Luanda - Antes da guerra eclodir quase apostei com meus filhos que a Rússia não invadiria o país dos cossacos. Quase apostei na esperança de que Putin conhecia bem seus vizinhos que são famosos por sua coragem, bravura, força e capacidades militares que foram decisivas na luta contra Napoleão Bonaparte e os exércitos alemães durante a II Guerra Mundial. Quase apostei na esperança de que Putin não compraria uma guerra de longa duração contra a Ucrânia que deixará a Rússia mais atrasada em relação aos EUA, China e Europa.

Fonte: Club-k.net

Quase apostei na esperança do diálogo por ser a arma mais potente para se ultrapassarem as diferenças, ainda que profundas. Porque temos memórias do tempo da Rússia czarista que com a Inglaterra, a Prússia e a Áustria entre setembro de 1814 e junho de 1815 se reuniram no chamado Congresso de Viena em defesa da ordem monárquica com a criação da Santa Aliança, uma espécie de OTAN dos dias de hoje. Afinal, se o cruzamento de interesses no passado foi possível, também tem hoje chances de prosperar o cruzamento de interesses entre a Rússia e o ocidente. Estão em causa valores superiores a qualquer interesse geoestratégico; os valores da vida humana e da humanidade que qualquer desvario de loucura pode apagar da face da terra através da guerra nuclear.

 

Infelizmente, errei porque não conhecia bem a natureza do povo russo que Garry Kasparov bem caracterizou ao falar de Putin ser igual a um escorpião. Numa história do escorpião com o sapo contada pelos turcos, mas, também, ser parte de contos da cultura umbundu (bantus), o que o embaixador russo em Angola desconhece.

 

Russos que em Angola doaram a guerra na patetice da raça, para impor uma cultura que todos angolanos negaram. Russos que em 1976 criaram o drama humano igual ao que está a acontecer na Ucrânia, com gente fugindo, andando só, abandonada, restando apenas o amor à terra e suas gentes.

 

Ao doarem a guerra na patetice da raça há também o cruzamento de histórias da guerra entre russos e angolanos que compatriotas das ex-FAPLA contaram a muitos de nós, como esta, onde estes “internacionalistas” ironizavam os angolanos dizendo: “vocês lutaram contra os portugueses para vossa independência. Mas, agora lutam entre vocês e se matam, enquanto nós ocupamos o vosso país”.

 

Afinal, esta verdade encerra a natureza cínica da hegemonia russa que não finge o facto de continuar a subjugar Angola. Basta olhar para arrogância do Senhor embaixador russo Vladimir Tararov quando se dirige para os angolanos que não pensam como ele, para se perceber que gostaria vê-los a agir como seus fantoches.

 

Não senhor embaixador, em Angola há gente livre com capacidade de escolher entre a liberdade e a submissão. Gente com descernimento de condenar as guerras da barbárie como aquela que está a ocorrer na Ucrânia. Gente culturalmente superior que enterrou a página da superioridade hegemónica no rio Lomba. Gente que quer viver em liberdade e irmandade com todos os povos do mundo amantes da paz, igualdade, direito, democracia e amor a vida do outro.

 

Finalmente, gente que se opõe à doação da guerra na patetice da raça por ser natureza hegemónica arrogante de uns e burrice de outros, nunca daqueles que lutam pela sua liberdade e pelo sentimento de pertença.

- OBRIGADO -