governação, caímos todos nos modelos mais populares das redes sociais: pessoalização, insultos, polémicas fúteis e escândalos.

 

Os debates da mídia tradicional ajudam grandemente os cidadãos a formar a sua opinião. Neles, os candidatos possuem mais tempo para expor suas ideias, opiniões e propostas, além de poderem contestar os argumentos dos concorrentes. No decorrer dos debates, há perguntas sobre temas pré-definidos ou escolhidos livremente, dando a possibilidade ao eleitor de conhecer os candidatos para além de um roteiro preparado para apresentar nas propagandas ou comícios. Também é possível ver qual é a capacidade dos candidatos de lidar com a pressão e esclarecer pontos polémicos. O eleitor tem, assim, a oportunidade de comparar os posicionamentos dos candidatos e formar sua opinião sobre qual deles tem um posicionamento que se ajusta mais aos seus interesses e expectativas.

 

Sem isso, o cidadão fica à mercê de técnicas mais apuradas de adulteração de imagens, sons e notícias, nada mais do que pacotes manipulados a favor de um dos candidato.

 

Não podemos, obviamente, sobrevalorizar o peso das redes sociais num processo que terá 12 milhões de eleitores espalhados por todo o país, mas também não se pode escamotear que há uma crescente influência e cada vez mais novos usuários a aderir. (cerca de 15 milhões de angolanos têm um telefone com capacidade para aceder à Internet. Sete milhões de consumidores efectivos de Internet e cerca de 3 milhões estão activos nas redes sociais).

 

Cabe-nos então decidir quanto antes onde discutir o futuro da saúde, educação, combate à fome e do combate à corrupção, se na midia tradicional ou nas redes sociais?