Luanda - Rosário Correia Victor ou simplesmente “NGONGUITO” fez parte de uma geração de jovens que cresceu e fez carreira no seio de e com a UNITA, tendo, nos primórdios da sua juventude, vivido por bons e longos anos, junto da Representação da UNITA em Kinshasa, no então Zaire (República Democrática do Congo) na companhia da mãe (Jacinta) e da irmã (Toly) e de outras famílias. Idos de Angola em 1976, à partir de Luanda, do Uíge e de outras localidades, na sequência da entrada dos soldados Cubanos em Angola em favor do MPLA mudando a correlação de forças em desfavor da FNLA e da UNITA, antes e na sequência da Independência a 11 de Novembro de 1975; este jovem, brilhante, viveu tempos, culturas e ares diferentes, não só como refugiado no então Zaire, mas também como parte de um embrião de quadros que viria a despontar e desenvolver-se posteriromente como militar e revolucionário na Jamba e que também palmilhou o seu País, Angola, de lés a lés, de várias formas e em vários sectores de actividade da Resistência.

Fonte: Club-k.net

De Luanda à Kinshasa, de Kinshasa à Jamba e da Jamba à Luanda


Filho do General Martires Correia Victor “Kavulandungue”, um peso pesado da política e veterano da pátria bem conhecido e reconhecido nas hostes da UNITA em particular e no país em geral, onde fez carreia desde os anos 70, e de Dona Jacinta, por sinal, sobrinha da Avó Helena Mbundu Sakato Sakaita Savimbi, mãe do Dr. Jonas Malheiro Savimbi, com quem viveu um longo período.


Por orientação da Direcção da UNITA, Ngonguito, partiu de Kinshasa para as Terras Livres de Angola (Território Controlado pela UNITA) em 1983, na companhia de José Miguel Ernesto Mulato “Zé Bolas” (sobrinho do Engº e Brigadeiro na reforma Ernesto Joaquim Mulato, Deputado à Assembleia Nacional) e de Anselmo Manuel Longuenda “Kumanucha” (ambos de feliz memória), dois jovens bastante joviais e vividos, cheios de energia e de “visão urbana”. Nessa altura, Ngonguito tinha terminado o 7º ano dos liceus (correspondente à 12ª ou 13ª classe em Angola nos dias de hoje) em Kinshasa e assim se juntou à Resistência da UNITA à presença Russo-Cubana e com vista ao estabelecimento de um estado democrático e de direito, onde já se encontrava o seu pai, na qualidade de Comissário Político da Frente Norte, na altura.


Chegados à zona em que predomina a floresta do tipo savana, uma fauna diversificada e rica, enfim uma região com um clima agreste e a natureza hostil, no Sul de Angola, onde estavam espalhadas as bases mais recuadas e seguras da UNITA, com destaque para a sua Capital, a Jamba, Ngonguito e os seus dois amigos de peito, acima mencionados, foram introduzidos à nova realidade que iriam enfrentar e habituar-se a conviver com ela. Um dos primeiros contactos com a realidade como praxe, foi a realização de visitas às Escolas na Jamba e no Lwengue (Instituto Polivalente Loth Malheiro Savimbi e Liceu Nacional da Jamba respectivamente) para além das habituais tournées às várias dependências das estruturas da Jamba, da Direcção Geral da Logística (DG Log) no Likuwa e de outros sectores importantes, com vista a transmitir a sua experiência de estudantes no exterior do País aos estudantes locais e tomar contacto com a realidade nas Terras Livres de Angola. Seguidamente foram submetidos a uma formação política na Escola de Formação de Quadros na Bembwa – Centro de Estudos Comandante Kapesi Kafundanga (CECKK) - seguida de uma formação militar, como era hábito fazer-se na Jamba, antes de serem distribuídos para os diversos serviços ou departamentos nas estruturas da UNITA.


NGONGUITO, como era carinhosamente chamado pelos próximos e amigos, foi incorporado nos Serviços de Inteligência Militar, SIMI, então dirigidos pelo mui celebre, enérgico e inteligente General Peregrino Isidro Wambu Chindondo ou simplesmente General Wambu, onde fez carreira e cresceu como oficial de inteligência e como quadro politico-militar.
Foi nos SIMI onde o Brigadeio Ngonguito fez a base da sua carreira militar, tanto no Gabinete das Operações na Jamba, como na Frente Sul, mais precisamente na região Militar 49, que se situava na parte sul da província do Kuando Kubango e parte sudeste da província do Kunene, onde trabalhou directamente com os Generais Geraldo Sachipengo Nunda “Lin Piao” e Pongogola “Punji Ya Umba” como oficial de inteligência e posteriormente, na Jamba, na qualidade de oficial de ligação, com Instrutores Militares Suíços e Franceses em máteria de armamento especial (dados os seus vários dotes e qualidades bem conhecidos e reconhecidos, entre os quais, o falar fluentemente diversas línguas – Português, Francês, Inglês, Lingala, Umbundu, etc.).


