Paris - A África do Sul lançou, esta quarta-feira, na Cidade do Cabo, a primeira fábrica que produzirá vacinas contra a Covid-19 em África, uma notícia revolucionária para um continente que apresenta taxas de vacinação na ordem dos 2%. Em entrevista à RFI, José Gama, analista angolano radicado na África do Sul realçou a importância deste passo para África.

Fonte: RFI

África é um dos continentes que mais sofre com a distribuição desigual de vacinas contra a Covid-19 e esta fábrica na África do Sul poderá vir a mudar este paradigma, conforme nos deu conta José Gama.

 

"A África, por via da África do Sul, mostrou a sua capacidade científica de dar resposta aos casos de Covid-19 porque presentemente a África, comparativamente aos outros continentes, apenas vacinou 2% da sua população e está numa fase da carência de vacinas", começou por defender o analista.

 

Para José Gama, esta fábrica sul-africana vai ajudar a reduzir as desigualdades no acesso à vacina de Covid-19, uma vez que "uma das prioridades da África do Sul, segundo anúncio das autoridades, é depois também exportar as vacinas para os países do continente".

 

O analista angolano referiu ainda que para além da Covid-19, a fábrica vai investigar tratamentos para outras doenças.


"Há perspectivas de que até 2025 ela possa vir a dar uma resposta adequada e não vai ficar sá pelas vacinas anti-covid, mas também para vacinas contra o cancro, tuberculose e hiv (sida), que será um desafio para o continente", explicou ainda José Gama.


Este projecto está orçado em 140 milhões e o objectivo principal é produzir uma vacina que depois será exportada para o mundo inteiro, segundo palavras de Patrick Soon-Shiong, milionário sul-africano, de origem chinesa que investiu na fábrica.

 

O principal investidor deste projecto nasceu na África do Sul, mas é descendente de pais chineses. Questionado pela RFI, José Gama defendeu que esta não é uma forma de a China exercer ainda mais a sua influência em África.

 

"Eu acho que há aqui uma relação sentimental em relação a este empresário porque ele também tem nacional sul-africana e, então, ele acaba por investir também no seu país. Não creio, assim, que seja uma forma de a China exercer a sua influência", salientou.

 

Depois, o analista recordou o facto da África do Sul ser um dos países do continente que mais acolhe chineses.

 

"Temos cerca de 200 mil chineses a viverem na África do Sul e já cá estão há mais de 50 anos, portanto, África do Sul é um dos raros países em que China não exerce uma interferência directa porque a influência chinesa já é uma influência local", rematou.

 

Segundo informações avançadas à imprensa pelo empresário e dono da fábrica, as primeiras vacinas serão produzidas ainda no decorrer de 2022 e as expectativas iniciais apontam para a produção de mil milhões de doses por ano até 2025.