Luanda - Não sou Católico; sou um protestante típico. Porém, acho que os ataques á igreja Católica, sobretudo aos Bispos em Angola, deveria nos preocupar.  Acusações de que bispos da igreja Católica ao fazer comentários sobre assuntos sociais teriam ultrapassado o seu território e que deveriam voltar para os púlpitos são tão antigas como a própria igreja. O grito de que os bispos deveriam dar ao César o que pertence a César é repetido pelo César — sobretudo quando os bispos fazem afirmações que irritam o César. Quando os líderes de confissões que adoram estar perto do poder louvam o César, afirmando que ele é o escolhido de Deus, nenhum dos comandantes de bandeira e de falange aparecem a desprezar estes líderes religiosos.

Fonte: Club-k.net


A igreja Católica é uma das mais antigas instituições religiosas no mundo que também é altamente complexa. Os bispos católicos são fiéis a Deus e o seu representante na terra, o Papa, residente no Vaticano, onde também viveu o São Pedro, primeiro Papa. Muitas das vezes isso incomoda os não católicos, sobretudo quando os bispos intervêm em assuntos locais. No continente Africano, na maioria dos países o poder político está concentrado numa elite que controla as redes do patrocínio — quem contrária esta rede é punido severamente, muitas das vezes até ostracizado. O que irrita é que os bispos não são abrangidos por esta teia.

 


No Zimbábue, Robert Mugabe, que nasceu e cresceu na igreja Católica, esteve numa luta permanente com os bispos, que não hesitavam em afirmar certas verdades que lhe incomodavam. O governo Zimbabweano encorajou o surgimento de várias confissões locais para contrariar o poderio da Igreja Católica. Nestas igrejas o Mugabe não parava de insultar os bispos Católicos, insistindo que eram lacaios dos brancos. Um dos grandes críticos de Mugabe foi o Arcebispo de Bulawayo, Pius Ncube. A um certo momento o Bispo Pius Ncube foi acusado de ser tribalista — que ele só criticava o governo de Mugabe por pertencer à etnia Ndebele. O Bispo emérito Pius Ncube foi insultado por vários apoiantes de Mugabe que sugeriam que ele deveria, também, formar um partido político em vez de usar a sua posição para criticar o governo.

 


No Malawi, o ditador Kamuzu Banda também não podia com os bispos Católicos. Em 1992, os bispos no Malawi escreveram uma carta a insistir que o sistema vigente era inaceitável; que o país tinha que introduzir o multipartidarismo para avançar. Na altura, houve gritos insistindo que os bispos estavam a fazer política, o que não era justo; os Bispos, segundo os seus críticos, deveriam permanecer nas igrejas e não gastar tanto tempo com assuntos que não lhes diziam respeito. No Quénia, onde os bispos Católicos sempre falaram de assuntos sociais, o então presidente Mwai Kibaki chamou o falecido Arcebispo Ndingi Mwana a Nzeki para lhe chamar atenção porque estava a intervir muito na política. O presidente Kibaki acusou o arcebispo e os seus colegas de estar a fazer política. No Quénia, houve um momento em que a imprensa estatal parecia estar a criticar mais a igreja católica — que não parava de criticar a corrupção e injustiças sociais — do que a oposição. Num país que estava altamente polarizado, os bispos Quenianos passaram a ser uma força que apaziguava os ânimos e insistia que a governação tinha que ser norteada pela ética e integridade. Um observador notou na altura que os bispos católicos apresentavam ao governo um grande desafio porque não é possível dar a um bispo um ministério governamental e lhe fazer calar.


No início das independências Africanas, houve padres católicos que despiram as batinas para envolverem-se na política. Os primeiros presidentes da República Centro Áfricana, Berthelmy Boganda e do Congo, Fulbert Youlou, foram padres Catolicos que optaram pela política partidária. Na América Latina, há o caso famoso do Padre Ernesto Cardenal Martinez que aliou-se aos Sandinistas e eventualmente passou a ser ministro da cultura; quando ele esteve na política o Vaticano suspendeu-o mas eventualmente o reabilitou.


A crítica que é feita ao envolvimento dos padres na política resulta de um profundo desconhecimento do Catolicismo. Para os Católicos, Deus está presente em tudo — nas almas, na política, na natureza. O dever de um católico é ajudar no enaltecimento de Deus protegendo a vida e o bem estar para os outros. Falar sobre os assuntos sociais, para os católicos, é uma obrigação. Claro que há capítulos repreensíveis na História da igreja; são os próprios Católicos que prontamente admitem que há muita coisa no passado que poderia ter sido feita de uma outra forma.


Em todo caso, há muita coisa da Igreja Católica que é louvável. A igreja Católica está por trás de muitas maravilhas da cultura Ocidental: educação, arquitetura, música, arte, Filosofia, Direito etc. No continente Africano, a igreja Católica está envolvida em muitos projectos positivos. A grande diferença da igreja Católica é que ajuda sem sempre chamar muita atenção para si. Quando se trata do bem estar da sociedade, os Católicos acreditam em gritar bem alto; muitas das vezes o mundo passa a ouvir os gritos, e o resultado tem beneficiado a humanidade.