LEGENDA: Agosto de 1982/Kinshasa- Zaire, actual República Democrática do Congo: Da direita para a esquerda, João Mulato (irmão mais novo de Zé Bolas) Adalberto Jamba "Betinho" (com a garrafa de Coca-Cola na mão – irmão mais novo de Jaka Jamba e Sousa Jamba), ROSÁRIO CORREIA VICTOR "NGONGUITO" (ao centro, de camisa branca e calça de tonalidade escura), Simão Dembo (Actual Vice-Presidente da UNITA) (de pernas arqueadas) e Anselmo Manuel Longuenda "Kumanucha" (de que aparece apenas metade da cara).


Foi igualmente nos SIMI onde Ngonguito fez desabrochar e brilhar as suas qualidades e dotes de oficial de inteligência militar ao lado de outros grandes quadros do Sector como o Tenente General Jorge Kokelo, o Brigadeiro Machado (in memoriam), o Coronel Belo Kayuvi, o Coronel Garcês Chipeio, o Tenente Coronel Jordão Mukinda, o Brigadeiro Sonjamba, o Coronel Tulumba e muitos outros quadros séniores e júniores, tendo atingido o posto de capitão, depois de passar pelos vários escalões e sectores dessa área especializada das Forças Armadas da UNITA, FALA.


Em Novembro de 1991, integrou um grupo de 18 quadros, escolhidos a dedo pelo Gabinete do Presidente da UNITA e Alto Comandante das FALA, Dr. Jonas Savimbi, para ir à Alemanha fazer uma formação em Eleições e Sistemas Eleitorais num patrocínio da Fundação Konrad Adenauer; a formação teve lugar em Sankt Augustin, uma pequena vila perto da cidade de Colónia, promovida e levada a cabo no rescaldo da assinatura dos Acordos de Bissesse e com a perspectiva da realização das Primeiras Eleições Livres em Angola. Integraram igualmente o referido grupo com Ngonguito, nomes bem conhecidos como Arlete Chimbinda (actual Vice-Presidente da UNITA), General Galeano Silva e Sousa “Bula Matadi” (in memoriam), Florentino Kassanje, Rita Sapalalo (in memoriam), Helder Santos, Jaime Chinhama (in memoriam), Avozinha Buta, Jorge Muekalia (in memoriam) Juju Sayongo (in memoriam), Celso Torres (Deputado à Assembleia Nacional) Janiço Kavinguila, e outros...


De regresso à Jamba, Ngonguito foi desvinculado dos SIMI (em missão de serviço) e juntamente os outros colegas da recente formação na Alemanhã foram integrados no Secretariado Geral do Partido, de que era seu principal dirigente o Secretário Geral, na altura, o General Adolosi Paulo Mango Alicerces ou simplesmente General Mango, mas sob subordinação directa do General Mário Vasco Miguel “Kanhali Vatuva” (in memoriam), na altura, Secretario Geral Adjunto da UNITA e com este levaram a cabo uma série de cursos de formação aos quadros que deveriam ser despachados para as cidades nas várias províncias de Angola, no âmbito da nova realidade decorrente dos ora assinados acordos de Bicesse a 31 de Maio de 1991. Nessa altura, Ngonguito fez uso das qualidades de perspicácia e boa articulação oratória na transformação e transmissão do aprendizado na Alemanha em matéria assimilável pelos quadros que estavam sendo formados, provenientes de vários escalões e níveis do Partido e das organizações de massas, como a LIMA e a JURA.


Em Luanda e depois de algum trabalho inicial com o General Kanhali Vatuva (in memoriam), Ngonguito foi promovido de capitão ao posto de Major, pelo então Chefe dos Estado Maior Geral das FALA, General Arlindo Chenda Pena “Ben Ben”, depois de ter sido nomeado Chefe Adjunto da TASK FORCE para as Eleições – Uma unidade especial composta por antigos oficiais dos SIMI, das Transmissões e das Operações, covertidos em quadros ao serviço do Secretariado Geral do Partido, virada para o controlo e acompanhamento das Eleições. A Task Force para as Eleições funcionava no Secretariado Geral do Partido no São Paulo, em Luanda e era chefiada pelo agora Tenente General Barbosa Epalanga “Bosa”, na altura proveniente da então DIVITAC (Divisão das Transmissões do Alto Comandate), onde fora o seu comandante por vários anos. O General Bosa era coadjuvado na Task Force pelo Major Rosário Correia Victor “Ngonguito” cujo principal aporte era a sua especialização em eleições e sistemas eleitorais – o único com essa formação na Task Force – o que lhe atribuía certa proeminência nessa matéria. Integraram a Tark Force para as Eleições, para além dessas entidades, o Major Tomeu Missende, o Tenente Coronel Alberto Ngolo “Betinho”, O Major Jeró (in memoriam) entre vários outros quadros e operadores provenientes das Transmissões e do Gabinete das Operações das FALA.


