Luanda - Polémica sobre o preservativo marcou a primeira parte da viagem, que o Papa quis centrar nas questões da pobreza e da paz no continente
O Papa Bento XVI reiterou ontem em Luanda, no final da visita de uma semana aos Camarões e Angola, o apelo aos líderes políticos do continente africano para que ponham os interesses dos cidadãos em primeiro lugar. E, já a bordo do avião a caminho do Vaticano, sublinhou ter ficado “impressionado com a cordialidade quase exuberante da alegria” do povo africano.
“Se me é permitido um último apelo, peço que a realização legítima das aspirações fundamentais dos mais necessitados seja a principal preocupação daqueles que desempenham cargos públicos”, afirmou, numa última intervenção em território angolano, ao lado do Presidente do país, José Eduardo dos Santos. “Os nossos corações não podem encontrar paz enquanto ainda houver irmãos e irmãs que sofrem com a falta de comida, de trabalho, de abrigo e outros bens fundamentais”, sublinhou, no último dia de visita a África, continente assolado pela pobreza.
A ideia do fim da corrupção nas esferas do poder político, assim como de partilha da riqueza do mundo com África, foi recorrente ao longo da primeira viagem africana de Bento XVI, que começou terça-feira nos Camarões e terminou domingo, após uma missa na periferia de Luanda com cerca de um milhão de pessoas.
Sete anos após o fim da guerra que assolou Angola, dois terços dos cidadãos deste país, riquíssimo em recursos naturais, vivem com menos do equivalente a dois dólares por dia. Há 30 anos no poder em Angola – um dos países mais corruptos do mundo, segundo a organização não governamental Transparency International –, Eduardo dos Santos disse ao Papa, na despedida, estar empenhado em levar o seu país no caminho de mais democracia e respeito pelos direitos humanos.
Durante a viagem, Bento XVI insistiu várias vezes no combate à corrupção, no fim das guerras em África e na ajuda da comunidade internacional ao continente. A polémica com as declarações que fez sobre o preservativo marcou também o debate sobre a viagem. Ainda no avião, quando se dirigia aos Camarões, o Papa afirmou que a sida “não se resolve com o preservativo” e que, pelo contrário, a sua utilização pode “agravar o problema”.
Ao regressar a Roma, onde chegou a meio da tarde, o Papa disse ter “rezado” pelas duas jovens angolanas que morreram, sábado, esmagadas pela multidão à entrada para o encontro de Bento XVI com a juventude. O Papa afirmou estar “profundamente tocado” por esta tragédia.
Fonte: Publico