Durante os confrontos de 1991, NGONGUITO sobreviveu, pela Graça de Deus e só mesmo por isso, na companhia de três outros colegas seus, nomeadamente Duarte Kokelo Kakinda, Almeida Nduluma e Florentino Kassanje - ao massacre à que foram literalmente submetidos vários dos quadros e pessoal de apoio que trabalhavam no Secretariado Geral do Partido e na Task Force no São Paulo em Luanda de que salientamos: Ismael Comandante, Crisóstomo Samakuva “Tomo”, Salomão Chilemo, Anibal Mundombe, Major Jeró e muitos outros. Pela mão protectora de Deus, estes quatro sobreviventes, de que se destaca Ngonguito, passaram por uma pequena janela do prédio que se encontra à frente do Secretariado Geral do Partido e entraram para um quartito de dois metros quadrados de um anexo que se encontrava desabitado nas traseiras e de onde apenas saíram à noite do dia 1 de Novembro de 1991, pela graça de Deus, para entrar, passando sobre o muro, nas actuais instalações da CEAST (Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Principe) onde uma madre que falava espanhol, de idade muito avançada na altura, se opôs tenazmente à madre superiora Angolana, que os quis devolver à rua (alegando não os poder receber), onde os esperavam os seus potenciais algozes. Essa atitute permitiu ganhar tempo e a vida também... (uma noite inteira) pois a chacina que se observava diminuiu significativamente. Escaparam também à fúria dos algozes que realizaram o massacre no local, Sole Buta (in memoriam), Odeth Chissolukombe, Agapito Sukuakueche “Kapito” (in memoriam) e por não estarem no local nessa altura outros quadros como Elsa Katombela “Chinha”, Gamba, Clotilde Chingufo “Tide” etc.


Depois da experiência horripilante do massacre do Secretariado da UNITA em São Paulo, em Luanda, Ngonguito ficou atirado à sua sorte na cidade de Luanda sem beira nem eira e apenas com a ajuda de alguns parentes que o acolheram e providenciaram incondicional auxílio até conseguir entrar em contacto com os vários oficiais generais da FALA, então presos no Ministério da Defesa, incluindo o seu ex-Chefe directo, o General Wambu.


Seguiu-se posteriormente a sua integração nas FAA onde deu sequência à sua carreira militar tendo dado o seu melhor como oficial da Inspecção Geral das FAA, onde trabalhou por vários anos como Inspector Sénior e onde encontrou alguém que o tratou como “filho” apesar de ter sido apenas seu chefe e superior hierárquico: trata-se do General Pedro Benga Lima “Foguetão” cujas relações com o seu subordinado NGONGUITO se confundiam com a relação entre pai e filho e saiam bem das fronteiras puramente castrenses invadindo a privacidade e as casas e famílias de ambos. Assim, sob o comando dos Generais Pedro Benga Lima “Foguetão” e de Augusto Luctok Liahuka “Wyio” (Inspector Geral e Inspector Geral Adjunto respectivamente) afirmou-se como um quadro militar prestável, tendo atingido o posto de Coronel na sequência de vários anos de serviço.


Entretanto, a Inspecção Geral das FAA dispensou os seus serviços e os do seu colega o Coronel Chliangombe, anos depois da chegada do General Sapilinha Sambalanga que substituiu o General Foguetão como Inspector Geral das FAA e NGONGUITO optou por fazer a sua formação académica na Universidade Católica de Angola que terminou com êxito e em tempo record.


Com a nomeação do General Geraldo Sachipengo Nunda ao cargo de Chefe de Estado Maior General das FAA e tendo Ngonguito sido seu oficial de inteligência no tempo da Guerra, nos anos 80, na Frente Sul, onde várias violentas ofensivas em direcção à Jamba foram travadas com êxito, foi nomeado para assumir um cargo operacional no Gabinete do Chefe do Estado Maior General das FAA ao lado do Tenente General José Morais Paulo então Director do Gabiente do Chefe do Estado Maior General das FAA onde trabalhou até aos últimos anos do consulado do General Nunda no topo da estrutura militar de Angola, período durante o qual foi promovido ao posto de Brigadeiro ou melhor de “General de Brigada” como ele próprio bem gostava de ser chamado.


NGONGUITO foi sempre um jovem “muito vivo”, jovial e amigos dos amigos. Parecia sempre valorizar mais os amigos que os seus próprios parentes. Inteligente, persistente e estudioso e que gostava de desfrutar o máximo da vida. Nunca se esqueceu que também era “Kinois”, ou melhor originário de Kinshasa onde viveu muitos anos e de que assimilou bem o que de melhor havia e soube associar isso à formação militar fundamentalmente Sul Africana e às várias outras formações e especializações pelo Mundo fora em que participou ao longo da sua brilhante carreira política e militar.


Que a Sua Alma descanse Em Paz no Esplendor da Luz Perpétua.

Que Deus Todo Poderoso e Misericordisoso o Tenha no Seu Reino Celeste.

ALMEIDA DUARTE SILVA CORREIA